BRASIL: o fatídico 'Memorandum'...

A libertação (parcial) do sigilo de Estado de um documento da CIA classificado acabou por revelar-se um fatídico Memorandum sobre os crimes cometidos pela ditadura militar no Brasil link.  A sua leitura é 'obrigatória' para perceber as recentes evoluções da política brasileira.
 
Na verdade, no mesmo documento, incrimina-se 3 generais que exerceram sequencialmente o mais alto cargo politico brasileiro: Ernesto Geisel, o antecessor Emílio Garrastuzu Médici e o sucessor João Baptista Figueiredo.
 
Trata-se da confirmação (documental) daquilo que há muito tempo os democratas brasileiros têm afirmado sobre as dramáticas condições de violência que caracterizaram esses ‘anos de chumbo’.
 
Mais uma vez, e à posteriori, verifica-se a oportunidade política e informativa da ‘Comissão da Verdade’ que, em 2012, o governo da ex-presidente Dilma Rousseff , levou a efeito sobre um período alargado de violência que não se confina à ditadura militar.
 
Na verdade, para além da ditadura militar (1964 -1985) essa comissão também foi encarregada de analisar o período do ‘Estado Novo’ correspondente à ditadura de Getúlio Vargas (1937 e 1945). Trata-se de uma análise histórica e política necessária para a pacificação (reconciliação) da sociedade brasileira.
A estrutura militar tentou abortá-la, rejeitando-a liminarmente. Hoje já não sendo possível enveredar por este caminho desenrolam-se outras saídas. Os militares estão de volta à política sob a capa de um tal Jair Bolsonaro (um ex-militar) candidato assumido da extrema-direita (das casernas e das cavernas) às próximas eleições presidenciais.
 
O mais evidente indício público das manobras para um regresso dos militares à cena política foram as declarações do general Villas Boas (Chefe do Exército) tentando interferir no julgamento do ex-Presidente Lula da Silva pelo Supremo Tribunal de Justiça link.
Este aviso à navegação representará a ponta do iceberg de uma ‘conspiração’ que envolve amplamente as chefias militares.
 
A divulgação deste memorandum da CIA, agora desclassificado, introduz um novo dado concreto sobre um conjunto de atropelos – todos corruptivos - que estão em marcha no Brasil e vão desembocar na próxima eleição presidencial.
 
Hoje, para além do emaranhado e complexo processo do ‘Lava Jacto’ que parece envolver transversalmente o sistema político-partidário brasileiro e donde emanam fumos de uma perigosa ‘judicialização da política’, outras questões despontam e ensombram o horizonte democrático brasileiro.
A evolução da situação política brasileira não exclui a pretensão de uma direita camuflada e ardilosa que, no momento presente, passa por um eventual regresso dos militares ao poder, quer seja por golpe militar e/ou por interpostos títeres e lídimos serventuários. À 'judicialização' seria acrescentada a 'militarização' e adeus ao regime democrático.
 
Os brasileiros e brasileiras conhecem perfeitamente o percurso que partindo da desestabilização do regime desembocam na violência ditatorial.
 
Uma nova ditadura militar (ou uma versão fascizante e militarizada) estará na calha. As consequências - independentemente da onda 'justicialista' e das novas metodologias de tortura e eliminação física - não diferem das que as revelações do relatório da CIA vieram confirmar.  Seria bom que o terrível espectro de um novo ‘período de trevas’ não fosse abafado e afastado da agenda política e noticiosa.
 
É necessário que o fatídico memorandum da CIA avive a ‘memória histórica’ de um povo que atravessa um conturbado período da sua vida colectiva e o prepare para enfrentar o futuro.
 
 
PS – É verdadeiramente sintomático que os meios de comunicação nacionais tenham praticamente silenciado o conteúdo deste ‘memorandum’.

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