O Vaticano, o Diabo e o exorcismo
O diagnóstico diferencial não existe e é impossível ser
estabelecido por médicos porque as moléstias da alma são males cuja cura resiste
aos fármacos e só cede perante orações apropriadas, sob a ameaça do crucifixo e
com o denodo de um presbítero encartado.
O número de endemoninhados recuou com a alfabetização, a
alimentação equilibrada e a ciência, mas o Diabo, fonte de receita eclesiástica,
nunca deixou de supliciar as almas pias e de exigir o recurso ao exorcismo,
único demonífugo de efeitos comprovados.
Não admira, pois, que em épocas de desespero, com o presente
negro e o futuro incerto, os demónios adormecidos venham desafiar a sanidade de
um povo que ainda oferece a bilha de azeite a um santo pela cura de um parente
ou o pé de porco pela de uma ovelha estropiada.
O bispo de Bragança, com cheiro para o negócio, já disse que
se trata de um problema atual e que o bispo diocesano é quem tem habilitações
para exorcizar. Na entrevista de hoje, ao DN, parece ter algumas dúvidas, que
logo se transformam em certezas, quando os bruxos e ritos mágicos competem com
a Igreja católica na clientela dos possessos.
O Papa fez, no Vaticano, o número da imposição das mãos e os
esgares do deficiente lançaram a superstição entre os fregueses que hesitam
entre a fé e a ciência. O Vaticano confirmou que «o Papa rezou sobre o homem
possesso», resumindo nesta curta frase o diagnóstico e a terapêutica.
Em Portugal, com exceção do padre Humberto Gama a quem a
Igreja retirou o alvará, sem conseguir fechar-lhe os consultórios de Fátima e
Mirandela, o mais experiente exorcista é o padre Duarte Lara, da diocese de
Lamego, com cerca de 300 exorcismos e – segundo ele – com tendência para o
aumento de casos de possessão demoníaca.
O exorcismo é uma celebração litúrgica, autorizada e
praticada pela Igreja católica, com o objetivo de libertar as pessoas possuídas
por forças demoníacas.
O número papal, já referido, foi considerado exorcismo pelo
padre Gabriele Amorth, o exorcista oficial do Vaticano, considerado a maior
autoridade mundial no ramo, diretor de cursos da especialidade no pontificado
de Bento XVI. Agora, com o Papa Francisco, o porta-voz da Santa Sé, padre
Lombardi, negou o exorcismo da Praça de S. Pedro, dizendo que o Papa se tinha
limitado a «rezar sobre o homem possesso».
Independentemente da facilidade com que os dois sacerdotes
fizeram o diagnóstico de «possesso», estamos perante duas escolas de exorcismo
que se digladiam. E o Diabo, na sua imensa sabedoria, continuará a atacar os
crentes e a temer os ateus.
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