Cavaco, Sócrates e o XVIII Governo Constitucional
A tomada de posse do novo Governo foi a liturgia obrigatória onde os exegetas viram sinais que as pessoas comuns não vêem. Deve ter ficado da Bíblia este interdito para os leigos, impedidos de lerem os discursos sem recurso a exegetas encartados.
O primeiro-ministro disse que cumprirá o programa com que ganhou as eleições, apesar de depender mais das oposições do que da sua vontade. Não é preciso ser profeta para adivinhar que as oposições aproveitarão o momento mais adequado para o derrubarem e que Sócrates esticará a corda quando sentir bloqueada a sua governação. A espada de Dâmocles vai pairar sobre a cabeça de quem não dispões de maioria absoluta.
Com um presidente da República fiável as coisas poderiam ser, para o Governo e para o País, bem melhores. Mas que esperar de quem afirmou: «serei sempre um referencial de estabilidade», depois da trapalhada em que se envolveu e que influenciou três processos eleitorais?
O PR afirmou que será sempre "o presidente de Portugal inteiro", embora fosse preferível ser presidente de todos os portugueses, merecedor da confiança que só recuperará com a entrega ao poder judicial de Fernando Lima por ter abusado do seu nome junto de um jornal numa cabala contra o PS. Enquanto o não fizer, soa a falso a garantia de lealdade institucional que, ironicamente, sentiu necessidade de reiterar na cerimónia de posse.
Finalmente, o caderno de encargos que traçou ao Governo não me parece adequado pois o Executivo responde perante a Assembleia da República e não perante o PR, o que só pode resultar de uma leitura apressada da Constituição da República.
Comentários
A energia eólica é limpa? Quais são as consequências dos milhões de toneladas de alumínio a poluirem os terrenos?
(Pergunta do Cardeal Diabo)
Os 50% de renováveis pouco tem a ver com a eólica. Grande parte da produção de renováveis em Portugal é proveniente das barragens, muitas das quais construídas durante o Estado Novo.
Sempre fomos, e parece que continuamos a ser (pelo menos este governo) preconceituosos acerca da opção pela energia nuclear.Se o tivéssemos feito há uns anos (e.g. o Cavaco enquanto PM) julgo que estaríamos hoje melhor. Mas parece-me que ainda não é agora que se vai discutir a sério esta questão. É pena.