Como se fabricam católicos
Nos primeiros dias de vida os pais entregam os neófitos ao
padre, que lhes mergulha a fronha em água benta, limpando-os do pecado original
quando ainda precisam de quem lhes mude a fralda.
Depois, crescem no temor a Deus, que rejubila se comem a
sopa e se entristece quando adormecem nas orações.
Aos seis anos de idade, com muitas ave-marias e padre-nossos
rezados, para que o Deus cruel e apocalíptico os livre das perpétuas chamas e
do azeite fervente do Inferno, onde só há choro e ranger de dentes, as pias
catequistas ensinam-lhes os dez mandamentos da Santa Madre Igreja e os do único
Deus verdadeiro, privando-os de tempos livres.
Depois do exame de aptidão vem a confissão. Os pecados –
ofensas feitas a Deus –, são ditos ao padre, punidos com penitência adequada e
perdoados para poderem saborear o corpo de Cristo numa fina rodela de pão ázimo
(sem fermento nem sal).
Com a missa semanal e a desobriga pela Páscoa da
Ressurreição, como tarifa mínima, seguida de nova rodela mística, os cristãos
ficam aptos para novos pecados que serão perdoados de novo e, assim,
sucessivamente, vão mantendo viva a fé na vida eterna.
A comunhão solene é um momento alto, com a família a
alambazar-se em hidratos de carbono. Por pudor, a ICAR deixou de os vestir de
cruzados. A confirmação é imposta por um bispo que exibe o anelão de ametista e
o faz oscular pelas crianças, indiferente aos micróbios que passa de boca em
boca. O sinal da cruz é desenhado a óleo na testa do cristão pelo dedo do
prelado ricamente paramentado e refastelado num cadeirão.
Nesta altura já as crianças de dez anos sabem que os judeus
mataram Cristo, que a Santa ICAR está já tão cheia de santos, mártires e
bem-aventurados como o metropolitano de Lisboa de passageiros, em horas de ponta.
A xenofobia e o racismo vêm na Antigo Testamento. O dever do
cristão é converter os que estão errados (os outros) à verdadeira fé, a que vem
de Roma através de breves, bulas e encíclicas. O proselitismo é um dever e quem
não quiser salvar-se deve ser obrigado.
Os créus querem impor, como destino, o Paraíso, e os ateus opõem-se
à obrigatoriedade.
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