Marinho e Pinto e o Partido Democrático Republicano
Seria prudente que, plagiando uma ilustre cabeça do futebol,
dissesse dos resultados das próximas eleições legislativas aquilo que essa
eminência disse de um jogo de futebol: «prognósticos, só no fim». Com menos
responsabilidades e o direito de analisar a coisa pública, atrevo-me a refletir
sobre o fenómeno Marinho Pinto. Se não aparecesse, teria aparecido outro pior.
Dizem-me as sondagens da rua que Marinho Pinto, nas próximas
eleições legislativas, vai disputar o 3.º lugar com o PCP e essa é a minha
convicção.
Marinho Pinto é um democrata e um homem corajoso, com
passado e notoriedade, esta ampliada por muitos que, não o tolerando, não param
de falar dele. É demagogo. Nesse aspeto, recebe lições de Cavaco e de vários
líderes partidários. Sendo contra os partidos, acaba de criar mais um; sendo
contra as regalias exageradas dos eurodeputados, não as enjeita; vituperando as
promessas não cumpridas dos políticos, já se tornou mestre.
Aliás, se não surgisse o antigo bastonário, eleito duas
vezes com confortáveis maiorias, outro apareceria, seguramente pior.
Começou por afirmar que fará alianças com qualquer partido,
excluindo uma associação pouco recomendável – o CDS –, e desafiando o PCP a
deixar a oposição permanente e a comprometer-se num projeto de governo, sugerindo
que a postura atual o torna inútil.
Marinho Pinto vai ter os votos dos menos esclarecidos
politicamente, dos ressentidos e dos desiludidos. A vitória de António Costa
correu-lhe mal, mas vai procurar aliciar os que, dentro do PS, ficaram ressabiados.
Apanha o Bloco de Esquerda em desagregação, o Livre sem se ter afirmado, o PSD encavacado
com Passos Coelho e Cavaco e o CDS sob suspeição irrevogável e em risco de
ficar órfão. Quanto ao seu programa, poucos o vão ler, tal como acontece com os
dos outros partidos.
Marinho Pinto vai ter a possibilidade de conquistar a chave
do Governo e tranquiliza os portugueses ao prometer alianças e que o viabilizará,
acalmando quem justamente teme a ingovernabilidade do País.
Goste-se ou não, está escrito nas estrelas, o sucesso do PDR
está garantido e só o futuro dirá se é fugaz.
Comentários
O PDR precisaria, em relação aos resultados referenciados em 2014 (no MPT), nas eleições europeias, de duplicar o número de votantes.
Parece-me uma tarefa difícil, não pela desvalorização da candidatura de Marinho Pinto mas porque afastado o 'efeito surpresa' os partidos clássicos não lhe vão dar tréguas. E, também, porque o candidato já 'viveu' melhores dias no seio da comunicação social nacional...