Até qualquer dia, João Fernandes
Chegado a casa, após um almoço com amigos, passei os olhos pelo Diário de Coimbra, o ritual habitual com que, muitas vezes, começo e termino a leitura, pela necrologia.
Já passava das 17 horas, e o João Fernandes, a essa hora, já
era cinza.
Era um sólido democrata e excelente amigo que conheci há
mais de cinquenta anos no exercício das minhas funções profissionais. Fui cedo seu
amigo e, mais do que isso, fui um admirador da sua integridade cívica, coerência
e generosidade.
Na farmácia que geria, onde era simples ajudante de
farmácia, o seu pequeno escritório era um centro de convívio por onde passaram
muitos figuras relevantes da democracia que ali, no seu convívio, semearam Abril.
Já era democrata antes do 25 de Abril e assim permaneceu até
aos 95 anos, a idade em que a morte o levou.
Sinto saudades desse ano que precedeu a democracia, mas
sinto, sobretudo, a perda de um amigo que durante mais de cinquenta anos foi
uma referência da ética republicana e da fraternidade.
Até qualquer dia, João Fernandes
Foto: Notícias de Coimbra.
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