Notas Soltas – abril/2019
Turquia – Apesar
da “falta de ambiente livre e justo” referido por observadores da UE, a
oposição logrou conquistar as principais cidades do país, nas eleições
autárquicas. Foi um estrondoso revés para Erdogan, cada vez mais autoritário e perigoso.
Eslováquia –
Zuzana Caputova, advogada feminista e liberal, defensora do aborto e dos
casamentos gay, eleita PR com 58% dos votos, foi uma surpresa num país
conservador, atolado de corrupção e onde as propostas da direita foram
amplamente derrotadas.
Hungria – A alteração
da Constituição, a interferência no poder judicial, a censura aos órgãos de
comunicação social, as restrições à liberdade de associação e a afronta aos direitos
humanos transformaram Orbán, eleito democraticamente, num ditador.
Brasil – O apelo
inconstitucional de Bolsonaro, para que os quartéis comemorassem o 55.º
aniversário do golpe militar que depôs o governo democrático e deixou um rasto
de torturas, execuções e violência, revela bem a demência fascista do atual PR.
Brexit – O
prolongamento concedido pela UE ao Reino Unido, com o caos que reina no
Parlamento britânico, prova que a UE não sabe o que fazer com o RU e este não
sabe sair do pântano em que se meteu, com danos para todos.
Argélia – As
manifestações públicas representam enorme desejo de liberdade e são um claro
desafio ao regime autoritário, que parece ceder à avassaladora vontade popular.
Os líderes islâmicos estão desacreditados, mas é difícil que nasça uma
democracia.
Economia – Países
autoritários detêm 70% do PIB mundial, debilitando as democracias que existem. Brasil,
Índia, Itália, Turquia e EUA são os países do G-20 que se tornaram autoritários
enquanto a China, Rússia e Arábia Saudita nem sequer são democracias.
Wikileaks – A forma
torpe como o Equador vendeu Julian Assange e a vingança que o aguarda, não
resultam da recolha delituosa dos segredos, mas da denúncia das práticas infames
que beneficiam interesses dos poderosos e da afronta aos direitos humanos.
Jair Bolsonaro –
O exótico PR é um político tolo, mas, ao declarar que o Brasil votaria na ONU
segundo a Bíblia e aconselhar os judeus a perdoarem o Holocausto, passou de um
primata a nível nacional a um boçal à escala internacional.
Transportes públicos
– Os novos passes, para as áreas metropolitanas de Lisboa, Porto e mais 21
comunidades intermunicipais, a preços módicos, são de tanto alcance social e
tão benéficos para o ambiente que exigiram imenso ruído eleitoral para os encobrir.
Finlândia – Antti
Rinne, vencedor das eleições ao Parlamento, com 17,7% dos votos, lidera as
negociações para um Governo de coligação com forças progressistas, como os
Verdes, devolvendo ao país a social-democracia a que deve o progresso e justiça
social.
Croácia – A
ferida do passado fascista não cicatrizou. Sérvios, judeus e antifascistas boicotaram
a cerimónia oficial em memória das vítimas de um campo de concentração, denunciando
o crescente revisionismo, ainda que menor do que na Hungria, Ucrânia e Polónia.
Chega – Foi
aprovado o novo partido de extrema-direita de André Ventura, ex-vereador do
PSD, em Loures, da confiança de Passos Coelho e que, à semelhança dos fascistas
europeus, defende a pena de morte e se propõe erradicar ciganos e imigrantes.
Polícias – É um
perigo para a democracia ter dois líderes sindicais da PSP a integrar um
partido de extrema-direita, o Chega, sabendo-se que a um desses sindicatos
pertencem 18 dos 19 polícias do Bairro da Jamaica cuja esquadra é alvo de um
processo judicial.
Buraco Negro – A silhueta
da sombra emoldurada por um anel de luz é a revelação da primeira imagem de um
buraco negro supermaciço. É o mais relevante teste da teoria da Relatividade
Geral de Einstein, com mais de um século, e um notável avanço da Astrofísica.
Notre-Dame – Ao
tombar o pináculo da catedral consumida pelo fogo, senti a dolorosa metáfora da
Europa a desmoronar-se, a perda dramática de património da Humanidade, testemunho
da história, beleza e harmonia, no coração do Iluminismo e da civilização.
Bangladesh – Nusrat
Jahan Rafi, de 19 anos, denunciou o assédio sexual pelo diretor da madraça e
não retirou a queixa. Os colegas regaram-na com gasolina e queimaram-na.
Este assassínio é a metáfora da violência contra as mulheres, em contexto
islâmico.
Ucrânia – Volodymyr
Zelensky, sofisticado comediante de 41 anos, ganhou as eleições a Poroshenko, amigo
do Trump, aliado da NATO e corrupto, enviando-o para a luxuosa mansão adquirida
no poder. Depois da tragédia veio a comédia. Ou a tragicomédia?
Sri Lanka – Duzentos
mortos e 450 feridos é o saldo do ataque sectário contra hotéis e três igrejas
cristãs, no domingo de Páscoa. O Estado Islâmico, com ligações à minoria local
continua vivo e a semear o terror, desta vez contra os martirizados cristãos.
Espanha – O medo,
a imigração, o desemprego e os centros de decisão nas mãos de velhos e novos
franquistas falharam a construção da maioria de direita com extremistas. O
franquismo, o Opus Dei e o clero reacionário foram arrastados na derrota
eleitoral.
CDS – Nuno Melo
ao negar o carácter extremista do partido VOX espanhol, revela que se
identifica com a sua matriz abertamente fascista e arrasta a direção do partido
de que Freitas do Amaral, seu fundador, se afastou por vergonha e assepsia.
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