SNS: o artista (português), os castings e erros meus…
Um dos maiores elogios da atual equipa ministerial da Saúde terá partido de Miguel Albuquerque – presidente do Governo Regional da Madeira - que considerou a nova ministra, Marta Temido, como ‘um erro de casting completo’ link.
As afirmações do dirigente do PSD Madeira reportam-se a uma situação concreta de dedução de valores patrimoniais relativo à construção de um novo Hospital do Funchal com uma argumentação que o património regional no seu entender não é do domínio público, isto é, não pertence – nem poderá ser revertido - ao Estado português.
Bem, este assunto pertence a outras ‘guerras’ mas a maneira como entrou na questão - ‘mais uma infelicidade…’ – deixa subentender que as outras (infelicidades), nomeadamente, a sua acção política que, para além das quezílias momentâneas com os vários grupos profissionais do sector, se centra na proposta governamental da revisão da Lei de Bases da Saúde.
E aqui chegamos aos ‘erros de casting’. O primeiro, cada vez mais notório e evidente é o do ex-ministro da Saúde, Adalberto Campos Ferreira, que finalmente, num recente debate, revelou com inusitada clareza a sua posição política sobre o sistema nacional de Saúde (escrevo ‘sistema’ e não ‘serviço’ porque o ex-ministro resvalou para o terreno da Direita onde tudo deverá ser sistematicamente incorporado nos negócios).
O ‘recuo pragmático’ (chamemos-lhe assim por pudor) inerente às suas presentes opções analíticas sobre a Lai de Bases da Saúde está bem subjacente nas afirmações que produziu num colóquio sobre “40 anos do Serviço Nacional de Saúde: que balanço?” onde explanou um chorrilho de concepções retrogradas e estapafúrdias link.
A primeira incredibilidade – para os incautos! - é ouvirmos o ex-ministro afirmar que a arquitectura ideológica que está subjacente à presente proposta governamental que - em traços gerais pretende reforçar as prestações do sector público e reservar um espaço complementar para os sectores privado e social - baseia-se em ‘fundamentos ideológicos ultrapassados’. Não explicando os novos fundamentos ideológicos que o informam, só podemos concluir que devemos estar perante um ‘neo-qualquer-coisa’, como por exemplo, o neoliberalismo onde tudo o que seja serviço público é mau, ineficiente e portanto 'ultrapassado' (como disse).
Mais à frente interrogou-se: “O que seria do sistema de saúde, do SNS e da Segurança Social se não pudessem ter o apoio do sector social?”. Bem aqui foi mais além e derivou para a conceção demo-cristã do sistema (que nunca deve ser entendido como um Serviço Nacional abrangendo a universalidade dos portugueses).
Na verdade, para quem se preocupa com o ‘ultrapassado’ vir a terreiro defender o endosso e a consolidação dos serviços de saúde à volta do sector social, vulgo, às piedosas Misericórdias, instituições caritativas medievas, é significativo em termos de modernidade e, a partir daí, estamos conversados.
E já que falamos em casting, ou erros de casting, a nomeação da ‘artista’ Maria de Belém Roseira, com uma folha de conflitos de interesse verdadeiramente exasperante, para coordenar uma comissão de revisão da Lei de Bases da Saúde, fala por si.
O ex-ministro foi 'botar faladura' ao XXIII Fórum Terapêutico da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e tentou fazer uma bissetriz convergente entre a proposta de Maria de Belém adotada pelo PSD e a Direita do PS e as desgarradas posições do CDS (que sempre considerou o SNS um abcesso na sua 'doutrina de sacristia'). Na realidade, o estatuto de consultor (estratégico?) da Santa Casa da Misericórdia a isso o obriga(rá) link.
E para rematar teve a deselegância (para não lhe chamar outros nomes) de proclamar que a atribuição dos problemas do SNS ao crescimento e fortalecimento dos sectores privado e social (um diagnóstico da atual Ministra) constitui uma “desonestidade política”.
Esta maldosa 'boutade' faz-nos liminarmente concluir que Adalberto Campos Fernandes foi, durante quase 3 anos, este sim, um verdadeiro e clamoroso ‘erro de casting’.
Ou pior, um bastardo equivoco…
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