Estrasburgo: um novo pantanal?

A dissolução do grupo parlamentar da extrema-direita no parlamento europeu (EFDD) link é, à primeira vista, uma boa notícia.
A Europa tem muito poucos ‘euro-convictos’ e pode, muito bem, dispensar os eurocépticos e/ou os eurofóbicos.
 
No centro da dissolução do grupo de extrema-direita está a saída da eurodeputada letã Iveta Grigule. Ao abandonar a formação parlamentar, que tantas dificuldades tiveram para se organizar, sob a batuta de Nigel Farage, dirigente do movimento britânico UKIP, Iveta enviabilizou a sua existência já que regulamentarmente o EFDD (Europe of Freedom and Direct Democracy) deixou de representar uma diversidade de deputados que lhe assegurou, até aqui, a necessária representatividade (são necessários deputados oriundos de 7 dos 27 países) e a consequente subsidiação das instâncias europeias (de milhões de libras, já que abominam o euro).

Existem nesta situação vários problemas em suspenso que seria bom esclarecer e precaver.

O principal será para o grupo parlamentar da extrema-direita que perde a capacidade de actuar em bloco no PE, apresentar propostas e ver a suas acções (contra a UE) largamente subsidiadas. Sendo um problema do EFDD que revela uma brutal inconsistência política do grupo que vive à custa de demagógicas posições sobre a emigração deve, no entanto, colocar de atalaia a instituição parlamentar europeia para todo o tipo de ‘golpismos’ tão caros à extrema-direita.

Um outro problema é a própria deputada letã Iveta Grigule. Denunciada através de um comunicado emitido pelo EFDD link de ter sucumbido às pressões conjuntas do presidente do PPE, Manfred Weber, em consonância com o presidente do PE, Martin Schulz, tendo como moeda de troca a sua nomeação para presidente da delegação parlamentar da UE para o Cazaquistão, a eurodeputada letã deveria justificar (politicamente) a sua saída do grupo EFDD a fim de esclarecer todas as dúvidas que envolvem este caso. Para já um comunicado do gabinete de Martin Schulz, à BBC, negou estas acusações.
A não ser que o currículo de Iveta Grigule, uma solitária eleição do Latavia Farmer’s Union para o PE sugira que esteja de regresso ao Latavian Green Party, que concorreu coligado sob a bandeira da ‘Union of Greens and Farmers’, partido letão dos ‘verdes’ e dos ’fazendeiros’, colonizado por (ultra)nacionalismos geradores de 'sistémicos eurocepticismos', donde a deputada europeia é oriunda e acabou por ser expulsa link, num circuito sinuoso e fechado, algo incompreensível, mas pejado de venialidades  e oportunismos, acabe por levantar dúvidas e interrogações sobre a sua idoneidade política…
Aliás, Sharon Ellul-Bonici, secretária-geral da European Aliance for Freedom (agrupamento que incluiu a Frente Nacional de Marine Le Pen) veio prontamente a terreiro afirmar que Iveta Grigule… ‘não era de confiançalink .

A implosão do grupo parlamentar de extrema-direita em Estrasburgo (EFDD) significa um inegável recuo na pujança deste bloco político - revelada nas últimas eleições europeias - surgida à custa dos erros dos actuais ‘reformadores da Europa’, orquestrados sob a batuta de Berlim.
Todavia, o 'populismo' - seja sofisticado ou bacoco - é sempre um terreno de fogos-fátuos. E isto é verdade para todos os espectros políticos.

Mas existem, neste processo, demasiadas coincidências e obscuridades a esclarecer quer da parte da deputada Iveta Grigule quer do presidente do Parlamento europeu. Da parte do Sr. Farage e do ‘palhaço’ Grillo só chegarão insinuações, queixumes e ataques avulsos às instituições europeias.
Para o PE o cabal esclarecimento dos contornos e motivações deste ‘crash’ é a melhor garantia que amanhã do EFDD não (re) surgirá no PE com outros protagonistas, novos embustes e as mesmas pretensões.
É que as boas notícias devem ter por detrás claros e bons motivos. De resto, este ‘incidente’ faz lembrar o ‘método limiano’, bem conhecido dos portugueses, que, como sabemos, desembocou no ‘pântanolink.

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