Qualquer semelhança será mera coincidência? [*]


O partido Esquerda Republicana da Catalunha (Esquerra Republicana de Catalunya - ERC) nasce em 1931, durante a II Republica, teve um papel predominante nessa altura, logrou sobreviver ao sufoco falangista na sequência da fratricida guerra civil e empenhou-se na transição política do pós-franquismo.

Embora tendo partido de posições federalistas cedo enveredou por posições claramente independentistas. A sua génese resulta da fusão de várias organizações independentistas catalães.
Uma das figuras marcantes da sua história foi Lluís Companys.  Em 1936 a Frente Popular vence as eleições e o cerco a Barcelona é desmontado. Lluís Campanys assume a presidência do Governo catalão (Generalitat) e é um dos protagonistas de uma efémera independência.
 
O início da guerra civil trouxe ao País Catalão inúmeras vicissitudes entre elas divisões e insanas rivalidades entre os partidos e movimentos de Esquerda. Após a guerra civil os franquistas reagem prendendo toda a cúpula do ERC, suspendendo a autonomia da Região e implacavelmente - depois de meses de tortura - o caudilho manda fuzilar Lluís Companys (15 de outubro de 1940) no solo catalão.

O grande beneficiário de acesas dissensões e confrontos ocorridos no seio das organizações e forças político-partidárias de Esquerda (e anarquistas) catalães foi – objetivamente - Franco.
A ditadura franquista que na sequência da guerra civil toma as rédeas do poder viria a impor à Catalunha – e também a outras regiões ibéricas – um feroz nacionalismo espanhol de matriz predominantemente castelhana.

Só após a morte de Franco e com a transição democrática que desemboca na nova Constituição de 1978 a Catalunha viria a readquirir o estatuto autonómico que tinha nos anos 30.
 
Todavia, a causa independentista continuava viva em muitos catalães. Em 2017, depois de sucessivos insucessos para alargar a autonomia, a causa independentista renasce e reforça-se no seio de um conjunto de partidos (nem todos de Esquerda) mas onde a Esquerda Republicana da Catalunha é, mais uma vez, parte integrante e relevante.

Hoje quase toda a cúpula dirigente do ERC, ou está presa, ou exilada, sob as ordens do TC e do Governo de Madrid que controla a acusação através da Procuradoria-Geral (Fiscalía General del Estado).
 
Ontem, a militante (Marta Rovira) que substituía interinamente o aprisionado presidente do ERC (Oriol Junqueras) autoexilou-se na Suíça para não ser presa.
Esperemos que as entidades helvéticas não deportem Marta para a entreguem aos carrascos de Madrid, repetindo o que fizeram os nazis com Lluís Campanys.

Estas são algumas das semelhanças entre 1038-40 e 2017-18. Esperemos que não existam outras coincidências…
Resta a casualidade de Mariano Rajoy também ser galego (mas isso é uma outra história).

[*] – Alegoria ao conceito para iludir a censura ou fugir a responsabilidades cívicas e criminais de que …‘Qualquer semelhança (com a realidade) é mera coincidência’.

Comentários

e-pá! disse…
Apostila:

A prisão de Puigdemont, hoje, na fronteira alemã com a Dinamarca, veio confirmar os receios manifestados no post e agitar o espectro de um sub-reptício envolvimento europeu numa questão que a Europa aparentemente ignora ou, bem vistas as coisas, finge ignorar.

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