Coimbra - cidade limpa

O forasteiro distraído que passeie nos Olivais e deambule pela zona vê pessoas que ora se aproximam, ora se afastam, uma vezes lado a lado, outras em fila, em titubeante evolução, nos passeios, quando os há, ou na rua, competindo com os automóveis.

Parece uma zona de alcoólicos, sem firmeza no passo nem coerência no percurso. As pessoas dão pulos sem nexo, as mães empurram as crianças ou puxam-nas com violência, sem motivo aparente, e todos se deslocam num périplo esquisito, em exótica gincana.

Às vezes, pessoas com ar normal, raspam violentamente os sapatos no lancil do passeio, numa sanha vigorosa de quem o quer chanfrar. Outras procuram pedaços de terra que parecem querer arrotear substituindo o arado pelos sapatos.

Só quando a pituitária transmite a náusea, quando de si próprio emana a pestilência do odor e começa a sentir escorregar-lhe o chão, o viandante se dá conta dos excrementos que pontuam a área, do estado infecto em que se encontra o bairro, da imundície sem remédio a que está condenado.

O peão acidental é um perigo para a carpete de casa, um veículo de matérias fecais que lhe empestam o lar, uma vítima condenada a matar o ócio em deslocações à lavandaria e desinfecções frequentes da sua habitação.

Em Coimbra o número de cães aumenta assustadoramente. Tem ultrapassado o ritmo do preço da água e da taxa de saneamento. A cidade é já um imenso canil ao ar livre com casas cercadas e as pessoas conformadas com o fedor.