O cerco …

"Aqueles a quem devemos o dinheiro querem saber se há um compromisso de médio e de longo prazo do país. Quer dizer, querem ter a noção se vale a pena emprestarem-nos mais dinheiro uma vez que nós nos comprometemos a pagar aquilo que lhes devemos", proclamou, ontem, Passos Coelho. link

Os portugueses já tinham indicações mais do que claras de que este Governo assumiu, em 2011, a tarefa de ser porta-voz dos ‘mercados’, logo, o representante permanente, em Lisboa, daquilo a que nebulosamente chamam os nossos credores. Todavia não supunham que a desfaçatez chegasse tão longe e que se transformassem em directos inquiridores das (boas ou más) intenções dos portugueses, partidos políticos incluídos.

Aliás, com as voltas que o Mundo tem dado desde o início da crise financeira, hoje, pouco sabemos acerca da identidade e ‘qualidade’ desses credores. Provavelmente, um substancial lote deles reside cá dentro. Integram o sistema financeiro nacional que há mais de 3 anos andamos a 'salvar'. link
O facto de este Governo aparecer a deslindar publicamente as preocupações e as intenções dos mercados é revelador da grande proximidade (promiscuidade) vivida entre credores e devedores.

Passos Coelho, voltou a carga apelando a um ‘compromisso histórico’ com o PS. Não para salvar os portugueses que, desde há bastante tempo, vislumbram a solução (renegociação da dívida e do memorando) mas para caucionar a política governamental que encetou – desde Julho de 2011 – e se afundou numa deriva austeritária e autista. O memorando de entendimento, assinado em 2011, sofreu pelo caminho vários entorses e perversões – o maior deles terá sido o brutal empobrecimento que os ‘resgatadores’ e o Governo acordaram como ‘cura’ para o País - que consubstanciam dramáticas e drásticas opções políticas (subscritas por esta maioria governamental sem mandato para tal).

Apelar a um ‘compromisso’ nesta altura do campeonato, i. e., depois de uma longa travessia errática e solitária é um convite pouco sério em termos políticos e só pode ser encarada como uma desesperada tentativa de legitimação ‘à posteriori’ dos desmandos cometidos. Ou, então, estamos a assistir a uma envergonhada constatação de que o falhanço das políticas tentadas conduziu inevitavelmente à incapacidade política de continuar a governar. Passos terá finalmente constatado que a maioria 'não chega'...

O pior que poderia acontecer ao País seria engendrar um arranjo artificial (à semelhança do que já foi experimentado na ‘crise das cagarras’) à volta de uma lunática ‘libertação do cerco dos credores’ e, deste modo, ‘destruir’ toda a oposição e eliminar qualquer espaço para que se possa vir a afirmar uma alternativa política. Todavia, o desenrolar da crise tem-se encarregado de fazer emergir, dia a dia, o monumental erro onde nos metemos e paulatina e dolorosamente os portugueses estão a ‘construir’ uma outra solução que dê sentido e rumo aos sacrifícios já passados. É isto que está por detrás dos lancinantes apelos de Passos Coelho.

Com o aproximar do fim da legislatura os gestos de desespero desta maioria vão tornar-se um enfado quotidiano. Até que o tempo e a tolerância acabem...

Comentários

Agostinho disse…
O senhor primeiro-ministro anda muito preocupado com aquilo que lhe pode vir a acontecer. Para já aparenta um envelhecimento acentuado, calvíce e o porte curvado. Meteu-se numa empreitada para a qual não tem estaleca e a cobrança é implacável. Chegou ao poder baseado em mentiras e isso tem um peso enorme. Que moral tem para apelar ao consenso insistindo em políticas de destruição da sociedade e do país. Vendeu a alma ao diabo?

Afinal, quem são os mercados? É-nos apresentada como sendo uma entidade abstrata, distante, inalcançável. Poderia ser no mínimo interessante e surpreendente saber-se a que bolsos vai parar o dinheiro que está a ser sacado à maioria dos portugueses (não a todos, como se sabe, também aqui há uns que são mais iguais do que outros.
Há probabilidade de se estar a pagar dívida a gente indigna, cadastrada, e outra que anda por aí à solta, nomeadamente à equipa que snifou a coca do BPN e BPP? Penso que sim. Somos duas vezes roubados.
Agostinho disse…
O senhor primeiro-ministro anda muito preocupado com aquilo que lhe pode vir a acontecer. Para já aparenta um envelhecimento acentuado, calvíce e o porte curvado. Meteu-se numa empreitada para a qual não tem estaleca e a cobrança é implacável. Chegou ao poder baseado em mentiras e isso tem um peso enorme. Que moral tem para apelar ao consenso insistindo em políticas de destruição da sociedade e do país. Vendeu a alma ao diabo?

Afinal, quem são os mercados? É-nos apresentada como sendo uma entidade abstrata, distante, inalcançável. Poderia ser no mínimo interessante e surpreendente saber-se a que bolsos vai parar o dinheiro que está a ser sacado à maioria dos portugueses (não a todos, como se sabe, também aqui há uns que são mais iguais do que outros.
Há probabilidade de se estar a pagar dívida a gente indigna, cadastrada, e outra que anda por aí à solta, nomeadamente à equipa que snifou a coca do BPN e BPP? Penso que sim. Somos duas vezes roubados.

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