A ‘chicana petrolífera’ em curso…

A ‘dança’ dos preços do petróleo vem confirmar aquilo que há muito já sabíamos. Esta fonte energética é uma arma geopolítica poderosíssima dada a dependência mundial do crude. O seu preço final não tem qualquer relação com os preços de produção e de transporte mas encaixa-se em estratégias económicas globais e lutas pelo domínio dos ditos ‘mercados’.
A prevista subida do preço do barril de petróleo pré-anunciada para a próxima conferencia da OPEP link, no Qatar, revela a volatilidade dos mercados e os interesses contraditórios que aí se digladiam.

Na verdade, estas flutuações que traduzem guerras surdas entre a Arábia Saudita e os EUA – os dois maiores produtores da actualidade – têm custos enormíssimos para (todas) as economias europeias. Claro que existem outros ‘danos colaterais’ como os que se verificam na Venezuela, Brasil, Angola, Nigéria, etc. o que é uma cabal demonstração dos ledos e cegos enganos das doutrinas ‘neo-cons’ sobre a tão propalada capacidade concorrencial dos mercados 'livres' e muito ciosos da sua ‘auto-regulação’.

Os EUA através do boom de produção saudita e da consequente queda de preço do barril de petróleo pretendem estrangular a Rússia - o grande fornecedor europeu. Querem dominar o mercado europeu e impor à Europa do seu petróleo de xisto (shale oil) a preços que, na altura, veremos (e sentiremos no bolso).

Estamos a viver o período de ‘cortesias’ e do apalpar do terreno desta programada e longa disputa. A Europa se tivesse uma estratégia energética autónoma acabaria por verificar que nunca os EUA podem substituir a Rússia, com vantagens económicas, no abastecimento europeu de hidrocarbonetos. Nunca terá operacionalidade logística nem poderá apresentar preços concorrenciais. Os custos de contexto das economias europeias estão prisioneiros destes meandros. Por isso são imprevisíveis.

E, finalmente, a UE se tivesse uma estratégia política, económica (e energética) nunca se teria metido no ‘atoleiro ucraniano’. Estreitou dramaticamente o seu leque de opções.

Também, no domínio dos petróleos, se caminha para o sacrossanto princípio: “Não Há Alternativa”. Todos conhecemos os custos e as consequências da aplicação deste jargão.

Comentários

Manuel Galvão disse…
Só quem tem dólares pode comprar petróleo. Quem tem petróleo só pode comprar dólares.
Esta será a base explicativa para 80% do fenómeno "petróleo barato", num contexto em que é sabido uma nota de dólar não valer mais que uma folha de papel higiénico, em termos reais...

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