Discurso do catedrático a haver

DE: José Gabriel, professor de Filosofia na Escola Jaime Cortesão, em Coimbra.

(em quadrinhas de mal dizer, para cantar à esquina)

I
Com todo este saber
(Isto é axiomático)
Quando for grande vou ser
Um professor catedrático.

Não sou de grande ciência
Mas sou muito carismático
Vou ser, tenham paciência,
Um professor catedrático

Graças a vistosa finta
Com um drible burocrático
Vou ser, e com grande pinta,
Um professor catedrático.

Não tenho modos de mestre
Sou mais para o autocrático
Mas vou, ao jeito rupestre,
Ser professor catedrático.

A gestão da Tecnoforma
De um modo automático
Só por si, já me transforma
Em professor catedrático.

II
E esta minha voz sonora?
E este meu jeito enfático?
E a minha arte canora?
Sou ou não sou catedrático?

E o meu pendor dogmático?
E o meu pin emblemático?
E o meu talento empático?
E o meu dom democrático?

E o meu quadro idiossincrático?
E o fôlego psicossomático?
E o olhar electrostático?
E o sorriso simpático?

III
Não serei um bom gramático
– Sou até muito assintáctico –
Resolvo de modo prático
Metendo um ano sabático

Queixo-me de reumático
E de um problema hepático
P’ra não falar no ciático
E no síndroma prostático

As escolas são como selvas
Para quem tem dotes escassos
Bem me vai dizendo o Relvas:
“Vai mas é estudar, ó Passos!”

Não gostaram do meu esquema?
(Eu sou um tipo esquemático)
É vosso, esse problema.
Por mim, vou ser catedrático

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