Marcelo pisca o olho à esquerda?
Marcelo tenta ir marcando o seu espaço guinando agora à esquerda. É evidente o fascínio que a Sr.ª Ségolène exerce sobre o Professor de Direito. Conseguimos vislumbrar que não se trata apenas de ela ser da esquerda “moderna” ou da “terceira via”. Ele entende que Royal se revela a única candidata que conseguirá tirar a França do pântano em que 12 anos de Chirac a afundaram. Por seu turno, o mau desempenho e as piores ideias que o provável candidato Sakozy (um “não-Gaullista”) apresenta não convencem ninguém de bom senso.
Marcelo confessou mesmo que se fosse francês votava no PS! No PS de Ségolène Royal!
Ora, tais declarações não são inocentes. Lembremos que na antevéspera da esmagadora vitória dos democratas nos Estados Unidos, o sempre atento e nunca inocente “comentador” salientava que só um Partido Democrata muito fraco não ganharia a
Casa dos Representantes, tentando desde logo desvalorizar a vitória que se adivinhava… O que nunca imaginou é que os Democratas ganhassem por uma distância tão significativa e que, para mais, recuperassem o Senado e que ganhassem vários Estados ao nível do cargo de Governador.
Marcelo quis afastar-se da Direita que Sakozy representa: o populismo liberal na economia e cínico nas questões sociais e na imigração.
Do mesmo modo, o “eterno candidato” demonstrou grande autoridade ao desferir a critica mais contundente da semana à entrevista do Presidente da República: “Cavaco não tem opinião sobre o mundo”. E remata: “Por que é que ele deu a entrevista?”
Pois… não querendo ser desmancha-prazeres, isso é o que 49,9% dos eleitores portugueses demonstraram já saber e tal facto – que é grave – muito grave! – foi devidamente assinalado pelos seus principais opositores na pugna eleitoral.
Pena é que influentes “opinion makers” – como o Prof. Marcelo – tenham levando ao colo durante 10 anos Cavaco a Belém, sem compreender que a função presidencial precisava de alguém mais mobilizador, mais empenhado, com mais cultura política e humanística.
Mas Marcelo não aprende com os erros! E ficámos todos a saber que nos próximos 9 anos vamos ser convencidos que o inefável Barroso será o “melhor candidato”, “o homem certo” para suceder a Cavaco como Chefe de Estado.
Neste jogo de paradoxos e contradições, Marcelo ou está desorientado ou procura desorientar os portugueses.
Aplaudo o facto de ele apoiar Ségolène e de criticar a fraca entrevista do PR. Mas preocupa-me esta encenação relativamente ao Presidente da Comissão Europeia.
A menos que Marcelo pretenda denunciar com grande antecedência as aspirações do seu companheiro Durão de modo a que este encontre muitos obstáculos e espinhos nessa hipotética caminhada...
E “queimando” Durão, lá ficará, quase sozinho, o eterno candidato, na altura já uma mistura de PS (francês) e PSD (português): o “comentador” Marcelo, pois claro.
Comentários
Previsões de cenários políticos a 10 anos, nos dias que correm, são imaginárias e académicas masturbações verbais.
Destas, só podem sair - como sucedeu Há alguns anos atrás - rocambolescos jantares molhados com "vichyssoise"...
Manuel de Brito/Porto
Um excelente análise caro amigo André.
Um abraço
Manel
Bem visto.
Televisões e jornais pagam a peso de ouro para ter esse tipo de análises.
Fazê-lo gratuitamente é um gesto de generosidade. Obrigado.
Manuel Brito/Porto
Durão Barroso, no calor da refrega política europeia, abandonou o Governo em Lisboa para partir rumo a Bruxelas.
Nessa "transferência" contou com o beneplácito dos EUA (administração Bush) e alguns dos seus aliados na Europa (Blair, Aznar, etc).
Num periodo de crise marcado pelo pós-11 de Setembro, perante uma Europa dividida sobre a guerra do Iraque, Durão Barroso foi "vendido" á comunidade europeia, como uma ponte de diálogo com os States, capaz de minorar os impactos das profundas divergências euro-americanas.
Bush e os seus aliados europeus estão a prestar contas - de distintos modos e em diferentes timmings - sobre os erros estratégios cometidos na luta contra o terrorismo. Ou, melhor, sobre a sua "colagem" às estratégias dos "neo-cons" de luta contra o "terrorismo global" que passam (passaram) - entre outras coisas - pelas "guerras preventivas", como a do Iraque.
Na verdade, esta estratégia produziu efeitos contrários e, sejamos realistas, além de tornar o Mundo mais inseguro, agudizou um conjunto de problemas a nível internacional. Neste momento, o estafado argumento da segurança sobre as "armas de distruição maçiva" encontra-se em colapso.
Elas apressam-se a aparecer, como cogumelos com as primeiras chuvas, no Médio Oriente (Irão) e no Oriente (Coreia do Norte), perante a impotência e o enfraquecimento dos EUA. Agora os EUA, com ou sem aliados europeus, já não têm capacidade para avançar sozinhos. É preciso (obrigatório) negociar no CS da ONU.
Barroso foi um actor, modesto, mas fidelíssimo, deste embroglio.
Este seu posicionamento tem inevitáveis custos políticos. Todos - incluindo Bush com as recentes eleições para o Congresso - os que estavam na "estampa" das Lajes, ou já pagaram ou estão a pagar. Blair, o grande promotor de Barroso na Europa, está de partida.
Não me espantaria que o mandato de Durão Barroso à frente da CE não fosse renovado. Estará próxima - como consequência do seu fatal alinhamento com Bush - a hora da dispensa dos seus serviços em prol de "novas políticas" para a comunidade internacional.
A suceder isso, a estratégia imputada a Marcelo - em relação a Barroso - sofre um sério revés.
Há de facto uma nova abertura e novas perspectivas. Se a Esquerda portuguesa lhe continuar a dar espaço - para o seu "zigzaguear" político - poderá, então, ser tentado a abrir o caminho para si próprio.
Só que o comentador dominical não está no Mundo sozinho e, convenhamos, 10 anos é muito tempo.
Nem a ambição, nem a "esperteza", de Marcelo conseguem ultrapassar este óbice. Daqui a 10 anos Marcelo será um "fóssil" político.
Será o tempo de uma nova geração.
É isso que mostra a recente "nomeação" de Segolene Royal para disputar a presidencia da República Francesa. Foi feita em detrimento das velhas "raposas" do PSF.
Embora possam demorar, estas "mudanças", acabam sempre por chegar, mais tarde ou mais cedo, a Portugal.
http://fr.wikipedia.org/wiki/Gustave_Le_Bon
RE: É isso mesmo.