PRAXE: ‘Morte que mataste lira’…
A
‘praxe’ entrou na ordem do dia. Não querendo fazer a história desta recorrente ‘tradição
académica’ (chamemos-lhe assim), são incontornáveis as questões que estas ‘cerimónias’
levantam e que se agudizaram nos dias que correm. Um importante relatório da AR publicado
em 2008 (Comissão Parlamentar de Educação e Ciência) ganhou foros de relevante
actualidade e merece ser revisitado.
Deixemo-nos
de subterfúgios. A ‘praxe’ tal como é possível observar à luz de uma percepção
sociológica moderna não assenta nem representa qualquer tipo de ‘integração’
dos novos alunos do ensino superior na instituição universitária e, mais
concretamente, nesta fase da vida académica. Se essa fosse a sua intenção a
oportunidade seria outra e ocorreria na entrada para ensino preparatório e/ou
secundário. Porque na realidade e em termos formais e abstractos será difícil
distinguir [apenas circunscritos ao grau de ensino, à faixa etária, ou ‘tradicionais/históricas’
motivações] substanciais diferenças entre o ‘‘bullying’ e algumas das ‘praxes universitárias’ que, nos recentes dias, vamos
conhecendo pelos órgãos de comunicação social.
Na
verdade, os ‘rituais’ que incorporam estas práticas inscrevem-se no mais
execrável elitismo social e exteriorizam a deformada percepção que um (cada vez
mais restrito) grupo de privilegiados (‘casta’) tem sobre um país real a
caminho de fracturantes desigualdades. Esta a ‘mercadoria’ que se vende aos
cidadãos como sendo (de qualidade) ‘superior’. Se os contornos sociais e
humanitários não fossem tão graves poderíamos abordá-la como sendo mais um caso
de publicidade enganosa.
Finalmente,
quando em 1969, em plena ditadura salazarista, organizações estudantis (e não
académicas) ‘decretaram’, num contexto de ‘luto académico’ e de luta política, o
fim das ‘praxes violentas’ mal sonhavam com o que – passado meio século -
estaria para acontecer.
A
história recente da 'praxe' fez-me recordar uma canção que ouvi algumas vezes na voz de Adriano:
Morte que mataste Lira,
Morte que mataste Lira,
Morte que mataste Lira,
Mata-me a mim, que sou teu!
Morte que mataste lira
Mata-me a mim que sou teu
Mata-me com os mesmos ferros
Com que a lira morreu
A lira por ser ingrata
Tiranicamente morreu
A morte a mim não me mata
Firme e constante sou eu
Veio um pastor lá da serra
À minha porta bateu
Veio me dar por notícia
Que a minha lira morreu…
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Pior foi quando os alunos em vez de praxar professores, saneavam-nos.