Um ‘inorgânico’ vice…
Tornou-se notório que o ‘alargado entendimento’ que se teceu à volta da última crise entre a maioria governamental desavinda e o Presidente da República foi um ardiloso e saloio ‘arranjo’ para conservar o poder a qualquer preço.
Nada de substancial mudou nas circunstâncias que desembocaram na crise interna da coligação. Os erros permanecem ou, se calhar, acentuaram-se.
Nada indica aos portugueses que as desproporcionadas e abruptas medidas de austeridade que lançaram o País num beco sem saída com a destruição maciça do tecido económico, o disparar de desemprego para níveis ameaçadores da coesão social e a incapacidade de – apesar da dureza das medidas – consigam equilibrar as contas públicas – objectivo máximo do ‘ajustamento’, tenha um novo rumo.
O anúncio – pelo recauchutado Governo - de um novo ‘ciclo de investimento e crescimento’ é mais um dos logros com que esta maioria prossegue tenta iludir os portugueses.
De facto, de palpáveis, só o recorrente anúncio de mais e gravosas medidas de austeridade (a volta de uma escabrosa e iníqua ‘Reforma do Estado’) que, se não forem travadas pelo Tribunal Constitucional, lançarão o País numa situação política de ‘ingovernabilidade’ e de ruptura económica e social.
E este é o sinal que ontem a nova lei orgânica deste Governo vem atribuir à recente remodelação link e que é absolutamente esclarecedor sobre o papel do vice-primeiro-ministro Paulo Portas personagem que tem sido apresentado pela direita como a marca de ‘confiança’ de um novo ciclo de governação.
Afinal a lei orgânica nominalmente atribui-lhe o cargo de vice-primeiro-ministro mas consagra-lhe as competências de ‘ministro sem pasta’ vivendo de ‘delegações’ avulsas da presidência do conselho de Ministros. Para usar uma terminologia própria desta época estival, em que o País literalmente arde, Portas vai ocupar-se dos rescaldos dos diferentes incêndios ateados pela actual governação. Será por assim dizer um ‘bombeiro rescaldador’ das políticas incendiárias do XIX Governo Constitucional. E aceita esta situação porque não tem a frontalidade e a coragem para assumir-se como um banal e volúvel ‘respaldador’ das desgraças que se adivinham e anunciam…
Na verdade, Portas nas suas congeminações político-partidárias, deve saber que a vacuidade das funções que lhe foram atribuídas, depois do que foi publicamente propagandeado, não é um álibi, nem conseguirão ilibar as pesadas responsabilidades que recentemente aceitou partilhar com Passos Coelho. São, antes de mais, a indisfarçável manifestação da profunda e desnorteada deriva do actual Governo.
Espantosamente, o País observa que, num mês, voltam a conjugar-se os ingredientes para atear nova e insanável crise interna do Governo.
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O povo é obrigado a assistir a um espetáculo indecoroso e, coercivamente, pagar bilhete.