João Soares (ex-presidente da Câmara de Lisboa no seu mural no Facebook
O artigo do senhor Almirante António Silva Ribeiro. Publicado no Expresso a 22 de Outubro. Que eu julgava ter publicado aqui no meu mural a 23 mas que pelos vistos falhou. Aqui fica como não poderia deixar de ser, transcrito na integra:
"Relações político-militares
Almirante António Silva Ribeiro
Ex-chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas
Ao desrespeitar militares em serviço, o ministro enfraquece
a sua própria autoridade e compromete a perceção pública sobre a relação entre
os líderes políticos e as Forças Armadas, que deve ser pautada por respeito
mútuo e cooperação.
(22 outubro 2024 07:03)
O incidente recente em que um ministro se terá descontrolado
emocionalmente e desrespeitado militares que impediram o seu acesso à placa de
estacionamento de aeronaves, no Aeródromo Militar do Figo Maduro, suscita uma
reflexão sobre os significados político e militar da lamentável situação, e a
sua contextualização no âmbito das relações político-militares.
Do ponto de vista político, o comportamento do ministro
reflete uma falta de compreensão da sua autoridade em relação às Forças Armadas
e das respetivas funções institucionais. O desrespeito aos militares que
cumpriam a sua função revela uma dificuldade em lidar com os limites impostos
pelo sistema de segurança, o que é paradoxal, visto que este existe para
garantir a proteção de todos, incluindo as autoridades políticas.
Além disso, o impacto político de um episódio como este não
se limita ao incidente em si. A postura do ministro pode prejudicar a confiança
pública nas instituições democráticas, uma vez que os cidadãos esperam das
autoridades políticas uma conduta exemplar. Ao desrespeitar militares em
serviço, o ministro enfraquece a sua própria autoridade e compromete a perceção
pública sobre a relação entre os líderes políticos e as Forças Armadas, que
deve ser pautada por respeito mútuo e cooperação.
Este incidente também levanta preocupações sobre o princípio
da separação de poderes e a tutela civil sobre as Forças Armadas. Nas
democracias, as relações político-militares devem ser sustentadas por uma clara
delimitação de funções, com os políticos a definir as políticas de defesa e os
militares a executá-las dentro dos limites da lei. Quando um ministro age de
forma impulsiva e tenta contornar essas normas coloca em risco o equilíbrio
essencial entre as autoridades civis e militares, enfraquecendo a base da
tutela civil sobre os militares.
Em termos mais amplos, o desrespeito pelas normas de
segurança militar por parte de uma autoridade política pode ter consequências
graves. As regras de acesso às áreas restritas, como a placa de estacionamento
de aeronaves militares, são estabelecidas para garantir a segurança de todos.
Quando um ministro tenta violar essas normas, a mensagem que transmite é a de
que certas figuras podem colocar-se acima da lei, o que enfraquece a
credibilidade do sistema de segurança e compromete a integridade das atividades
militares.
Sob a ótica militar, o episódio destaca a importância da
disciplina, da hierarquia e do respeito pelas regras de segurança. As Forças
Armadas, como instituição baseada em princípios de autoridade e disciplina, nas
suas atividades devem seguir rigorosamente os protocolos que garantem a
segurança de todos os envolvidos. Os militares, ao impedir o acesso do ministro
à área restrita do aeródromo, estavam a cumprir o seu dever de maneira correta
e responsável. No entanto, a atitude do ministro degrada aqueles princípios e
pode ter consequências negativas para a coesão e a eficácia das Forças Armadas.
A posição delicada em que os militares foram colocados
também é digna de nota. Ao serem desrespeitados por uma autoridade política,
enfrentaram o dilema entre cumprir o seu dever e manter a disciplina perante
uma afronta, ou responder de forma mais confrontativa. Esta atitude poderia ter
escalado o incidente para um conflito institucional, o que seria extremamente
grave e prejudicial para a democracia. No entanto, a postura disciplinada dos
militares mostrou a maturidade democrática e a resiliência das Forças Armadas
diante de pressões externas.
Em síntese, o incidente no Aeródromo Militar de Figo Maduro,
embora isolado e invulgar em Portugal, expõe questões críticas nas relações
entre civis e militares. Politicamente, revela uma falta de compreensão do
ministro sobre a sua autoridade e o modo de funcionamento das Forças Armadas.
Militarmente, destaca a importância da disciplina e do respeito pelas normas de
segurança, mesmo sob a pressão de autoridades políticas.
Para que as relações político-militares funcionem de maneira saudável numa democracia, é fundamental que ambos os lados compreendam as suas funções e atuem com respeito e responsabilidade mútuos. Quando isso não ocorre, fragiliza-se a defesa nacional e a confiança pública nas instituições."
Comentários