O anúncio de uma insondável homília…


No seguimento de mais uma desastrosa comunicação de Passos Coelho ao País que, face ao inevitável desastre, ensaiou toscamente mais uma fuga em frente, os cidadãos foram colhidos (tolhidos) pelo anúncio de uma outra palração, agora da lavra de Paulo Portas que, como foi anunciado, terá lugar amanhã, o putativo dia do "Senhor". link.

Não é prudente esperar grandes surpresas. A situação ‘incómoda’ deste pequeno parceiro da maioria é pública e notória. Vamos, provavelmente, assistir a um caricato ‘equilibrismo político’ tentando fazer o impossível. Isto é, Portas atolado neste pântano até ao pescoço vai experimentar sacudir a lama. Sabe que tem cada vez menos espaço para esses malabarismos. As feiras onde pensa poder continuar a vender gato por lebre estão como o mercado interno (ao qual pertencem), i. e., em maré vaza. Já não vivemos no reino do ilusionismo. O sofrimento é enorme e a acuidade para perceber o logro das posturas dúbias apura-se dia após dia.

O País começa a delimitar-se entre dois campos. Para usar uma linguagem arcaica, mas não tão distante como isso, a fractura estabeleceu-se entre ‘situacionistas’ e ‘oposicionistas’. Claro que no campo dos 'oposicionistas' existem profundas diferenças e clivagens mas, Paulo Portas - sendo um político experimentado - terá a exacta noção de que os ‘situacionistas’ são cada vez menos e perderam a capacidade de sobreviver. Ora, entalado por estas convulsões e contradições, aparecerá a terreiro a lançar farpas. Esta esperada configuração não bastará para, neste momento, bater com a porta. Todavia, terá o cuidade de deixar a porta de saída entreaberta. A comunicação de domingo servirá essencialmente para este fim. Mais uma vez Portas vai tentar mostrar que tendo perdido mais este round contra a ‘corrente gasparista’, continua a ser o elemento-chave da sobrevivência deste agonizante Governo. Só que a escolha está cada vez mais clara. Tudo se resume entre continuar a ser o ‘curador’ deste Governo ou o 'extreminador' desta insanidade neoliberal.

Portas, apostado em gerir o seu futuro político (e do seu partido), não vai falar para o País. Deverá advertir publicamente o ‘bonzo’ Gaspar passando por cima do cadáver (político) de Passos Coelho. E poderá ir mais além. Poderá numa mesma ‘cajadada’ ameaçar a ‘estratégia presidencial’. E fazer Cavaco Silva engolir o discurso proferido no 25 de Abril que, comprometendo as ‘nuances’ e a margem de manobra do CDS, foi levianamente aplaudido pela sua bancada parlamentar.

É expectável que na tarde de domingo o Governo fique mais próximo (ou à beira) da implosão. Todavia, o caminho de retirada de Portas está cada vez mais estreito. Tornou-se numa sinuosa vereda que não deixa de flanquear a montanha das suas enormes responsabilidades.

Sem querer fazer futurologia, domingo, Portas não devendo trazer nada de novo vai continuar a adensar, ainda mais, o momento político. É de momento a estratégia donde julga colher dividendos políticos imediatos. Mas o futuro (do Governo, de Portas, de Gaspar ou de Coelho) deixou de estar prisioneiro de taticismos (imediatos ou de médio prazo).

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