O desacidente de Camarate
O recorrente folhetim de Camarate voltou às páginas dos jornais e à preocupação dos deputados. Tem sido assim desde que Sá Carneiro, Snu Abecasis, Adelino Amaro da Costa e outros foram vítimas do desastre de Camarate.
Discute-se, desde então, se foi crime ou acidente. O único crime provado foi a incúria da investigação. Nada, absolutamente nada, de novo, apareceu agora. A última tentativa séria de provar uma das teses, a do crime, deve-se ao advogado Ricardo Sá Fernandes.
O bruxo que diz ter fabricado a bomba já o tinha afirmado várias vezes. Era voz corrente. A única diferença é ter agora dado uma entrevista formal. Nada de novo sob a roda do Sol. Apenas passou mais tempo.
Mas é interessante ver o ar compungido que sazonalmente compõem alguns parlamentares e uns dirigentes partidários. Até parece que o ar de gatos-pingados surge ao ritmo da comunicação social.
Avelino Ferreira Torres já disse na Televisão que sabe quem lhe matou o irmão e a revelação caiu em saco roto, como parecem ter caído as malfeitorias que o referido autarca fez no Marco de Canavezes.
A morte do padre Max e da estudante que o acompanhava nunca foram esclarecidas. Acontece que Ferreira Torres (o irmão do Avelino) foi morto por uma rajada de metralhadora, o que dificilmente se pode confundir com um acidente. Quanto ao padre Max, pouco interessou esclarecer o crime (até era de esquerda e o cónego Melo não gostava dele) mas foi um engenho explosivo que lhe puseram no carro, o que torna difícil arquivar o caso como acidente.
Claro que num caso está um primeiro-ministro e o ministro da Defesa, o que não é pouco. Mas quem assistiu às decisões das oito comissões parlamentares, declarando, sucessivamente, ora acidente, ora crime, não pode levar a sério a investigação que se avizinha nem o ar fúnebre que percorre os dirigentes partidários.
Completaram-se ontem 26 anos. Houve 8 comissões parlamentares. Crime ou acidente? Creio que estão empatadas: 4 – 4.
Por mim, já me dava por satisfeito saber o que é feito do caso do «Envelope 9» e quem tramou Ferro Rodrigues.
Comentários
Porque no nosso inconsciente é dificil de acreditar que um primeiro ministro morra de acidente.
Não tenha tantas certezas de quem tramou quem, penso que o senhor, com a idade que tem, devia saber que vivemos na selva...os culpados andam por aí.
O acidente de Camarate foi intensamente investigado pela justiça portuguesa, submetido a inúmeras comissões parlamentares, objecto de infindáveis relatórios de peritos nacionais e estrangeiros e, como sabemos, a tese do atentado não obteve qualquer sustentáculo que lhe desse pernas para caminhar até um julgamento.
Penso ainda outra coisa. O acidente de Camarate é um "bordão" do PSD para colmatar os seus maus períodos políticos. De tempos a tempos renasce, como Fenix, das cinzas. O que faz pensar...
A tentaiva de criação de um "Procurador Especial", como é exigido pelo PSD, é um grave entorse á justiça portuguesa, na medida em que vai interferir com anteriores decisões lavradas pelos tribunais e, ao criar um novo processo de base eminentemente política, viola a preceitos constitucionais, nomeadamente no que diz respeito à retroactividade das leis.
Neste momento político, quando se defende por todo o lado que os cidadãos devem estar sujeitos aos regimes ditos "gerais", a criação de um estatuto especial e particular que contemple exclusivamente os casos políticos, é uma excepção intolerável. Mais uma vez, os cidadãos vão constatar intenção de criar de regimes especiais para os titulares de cargos políticos quando a percepção é de que, nesta área, já existem privilégios a mais.
Tudo este "barulho de fundo" é levantado à volta das recentes declarações, a uma revista semanal, de um cidadão que se apresenta aos olhos dos portugueses como, no mínimo, desacreditado...
Adiante.
Cumpra-se a lei e, em consequência, acate-se a prescrição. O Estado de Direito é isto.
Em relação ao "caso de Camarate" tenha siso atentado ou acidente - não me é possível tomar qualquer partido - é melhor ficar entregue ao julgamento da história que, como sabemos, pode ser demorado mas é implacável.
Ao PSD e ao PS, em negociações para abordar e tentar solucionar este problema, pede-se que, apesar de todas as inconclusões, respeitem o sistema judicial português e o Estado de Direito.
Só isso!
Jorge Sampaio e companhia.
Não conhece as conversas do director da PJ (hoje honrado desembargador) para o jornalista do 24 horas?
Talvez não saiba quem era uma senhora de nome celeste cardona!
O facto de não se terem encontrado provas concludentes a favor da teoria do crime, não afasta, em hipótese a sua existência.
Simplesmente, seguindo parece, não se encontraram evidências...
Ou, como alguns corroboram, elas até existiam em abundância, mas não lhes foi dado relevo, nem na investigação pela polícia nem pelo Ministério Público. Porque, desde logo, era importante que se enveredasse pela teoria do acidente que levaria, como levou, a que o eventual crime ficasse impune...
Agora, quando alguém diz que fez a bomba não é levado a sério?
Pelo menos investigue-se, ou não?
Onde se lê:
"A tentaiva de criação de um "Procurador Especial", como é exigido pelo PSD, ..."
deve-se ler:
"A tentativa de criação de um "Procurador Especial", como é defendida pelo PS, ..."
E em Setúbal produziam armas?
E o Adelino da Costa queria meter lá as mãos?
Queimou-se?
E de caminho perdemos um primeiro-ministro e sua companhia e piloto de serviço?
E o MP merece alguma credibilidade? Sabem, sabiam, saberão alguma vez investigar alguma coisa?
Atropelaram (um taxista) uma criança em Lisboa e o MP arquivou o processo!
Que fará o assassinato intencioal de um Ministro da Defesa e o "acidente" de lá ir também o Primeiro-Ministro...
De facto, em Portugal nunca houve, nem irá haver esquerda. O mais parecido, foram interesses, e sempre politizados.
Diogo.