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A mostrar mensagens de janeiro, 2014

UCRÂNIA: enigmas…

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Nos últimos tempos a situação na Ucrânia parece ter caído num impasse. A mais recente notícia diz respeito à intromissão dos militares na instável situação política com um apelo à intervenção do contestado presidente Viktor Ianukovitch para “ tomar  medidas de emergência, no âmbito da actual legislação, para estabilizar a  situação no país ”. Uma linguagem de caserna sobejamente conhecida pelo facto de ser, muitas vezes, o prenúncio de ‘soluções bélicas’, um expedito caminho para soluções ditatoriais.   Da sandwich criada internamente num país heterogéneo e dividido à volta de uma dicotómica disputa sobre o lado que em que poderá ser estabelecida a ‘dependência’, i. e., se a alienação deverá ser feita em favor da Rússia ou da UE , restará pouca margem de manobra. Neste momento, o espaço político favorece todo o tipo de nacionalismos e poderá interessar explorar sentimentos ‘patrióticos’ (Ucrânia também significa ‘pátria’) para lançar a população contra a Rússia, co

As praxes e as praxes violentas

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Aventar Se as pessoa pensassem como se opuseram os fazendeiros à abolição do esclavagismo, não estranhariam tanto a defesa das praxes. Se soubessem como o Antigo Testamento defende que se tomem os estrangeiros como escravos e o pai possa vender as filhas (não os filhos), não se surpreenderiam que tantos se envolvessem na defesa dessas tradições. Se se lembrassem como os muçulmanos defendem o direito de posse sobre as mulheres, não se admirariam dos suicidas que combatem essa heresia da igualdade de género. Agostinho de Hipona, conhecido por Santo Agostinho, argumentava que se a tortura era adequada para aqueles que violavam as leis dos homens, era-o ainda mais para aqueles que violavam a lei de Deus. Foi difícil erradicá-la dos códigos penais e ainda se pratica. A tradição, por mais estúpida e cruel, por mais recente e ignóbil, tem, só por si, o valor que a inércia intelectual lhe confere. Associações de estudantes, partidos políticos de direita e até nostálgicos da juven

Factos e documentos

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A Lourinhã e o Carnaval trapalhão numa zona de tradições folionas (Crónica)

Quando cheguei à Lourinhã, no dia 1 de outubro de 1963, hospedei-me no Restaurante Moderno, uma pensão excelente onde a D. Elvira me acolheu com um desvelo que, a esta distância, ainda me enternece. Pagava 750$00 mensais pela pensão completa, dos 1753$00 líquidos que recebia, incluída a gratificação de 141$00, de delegado escolar. Fui recebido com cordialidade e muitos queriam conhecer o jovem professor de 20 anos que acabava de chegar a um concelho onde, no ensino primário, só havia professoras. O padre Escudeiro, diretor do Externato D. Lourenço, propriedade da diocese de Lisboa, rejubilou quando, a uma pergunta sua, lhe disse que era beirão, o que o levou a gabar os beirões, muito devotos. Tendo-lhe dito que eu não era, logo assumiu que, pelo menos, era boa pessoa. Tivemos uma boa relação que o azedume pelo meu anticlericalismo não quebrou. A notária ofereceu logo a sua bicicleta para eu me deslocar à praia da Areia Branca, a três km de distância. A Manuela Leal que em miúda g

Os tribunais plenários e a impunidade – Não Apaguem a Memória

Acabada a guerra que destruiu as ambições de Hitler e Mussolini, entenderam os aliados que as ditaduras fascistas da Península Ibérica podiam continuar como reserva ecológica dos sistemas totalitários. A Inglaterra garantira acabar com ditaduras mas a necessidade de reconstrução esqueceu a promessa. A Península Ibérica manteve um dos maiores genocidas da História, Francisco Franco, apoiado pelo clero com  a bênção do Vaticano, até morrer bem ungido e comungado. Em Portugal, a tirania não atingiu a dimensão espanhola mas teve todos os ingredientes e os mesmos apoios. A tortura, o assassinato, a denúncia, o degredo, a violação da correspondência, a prisão sem culpa formada, a censura dos livros e jornais, a invasão domiciliar, a demissão dos opositores, tudo isso se praticou, mas em menor escala. Para fingir legalidade a Pide tinha uma secção denominada Tribunais Plenários onde os pides julgadores eram juízes de carreira e de cujas sentenças havia recurso para a secção criminal do Su

O sangue de João Paulo II, a publicidade e a santidade

Os jornais anunciam o roubo «de valor incalculável» de uma relíquia. A polícia italiana lançou uma formidável operação, com a ajuda de cães treinados, para encontrar o frasco roubado com sangue de João Paulo II , com uma cruz de um igreja medieval. Só há, em todo o mundo, três frascos com sangue de João Paulo II, papa a canonizar em abril, momento em que a raridade da relíquia atingirá valores incalculáveis. A imprensa é omissa quanto ao treino dos cães que ajudam a polícia, sem dizer se foram adestrados a descobrir frascos, sangue ou cruzes. De qualquer modo espera-se que uma relíquia tão valiosa seja recuperada das mãos dos ladrões. Há outros que precisam dela para as rotas do turismo pio junto de um amplo recipiente para o óbolo. E não correm riscos. Que morbidez é essa que faz sangrar um papa para alimentar o mercado das relíquias? Se a moleza da fé embota a razão, por que motivo não lhe tiraram uma dose maior para baixar o preço? Na bolsa da fé, como na de outros valores, a es

Os independentes e a Câmara do Porto

A renúncia de Daniel Bessa à presidência da Assembleia Municipal do Porto constitui um grave revés para a euforia que a vitória do independente Rui Moreira, recusado pelo PSD, constituiu. Podíamos estar agora a condenar um partido ou coligação pelo comportamento de um elenco que teve como principal desígnio a derrota dos partidos sob o pretexto do amor à cidade do Porto. Assim, estamos sem culpados. Os independentes não têm pecados nem contas a prestar. Rui Rio, padrinho de Rui Moreira, parecia ser o avalista do albergue espanhol. É natural que se remeta ao silêncio sobre o município onde deixou o sucessor designado a ajudar  a sua promoção política. O princípio do fim de uma miragem atingiu em cheio a Câmara do Porto. Pela primeira vez não esteve presente ninguém da mesa da assembleia municipal do Porto numa conferência de líderes. O que parecia uma plêiade de autarcas resume-se à mão cheia de nada. O PS embarcou na coligação com a bênção de Seguro. Espero que levem o barco at

28 de janeiro – efemérides

1908 – Foram presos os republicanos Afonso Costa, Egas Moniz, João Chagas e António José de Almeida, e o chefe da Carbonária, Luz de Almeida. O regicídio veio quatro dias depois. Diz-se que a rainha D. Amélia, quando o ditador João Franco falava do que os regicidas fizeram, terá dito: «o que você fez». As ditaduras só terminam pela violência e a ditadura de João Franco teve a conivência de D. Carlos. 1924 – Morre Teófilo Braga, escritor, político, filólogo, professor, literato, militante republicano, primeiro presidente do Governo Provisório da I República e segundo Presidente da República Portuguesa. 1935 – A Islândia despenaliza o aborto. Foi o primeiro país do mundo a recusar a aplicação de penas sobre a IVG. Portugal demoraria ainda quase meio século para a primeira e tímida lei, com os votos contra do PSD e do CDS, salvo honrosas exceções.

Recordando a notável jornalista Oriana Fallaci

Em 2005, um juiz italiano pretendeu julgar Oriana Fallaci, notável jornalista, que vivia então em Nona York, por difamação do Islão, para gáudio dos islamitas, em geral, e dos mullahs, em  particular. O juiz acusou o seu livro «A força da razão», de 2004, de incitamento ao ódio religioso pois a autora escreveu que o islão «semeia o ódio no lugar do amor e escravidão no lugar da liberdade». O juiz António Grasso, de Bérgamo, considerou que algumas palavras da jornalista eram «sem dúvida ofensivas para o islão e para os que praticam essa fé». O juiz tinha razão. Eu, que li o livro, apurei que Oriana Fallaci ofendeu o Islão. Conta a forma demente como a mulher é tratada nos países islâmicos, fala do ódio que o Corão prega, reproduz os abjetos preceitos e corrobora tudo o que sabemos sobre o desprezo do islão pelas liberdades essenciais e pelos direitos sagrados da democracia. Porventura o islão não ofende a razão e a liberdade? Os clérigos muçulmanos aceitam renunciar à pena de mo

As praxes e a tradição

As associações de estudantes estão contra o fim das praxes, tal como os carteiristas, se lhes dessem guarida mediática, estariam contra a proibição de assaltos. Foram precisas várias mortes, no que pareceu ser um ritual iniciático de acesso ao sinédrio das praxes, para que a opinião pública e a comunicação social lhes dessem a merecida atenção e a inexorável reprovação. As autoridades académicas e policiais devem estar à altura da tragédia que matou jovens na praia do Meco. Só a dimensão foi maior do que acontece anualmente e mais débil a cumplicidade que afastou do espaço mediático graves incidentes de outros anos.   Em primeiro lugar ninguém pode ser juiz em causa própria. As praxes não podem ser uma reminiscência do foro académico que, por razões de classe, tornava inimputáveis os estudantes. Não podem eximir-se ao escrutínio da opinião pública, à ação da polícia e ao veredito dos tribunais. Quem viu as cenas da RTP, filmadas com autorização de vítimas e algozes, em cenas de u

Carlos Silva e Aníbal Silva

Carlos Silva, secretário-geral da UGT está para os sindicatos como Passos Coelho para o Governo ou Cavaco Silva para a presidência da República: são erros de casting. No caso do sindicalismo é menos grave, porque a natureza tem horror ao vazio, mas na política a situação é dramática, porque a Constituição impõe prazos. Cavaco passou à tangente a fasquia dos 50% dos votos expressos, a revelar o receio dos eleitores, mas Carlos Silva foi eleito com 89% dos votos. O primeiro é responsável pelo estado a que o país chegou. O líder da UGT limita-se a presidir à comissão liquidatária da central sindical que vai fazendo haraquíri.

PRAXE: ‘Morte que mataste lira’…

A ‘ praxe ’ entrou na ordem do dia. Não querendo fazer a história desta recorrente ‘tradição académica’ (chamemos-lhe assim), são incontornáveis as questões que estas ‘cerimónias’ levantam e que se agudizaram nos dias que correm. Um importante relatório da AR publicado em 2008 (Comissão Parlamentar de Educação e Ciência) ganhou foros de relevante actualidade e merece ser revisitado.  Deixemo-nos de subterfúgios. A ‘praxe’ tal como é possível observar à luz de uma percepção sociológica moderna não assenta nem representa qualquer tipo de ‘integração’ dos novos alunos do ensino superior na instituição universitária e, mais concretamente, nesta fase da vida académica. Se essa fosse a sua intenção a oportunidade seria outra e ocorreria na entrada para ensino preparatório e/ou secundário. Porque na realidade e em termos formais e abstractos será difícil distinguir [apenas circunscritos ao grau de ensino, à faixa etária, ou ‘tradicionais/históricas’ motivações] substanciais difer

A Tunísia, a Espanha e os preconceitos pios

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A nova Constituição tunisina, salpicada com referências à religião, escrita em «nome de  Deus clemente e misericordioso», assusta quem conhece o deus autóctone e a identidade árabe-muçulmana de que se reclama. No entanto, é das mais avançadas e inovadoras do mundo árabe no que se refere aos direitos da mulher e à liberdade religiosa. A aprovação, prevista para finais de 2012, só agora irá ter lugar, depois do compromisso difícil e das enormes tensões na discussão de 146 artigos da Lei Fundamental. Para já, é a única que assegura a igualdade entre homens e mulheres e a liberdade de consciência e de culto, em todo o mundo árabe. Esperemos que a consensualização entre islamitas, com maioria relativa, e laicos, abra uma janela de esperança aos direitos humanos e seja a flor que desabroche nos jardins da sonhada primavera árabe. Em Espanha, o Opus Dei e o franquismo, unidos desde a guerra civil, tomaram o poder, ao colo do PP, e preparam a desforra com o rancor de décadas. Pretendem o

A extrema benevolência de 20% dos telespetadores

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O Panteão e o sentido de Estado

Este não é o meu Panteão e deixará de ser nacional para se tornar um albergue espanhol para defuntos de estimação. Quanto aos escritores, faltando grandes vultos, sendo os mais gritantes os de Saramago e Pessoa, nada há a objetar. O general Humberto Delgado, presidente a quem a ditadura falsificou os resultados eleitorais, e depois assassinou, é racional. Manuel de Arriaga era inevitável, assim como Teófilo Braga. Carmona e Sidónio Pais eram dois ditadores embora o segundo não repugne tanto por ter sido assassinado no exercício de funções. Não me repugnaria que Sá Carneiro, por idêntica razão, com a vantagem de ser democrata, ali fosse parar. Os heróis do 5 de Outubro continuam falhas graves e os do 25 de Abril, a seu tempo, não poderiam ser esquecidos, mas abriu-se o precedente grave com Amália Rodrigues. Foi a melhor voz do tempo de todos nós, mas Maria Callas, Édith Piaf ou Pavarotti não foram nem serão ‘panteonizados’ nos seus países. Eusébio foi um exemplo de popularidade

24 de janeiro

1984 – O Governo português aprova a proposta de lei para a despenalização do aborto. Foi há 30 anos, quase dez depois do 25 de Abril, que pela primeira vez foi legalmente permitida a I.V.G. nos casos de violação, malformação do feto e perigo de vida da mãe. Ainda andam por aí os que votaram contra e as pessoas que exibiam autocolantes, com frases terroristas, contra o avanço civilizacional que a lei consagrava. Um ato de saúde materna era encarado como crime por partidos onde se distinguiram honrosas exceções que a memória guarda. Antes, houve tentativas falhadas, graças aos que invocavam a vontade de um deus que não lhes passou procuração. Há uma estranha maldição que nos remete para o preconceito atávico e a hipocrisia pia.

Deambulações do custe o que custar…

 Os resultados da execução orçamental de 2013 levantam muitas questões mas 3 delas pertinentes: - O OE-2014 não foi ‘ construído ’ a partir de uma base errada (i.e. para chegar aos 4% de défice em 2014 o Governo não partiu de um défice de 5,5% em 2013)? - Não terá este Governo um ‘ comportamento desviante ’ (nunca acertando no défice ora por defeito, ora por excesso, mas errando sempre)? - Será necessário alguma outra prova além do défice obtido em 2013 para demonstrar que o Governo está apostado em ‘ ir para além do troika ’?

Glória a S. Josemaria Escrivá de Balaguer

Em 2002, João Paulo II, emigrante polaco residente no Vaticano, solteiro, de 82 anos de idade, papa de profissão e estado civil, cumpria a tarefa de criar bispos e cardeais e tinha a obsessão de fabricar beatos e santos. Pelava-se por milagres e honrava os autores com a elevação à santidade, sem prejuízo da fixação em Maria e a adoração por virgens que a idade e o múnus avivaram. Mas os santos da igreja católica sugerem empregados acomodados. Fazem um milagre para chegarem a beatos, outro para serem promovidos ao posto seguinte e abandonam o ramo. Quando são candidatos, praticam a intercessão que lhes rogam mas desistem da vocação milagreira logo que alcançam a santidade. Quando se julgavam esgotadas as vagas, João Paulo II rubricou alvarás de santo a largas centenas, criados em nítida concorrência com os anteriores. Alguns destes fecharam a porta, que é como quem diz, foram apeados das peanhas onde enegreciam com o fumo das velas, se enchiam de fungos com a humidade ou se deixavam

ESTADO DE EMERGÊNCIA

O governo não se cansa de repetir que estamos em estado de emergência, com isso pretendendo justificar todos os seus crimes, as suas arbitrariedades, os seus atentados contra a Constituição (ah! Se não houvesse aquele maldito Tribunal Constitucional, que não quer obedecer à patroa Merkel…), os seus ataques ao povo português, particularmente aos trabalhadores e aos velhos reformados (ah!os reformados! Se se pudesse exterminá-los, como fez um antecessor da dita Merkel aos judeus…), as suas repetidas e aleivosas mentiras, etc.  Ora Portugal está realmente em estado de emergência. Mas a verdadeira emergência é outra. A emergência é que há milhares de portugueses a passar fome, e mesmo a morrer de fome. A emergência é que há milhares de portugueses sem teto, porque foram postos fora da casa em que habitavam e não têm dinheiro para arranjar outra. A emergência é haver milhares de crianças com fome, cujos pais não teem dinheiro para lhes dar de comer. A emergência é que, devido à política d

Ditadura, pessoas e acasos da vida (Crónica)

Quando da insurreição de Beja, passei o fim de ano no Cume, sede da freguesia de Vila Garcia, a 10 km da Guarda, onde a minha mãe era professora. Ainda dormia quando, na madrugada de 1 de janeiro de 1962, meu pai me acordou, com o rádio na mão, para me dizer que o quartel de Beja tinha sido assaltado. Com uma garrafa de vinho do Porto e dois cálices fizemos a precipitada celebração de um desejo que redundaria em fracasso. Nunca tinha ingerido uma bebida alcoólica em jejum, experiência que só têm os padres, por dever do múnus, e os bêbedos, por hábito. Àquela hora o locutor de turno falava de uma tentativa de assalto ao quartel de Beja e de tiros, além da existência de feridos e de possíveis mortos. Foi breve o entusiasmo e 12 longos e dolorosos anos nos separavam ainda da liberdade, mas nós não sabíamos. O ano de 1961 tinha sido o de todas as calamidades para a ditadura e de muita esperança para a democracia. Em janeiro o capitão Henrique Galvão sequestrara o navio Santa Maria. O G

Até quando abusarão da nossa paciência?

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Engenharia contabilística

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Cristiano Ronaldo recebe casal de fãs

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Hollande ainda não decidiu se a sua 3.ª vai ser a 1.ª dama.

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Essa anacrónica reminiscência monárquica, embora republicanizada, é um insulto ao espírito republicano que elege um presidente e não um casal. O exemplo alemão é, a este respeito, um caso de ética a necessitar de fazer escola. Não se conhece o cônjuge do chanceler de turno que, se viaja na sua companhia em avião do Estado, paga a própria viagem, desistindo habitualmente por ser demasiado cara. Em Portugal, onde tudo o que é mau, acaba por ser sempre pior, e da pior maneira, não tarda que a designada 1.ª dama acabe por acompanhar o consorte com filhos e netos a ver as vacas que na verdura dos prados os recebem com sorrisos. As primeiras damas são adereços inúteis na vida dos países e encargos obscenos que os contribuintes pagam. Um módico de decoro devia encorajá-las a uma vida (f)útil.

Momento de poesia

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A sustentabilidade do tempo… À minha avó Maria Julgas que vou fazer isto tudo? Nunca tenho tempo para nada porque sempre julgo ter tempo para tudo. A culpa é dos relógios que contam o tempo devagar quando afinal, e veloz como o vento, o tempo passa a correr. Devia ser como no tempo da minha avó que contava os dias pelos dedos, as horas pelo sol e despertava ao cantar do galo. E ela sempre teve tempo para tudo, até para ter netos. E foi sempre assim, até morrer… Alexandre de Castro Lisboa, Janeiro de 2014

Cristiano Ronaldo, a condecoração e o PR

Um homem pode desligar a televisão, mudar de canal ou dar um passeio, o que não pode é deixar de ir ao barbeiro. Foi lá que a cerimónia da condecoração a Cristiano Ronaldo me apanhou. Percebi que, junto ao grande futebolista, se encontrava o PR. Olhei aquele jovem dotado, aquele artista exímio na profissão, a figura simpática que faz vibrar milhões de pessoas. O que não esperava era ouvir um discurso de Cavaco a enaltecer-lhe os golos e a fazer a exegese dos festejos que o futebolista faz após o golo. Foi uma surpresa, apesar de o saber catedrático de Literatura pela Universidade de Goa, vê-lo referir os golos e a forma como num dos últimos, Ronaldo olhou para o céu, gesto que o PR repetiu, e interpretou como homenagem ao pai, numa sábia exegese dos gestos e domínio da geografia do destino dos mortos. Enquanto o barbeiro aparava a barba, ainda vi surgir, célere, D. Maria, a meter-se entre o marido e o Ronaldo, e a posar para a fotografia. Depois arrastou o ídolo, de venera ao pei

Mais uma estrela cavaquista

Fisco apanha Marques Mendes em venda ilegal de ações NELSON MORAIS «O Fisco detetou vendas ilegais de ações da Isohidra feitas por Marques Mendes e Joaquim Coimbra, em 2010 e 2011, e que terão lesado o Estado em 773 mil euros. As ações foram vendidas por 51 mil euros, mas valiam 60 vezes mais: 3,09 milhões». Como se vê por Marques Mendes, o fisco só apanha os pequenos.

A frase

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A bênção dos animais preserva-lhes a alma?

O dia em que os animais foram ao Vaticano pedir uma bênção  (REUTERS) Praça de São Pedro encheu no dia de Santo Antão, o padroeiro dos animais domésticos Animais Porcos, galinhas, cavalos, gatos e cães estiveram na Praça de São Pedro, no Vaticano, na sexta-feira para assinalar o dia de Santo Antão, o padroeiro e protector dos animais domésticos.

A coadoção

As coisas são o que são, não o que gostaríamos, e, muito menos, o que alguns desejam fazer esquecer com elas. O que está em causa, e não é referido, para além de esconder a tragédia do Governo e do PR que nos couberam, é confundir a adoção, a coadoção e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, enquanto a saúde, a educação e a assistência são dadas à iniciativa privada e os portugueses abandonados num país sem futuro. A coadoção é, pois, mais um pretexto do que um problema que o PSD quer ampliar para esquecermos o cumprimento da agenda dos extremistas que confiscaram o partido e o Governo. Pensemos num casal de indivíduos do mesmo sexo em que um dos cônjuges já tem um filho adotado, situação que existe e é legal. Negar-se a coadoção, apenas impede a possibilidade de a herança do casal não poder reverter para o adotado se acaso morre primeiro o cônjuge adotante. Era apenas estas situações que o projeto de lei do PS quis contemplar e que foi aprovado na generalidade. É isto que se

Passos, Cavaco e o OE-2014

O Eusébio, a coadoção, o congresso do CDS e a inevitável lista única do PSD, pudera, há empregos, milhares de empregos, em causa, servem para desviar as atenções do OE. A ameaça atrevida do irrelevante Passos Coelho, a falar da “nova normalidade”, não passa do canhestro eufemismo do carácter definitivo para os cortes ‘provisórios’ das pensões e vencimentos. A atitude de Cavaco, ao não pedir a fiscalização sucessiva do OE-2014, é uma atitude de quem está a ser coagido por quem não sabemos, ou por razões que só ele sabe, tendo desprezado a Constituição, que jurou, e renunciado a que alguém precise de nascer duas vezes para ser tão sério como ele.

Os casais homossexuais e a adoção de crianças

Confesso que um psicólogo pode mudar a minha opinião e que não tenho sobre o tema ideias definitivas. Quanto ao casamento entre indivíduos do mesmo sexo não tenho nem tive dúvidas. Respeito a orientação sexual de quem quer que seja. Não entendo, nesta desvairada tática política, nas traquinices partidárias, os objetivos de um referendo e a negação da legitimidade representativa da A.R. e da liberdade de voto dos deputados em matéria que põe em causa problemas de consciência. A estranha conceção de família e as alusões à mais retrógrada ideologia clerical-fascista estão longe de me convencerem. Não sei se é útil para as crianças trocarem o abandono pela companhia de um casal gay, se é preferível uma família verdadeira de um agressor alcoólico e de uma mulher sofrida, ambos desejosos de enjeitar a criança, ou confiá-la a um casal homossexual que a deseja, passando pelo crivo de psicólogos, assistentes sociais e, finalmente, pela decisão de um juiz. O que sei, de ciência certa, é qu

Baixou o preço das canonizações

A santidade custa os olhos da cara. Quem julga que só os vivos se dividem em classes e estas se sujeitam às inclemências do mercado, ignora o que custa a um defunto chegar à santidade. São pesados os emolumentos para investigação de milagres, para transformar as graças recebidas, alegadas pelos crentes, em milagres certificados com a chancela do Vaticano. É inútil a dimensão do prodígio se a Sagrada Congregação para a Causa dos Santos não rubricar o milagre. Não se criam beatos e santos de graça, apesar das graças. Quantos defuntos de países pobres, exímios a curarem achaques, a endireitar espinhelas caídas, a alinhar corcundas, a transformar coxos em maratonistas ou a sarar moléstias da pele, não ficaram no anonimato de crentes que lhes beijaram o retrato ou lhes dirigiram preces a troco de uma novena ou de uma simples ave-maria? L’Osservatore Romano, Diário do Reino do Vaticano, informou na última quarta-feira, através do cardeal italiano Angelo Amato, que foi criada uma «lista

Desventuras de S. Victor e da Freguesia do mesmo nome (Crónica)

Durante muitos anos S. Victor ouviu as preces dos devotos e atendia-as na medida das suas disponibilidades, de acordo com a modéstia dos mendicantes. Afeiçoaram-se os créus ao taumaturgo e este aos paroquianos que o fizeram patrono da maior paróquia da Arquidiocese de Braga. Há uma década foi retirado do “Martirológio”, o rol da Igreja Católica que regista todos os santos e beatos reconhecidos ao longo de vinte séculos, desde que a Igreja católica se estabeleceu. O argumento foi pouco convincente e deveras injusto. Não se exonera do catálogo um santo por ser apenas uma lenda. Que o tenham feito a S. Guinefort, cão e mártir, morto injustamente pelo dono, aceita-se, porque a santidade não se estende aos animais domésticos. Duas mulas, que rudimentares conhecimentos dos padres da língua grega confundiram com duas piedosas mulheres, compreende-se que fossem apeadas dos altares, interditos a solípedes. Mas um santo com provas dadas, clientela segura, devoção fiel, foi a maldade que não

Isso não se chama a ninguém

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«Quem rouba a ladrão tem cem anos de perdão» (Adágio)

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Antes que, por vergonha, o CDS-Algarve apague o texto, aqui fica com o link respetivo: A Meta dos Ladrões – Mealhada Os delegados do CDS Algarve ao Congresso foram assaltados num conhecido restaurante localizado na Mealhada. Contamos em duas linhas a mirabolante aventura que alguns congressistas sofreram ontem domingo, no seu regresso ao Algarve: Atraídos pela famosa boa gastronomia e normal hospitalidade da Mealhada, resolveu um grupo de 15 congressistas parar num conhecido restaurante daquela localidade para degustar o famoso pitéu convivendo desta forma antes da longa viagem até suas casas. O leitão veio a contento dos comensais, a vitória do Benfica ajudou à festa, e no final, apresentada a conta, que apesar de ser considerada exagerada, foi paga. Contudo, já no exterior do restaurante, e apercebendo-se de serem apenas 15,e que a conta que tinham acabado de pagar contabilizava 19 refeições, tentou um dos membros do grupo esclarecer o erro e que o mesmo fosse corrigido pe

O fascismo e as eleições

Era o ano de 1965 e outubro o mês. A ditadura organizou a farsa habitual que dava pelo nome de «eleições» para a Assembleia Nacional. O mandatário nacional da Oposição era o saudoso Dr. Francisco Salgado Zenha. No distrito de Lisboa o representante era o futuro fundador do PS e deputado à Constituinte, Joaquim Catanho de Meneses. No concelho da Lourinhã tive o privilégio de ser o delegado concelhio. Os votos da União Nacional vieram pelo correio quando a Oposição, à falta de condições mínimas, já tinha desistido de colaborar na farsa. No café Belmar, o único que existia, à mesa, quatro cidadãos inutilizaram os boletins de voto. Aqui ficam os nomes, além do do signatário: Afonso Moura Guedes, futuro deputado e líder do PSD; José Francisco Vacas, professor e Manuel Gentil da Silva Horta, comerciante. No dia seguinte encontrámo-nos os quatro a votar e sorrimos com cumplicidade. Os resultados eleitorais sufragaram a lista da União Nacional (única) com cerca de 98% dos votos, tend

CDS – um quarteirão de congressos com promessas às dúzias

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Não acompanhei o 25.º Congresso do CDS pela rádio, pela televisão ou pessoalmente, nem me conhecem eles nem os conheço eu, e a companhia seria alérgica e recíproca. Sou, no entanto, leitor de jornais, atento e interessado, imune à liturgia dos Congressos e, neste caso, às piruetas políticas do líder perene, à boçalidade de algumas intervenções e inépcia de certos oradores, detendo-me no risco do partido, esvaziado dos democratas que o fundaram e caminhando para um reacionarismo infrene que o líder da Mocidade Popular amplamente demonstrou. O líder absoluto demo-cristão elevou para 8 o número de vice-presidentes, tornando-se o líder com mais vice-presidentes por eleitor, sem contar com ele, vice-presidente no Governo. A sua lista, sufragada por 85,39% dos votos, a larga distância da de  Kim Jong-un, devida à distância que separa Oliveira do Bairro de Pyongyang. Paulo Portas apelou ao PS para que estivesse disponível para fechar os olhos ao respeito pela Constituição, isto é, par

Momento zen de segunda_13_01-2014

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João César das Neves (JCN) não pode emprestar às homilias semanais, as culminâncias estilistas e o enlevo formal a que o maior paladino da língua portuguesa elevava os seus sermões – o padre António Vieira –, mas, como ele, também as batiza com o título com que julga passar à posteridade e, sobretudo, ganhar a bem-aventurança eterna. A homilia de hoje (DN) chama-se “ A dignidade permanece ». O conteúdo recorrente é o aborto, a obsessão semelhante ao pânico de quem teme, sobre si, a retroatividade da lei. JCN diz que o aborto nunca desaparecerá, embora pareça desconhecer a espontaneidade e o drama que atinge quem desesperadamente procura um filho, sendo, nesse caso, mera vontade do Deus do pregador. Para o missionário, estamos «numa época promíscua e lasciva» em que a violação dos direitos humanos explode contraditoriamente na legislação familiar. Dá como exemplo dessa contradição, os EUA, «a sociedade mais aberta e dinâmica, [onde] o impasse dos embates entre "pró-vida&quo

Até para pensar é preciso alguma coragem

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Não pretendo que os outros pensem como eu, mas, tal como eu, que pensem. Para lá do medo, que foi assimilado por meio século de ditadura e pela incerteza que nunca deixou de nos perseguir, há constrangimentos sociais que o dilatam e o gravam no nosso código genético. Em Portugal é tão odioso dizer bem de políticos como mal dos bombeiros. Os primeiros são eternamente corruptos, oportunistas, ladrões, imbecis, incompetentes e parasitas; os segundos são soldados da paz, abnegados, corajosos, honestos e prontos a dar a vida por quem deles precise. Quanto a políticos estamos conversados. É verdade e são todos iguais. Ponto final. Não há sequer exceções, a não ser que ponham os interesses da Pátria acima do dos partidos, que governem, sem pensar nos partidos e, sobretudo, sem os permitir. Por isso falemos de bombeiros. Há dias surgiu um tímido relatório que apontava a deficiente formação como causa das mortes de bombeiros e a baixa eficiência do esforço no combate aos fogos. Felizmen

12 de janeiro – efemérides

O melhor: 1945 – As forças alemãs batem em retirada na batalha de Bulge*, Bélgica; 1959 – o general Humberto Delgado pede asilo político na Embaixada do Brasil em Lisboa. O pior: 1919 – A Câmara dos Representantes dos EUA rejeitou a proposta de lei que concedia o direito de voto às mulheres. Fonte: DN Apostila: *  Bulge' não é um topónimo nem um nome próprio. É a palavra inglesa que significa 'bolsa', 'saliência', 'inchaço'. Os ingleses chamaram-lhe assim porque as linhas alemãs tinham a forma de uma bolsa quando o avanço dos alemães foi travado. Em português (e nas outras línguas ocidentais) chama-se Batalha das Ardenas. Alguém traduziu isso directamente do inglês tomando por nome o que não é.

Lourinhã – A ditadura, os serventuários e a memória (Crónica)

Em 1963 cheguei à Lourinhã, ameaçado de demissão por um lacaio do regime, Manuel da Silva Mendes, que de adjunto do Diretor Escolar de Castelo Branco havia de chegar a Diretor Escolar de Portalegre e presidente da respetiva Câmara Municipal, para acabar administrador na Casa da Moeda, sinecura que o Curso do Magistério Primário e o zelo salazarista lhe reservaram, à falta de currículo e de preparação académica adequada. Cheguei diretor da escola masculina, a Fernanda era agregada e mulher, defeitos que só um era remissível e em locais que a afastariam do marido. Fui logo nomeado Delegado Escolar porque a titular carregava o pecado original da inferioridade de género que lhe garantia a exoneração do cargo à chegada do primeiro professor. Em outubro, primeiro mês do ano letivo, houve exame de adultos, como sempre, e por mero espírito misógino, a Conceição, que era ainda «Delegado», foi nomeada vogal do júri cuja presidência me foi atribuída. Uma conversa nossa originou a falta dela n

O regresso do salazarismo através do CDS

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Com exceção do jovem mullah Miguel Pires da Silva, não vou falar de solípedes à solta, equídeos sem bridão, asnos sem cabresto e outros espécimes zoológicos que circulam nas madraças juvenis dos partidos do poder, à espera de crescerem. Vou falar do 25.º Congresso do CDS e de cinco secretários de Estado que assumiram aí a matriz salazarista que Feitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa e Basílio Horta se esforçaram ingloriamente por erradicar. A redução da escolaridade obrigatória, que Salazar resumiu a quatro anos para rapazes e a três para meninas, medida que ajudou à salvação das almas e à produção de criadas de servir, volta agora a ser preconizada. Podíamos chegar ao ponto em que o filho de um pedreiro podia ser colega do de um banqueiro. Onde chegaríamos? ! O presidente da Mocidade Portuguesa do CDS, também conhecida pelo pseudónimo de Juventude Popular, Miguel Pires da Silva, não tem dúvidas e pede a redução do 12.º ano para o 9.º “porque é um erro”, erro que pode ser mel

Eu quero um carro para cada contribuinte

Em 2014, a inclusão do n.º de contribuinte nas faturas permitirá a qualquer consumidor final habilitar-se a ganhar um carro por semana. O sorteio será feito pela administração fiscal, sendo elegíveis todas as compras e não apenas faturas dos restaurantes, oficinas e salões de beleza. Quanto mais faturas obtiver maior é a probabilidade de êxito. Isto não é um governo, é um grupo de crupiês que fizeram do país um casino e dos cidadãos jogadores da bisca lambida. A libertinagem de quem se permite explorar o casino merece que os jogadores, sem aumento de despesa, aumentem as probabilidades. Espero que os leitores me acompanhem na estratégia que já delineei, ainda que reduza as minhas probabilidades com a concorrência. Não sou invejoso. Comecemos pelos supermercados. Enquanto não venderem o melão à fatia, o azeite ao decilitro, o arroz ao grama e as azeitonas, pevides e pinhões à unidade, podemos, desde já, exigir 24 faturas por duas dúzias de ovos, 20 por igual número de iogurtes, 50

No Chile do genocida Pinochet

O liberalismo económico e a liberdade de viver sob um regime clerical/fascista Do minuto 8 ao 22 deste documentário: a instalação do neoliberalismo no Chile e Friedman. No mesmo ano em que um dos muitos opositores de Pinochet era assassinado Friedman recebia o Nobel.