UCRÂNIA: enigmas…
Nos últimos tempos a situação na Ucrânia
parece ter caído num impasse. A mais recente notícia diz respeito à intromissão
dos militares na instável situação política com um apelo à intervenção do
contestado presidente Viktor Ianukovitch para “tomar medidas de emergência, no âmbito da actual legislação, para
estabilizar a situação no país”.
Uma linguagem de caserna sobejamente conhecida
pelo facto de ser, muitas vezes, o prenúncio de ‘soluções bélicas’, um expedito
caminho para soluções ditatoriais.
Neste momento, o espaço político
favorece todo o tipo de nacionalismos e poderá interessar explorar sentimentos ‘patrióticos’
(Ucrânia também significa ‘pátria’) para lançar a população contra a Rússia,
confundindo a actual situação com velhas contas ainda por ajustar desde os
tempos da ex-URSS, nomeadamente as que resultaram da aplicação dos planos
quinquenais de Stalin que, nos anos 20 e 30, enfureceram e dizimaram
massivamente os camponeses ucranianos. O campesinato rural combatia a
‘coletivização forçada’ e criaram um histórico 'parti-pris' que passou pela
aniquilação dos ‘kulaks’.
No início dos anos 30 a Ucrânia viveu
com uma intensidade desmedida e inaudita violência um ciclo de fome,
acompanhado de uma gigantesca repressão policial que, segundo alguns
historiadores, terá provocado entre os ucranianos cerca de 5 milhões de mortos
(entre famintos, deportados, torturados e prisioneiros).
Este um passado remoto mas ainda muito próximo
dos ucranianos que continua a marcar um povo que sucessivamente foi conquistado por polacos, russos e
austríacos e só recentemente (com o fim da ‘guerra fria’) chegou à
independência. Uma longa história que viria a conhecer novos capítulos na II Guerra Mundial. Passemos à frente.
Hoje, após a implosão da ex-URSS a
Ucrânia tornou-se um país que formalmente ganhou a independência mas pouco
conseguiu no campo da coesão nacional. Assim, a Leste temos uma população de origem russa (exprime-se
em russo), urbana e ortodoxa e a Ocidente rural, católica e pobre (e que fala
ucraniano). Estão aqui presentes as sementes para proliferar todos os tipos de
nacionalismo (dos moderados aos ultras) que, de algum modo, se mostram
politicamente incoerentes com protestos de independência e desejos de
emancipação quer perante Moscovo ou em relação a Bruxelas.
Os últimos desenvolvimentos de Kiev mostram
que as ‘forças nacionalistas’ mantêm-se na vanguarda da contestação e ocupam a
praça da Independência bem como alguns
ministérios e edifícios públicos configurando a situação da queda do poder na
rua.
Assim, o enigma é conhecermos muito pouco
acerca das reais intenções daquilo que designamos como uma vasta e heterogénea ‘oposição
nacionalista’ e se o dramático encaminhamento para uma guerra civil não poderá
ser um mero instrumento político (ao serviço desses nacionalismos exacerbados)
…
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