Momento zen de segunda_18_11-2013
Mal refeito das 4 páginas da entrevista de João César das
Neves (JCN), com a digestão ainda por fazer, cai-me no regaço, desprendendo-se
da NET, a homilia da segunda-feira, subordinada ao tema «Ano
da Fé».
A homilia começa
por esta exultação pia: «Não há felicidade maior do que saber que Deus,
o Deus supremo, sublime, transcendente, que fez o céu e a terra, se entregou à
morte para me salvar. A mim pessoalmente».
JCN não calcula os inimigos que, com tal denúncia, arranja para
o Deus dele.
Confessa, a seguir, que «Ele está dependurado por minha
causa» o que, em boa verdade, muitos, que não conhecem Deus mas conhecem JCN,
hão de considerar que é bem feito. Num gesto de narcisismo e de autocrítica, JCN
lembra aos incréus que «Nas paredes das salas, nas frontarias das igrejas, nos
quadros dos museus, até no meu peito, em todo o lado a imagem da cruz lembra
que Aquele ali, coberto de sangue, foi condenado à morte por minha causa».
Sempre achei que, num país laico, a profusão de cruzes era
um abuso mas o catecúmeno delira com a abundância dos instrumentos de tortura.
Eu abomino o sofrimento, o meu e o dos outros, sou contra a pena de morte, mas não
absolvo quem morre para salvar JCN.
Depois de perorar sobre a morte e outros sustos com que nas
aldeias os padres incutiam a fé, JCN, em transe místico e delírio pio, afirma
que «a morte não é só um justo castigo dos nossos males, mas também um alívio
terapêutico dos mesmos males». Podia aliviar-se de vez e aliviar-nos, mas
preferiu a autocrítica, mantendo-se vivo na U. Católica e no Banco de Portugal,
confessando que «Se tirar a máscara de respeitabilidade e elegância, se
esquecer as justificações retóricas e os enganos convenientes, se for ao fundo
das minhas razões, vejo com clareza que um juiz justo e imparcial teria de me
condenar». JCN sabe bem o que faz e o que merece. Se Deus existisse…
Na pungência do desvario místico, julgando que os Cristos
dependurados das cruzes, e bem crucificados, não tiram os olhos dele, acaba por
afirmar o que todos sabemos dele:
«Eu, no medíocre quotidiano, continuo a mesma mesquinha
criatura que sempre fui».
E lá continua a homilia, na obsessão da cruz, na adoração do
crucificado, convencido de que está lá pendurado por causa dele, JCN, e que não
se vai embora, «por grandes que sejam os meus crimes», desconhecendo que o
crucifixo só baqueia se for maior a força da gravidade do que a resistência do
prego que o segura.
Comentários
Poucos portugueses terão dúvidas sobra a tal 'máscara' que JCN refere e o têm guindado a recentemente aparecer nos media como um intransigente defensor da pobreza 'libertadora'.
Falta -como JCN escreve - um juízo ' justo e imparcial' para o avaliar. Coisa que deveria existir cá [na terra] mas que o piedoso protagonista de uma insólita autocrítica remete para aquilo que ele subentende ser o 'além'.
Um dia JCN - se as suas devotas ocupações o permitirem - deverá explicar porque razão, no actual momento, parece não teme o juízo dos Homens. Uma das razões poderá ser adiantada: perdeu o 'medo ao ridículo'...
Coincidimos na análise.