Os incêndios e os vampiros

O êxodo dos meios rurais, o desordenamento florestal, o excesso de eucaliptos, a incúria dos municípios e proprietários, o negócio dos fogos, a vertigem dos incendiários, a rede elétrica e fenómenos climatéricos anómalos, reuniram-se, no ano 2017, para acrescentar ao desastre habitual, a morte e o sofrimento de numerosas vítimas.

O que se torna obsceno é a mórbida evocação, a impedir o luto do país e, sobretudo das famílias, com fins partidários, e necessidade de esquecer responsabilidades passadas e presentes de uma direita sem pudor, remorsos ou soluções.

Após numerosas missas, exibições de labaredas, reincidentes visitas do PR e evocações diárias da tragédia, repetem-se relatórios, acusações furiosas da direita, com provedores de Misericórdias, vítimas que fazem o luto na televisão, ex-autarcas do PSD nomeados generais de bombeiros e a rede de comentadores que vive da exumação de cadáveres.

Porque é preciso que o fogo das acusações continue atiçado, aparece mais um “relatório independente” onde «o maior fenómeno piro-convectivo registado na Europa até ao momento e o maior do mundo em 2017, com uma média de 10 mil hectares ardidos por hora entre as 16:00 do dia 15 de outubro e as 05:00 do dia 16» tem por base declarações de um ex-responsável para imputações ao governo cuja audição foi julgada supérflua.
Já voltaram à comunicação social os avençados do costume, os acusadores de turno, os líderes dos partidos com bitolas distintas para mortos de incêndios e de procissões, que distinguem a tragédia dos fogos em matas privadas e a da queda de um carvalho sobre a procissão, no adro de uma igreja da Madeira.

Até o PR, devorado pela devoção e afetos seletivos, reza mais por uns do que por outros, e atrela um bispo para missas de sufrágio dos que foram queimados, e dispensa-o para os que a árvore esmagou, sem que a Igreja seja tão pródiga a ressarcir as vítimas como é o Estado.

Já é tempo de aproveitar a chuva para apagar os fogos e incentivar a sua prevenção.   

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