Jornal de Notícias PSP apreendeu livro de pintura por considerar capa pornográfica 19h36m
A PSP de Braga apreendeu, esta segunda-feira numa feira de livros de saldo, alguns exemplares de um livro sobre pintura considerando que o quadro reproduzido na capa, do pintor Gustave Courbet, é pornográfico, disse fonte da empresa livreira. António Lopes adiantou que os três agentes policiais elaboraram um auto no qual afirmam terem apreendido os livros por terem imagens pornográficas expostas publicamente. O quadro do pintor oitocentista - tido como fundador do realismo em pintura - expõe as coxas e o sexo de uma mulher, sendo, por isso, a sua obra mais conhecida. Pintado em 1866, está exposto no Museu D'Orsay em Paris. Em declarações à Lusa, António Lopes manifestou-se "indignado" com a atitude da PSP: "isto é uma vergonha, um atentado à liberdade", afirmou. O empresário é um dos sócios da distribuidora 'Inovação à Leitura', de Braga, organizadora da Feira do Livro em Saldo e Últimas Edições, que está a decorrer, até ao dia 8 de Março, na Praça da República - vulgo Arcada - no centro de Braga. Segundo os especialistas, Gustave Courbet era já um pintor "conhecido em França pela sua destreza técnica mas sobretudo pela sua atitude crítica e corrosiva em relação à sociedade burguesa, que não perdia ocasião de afrontar". Courbet, um socialista convicto, ao representar frontalmente as coxas e o sexo de uma mulher, com o quadro "A Origem do Mundo" abalou profundamente o meio artístico, tendo a sua exposição pública sido proibida na época.
Na verdade, depois do 25 de Abril - pensava eu - teria desaparecido da face desta lusitana terra, esse famigerado conceito de polícia de costumes. Acostumei-me a esta ideia…
Um organismo policial que vive na senda de uma sociedade rigorosamente vigiada, totalmente regulamentada, incluindo os espaços públicos, as ruas, as praças, os escaparates, as feiras etc. e vela – noite e dia - pelos costumes dos espúrios e devassados de alguns viciosos portugueses contra a púdica inocência dos “puros” e castos…certamente que passará - nestes tempos de democracia - por problemas identitários, internos. Quanto mais não seja quanto à formação dos seus agentes.
Deste grave incidente, não podemos ocultá-lo ou desvalorizá-lo, supõe-se que persistam na sociedade portuguesa “julgadores” dos maus e bons costumes e possuidores (?) de "braços armados", para expurgar esses vícios, em substituição do culto da liberdade, da educação e da responsabilidade.
Esses bons costumes seriam, definidos por qualquer alimária auto-investida em imaginárias funções de zeladoras da sacrossanta moralidade pública. O exemplo que colhi de um outro blog mostra à saciedade o que foi essa polícia dos costumes, as suas preocupações e as suas sanções… link " POLÍCIA DE COSTUMES Corria o longínquo ano de 1953 quando a Camara Municipal de Lisboa publicou a Portaria nº 69.035, destinada a aumentar o policiamento em zonas então consideradas "quentes". Pela curiosidade do texto, aqui o reproduzimos sem comentários. "Verificando-se o aumento de actos atentatórios à moral e aos bons costumes, que dia a dia se vêm verificando nos logradouros públicos e jardins e, em especial, nas zonas florestais Montes Claros, Parque Silva Porto, Mata da Trafaria, Jardim Botânico, Tapada da Ajuda e outros, determina-se à Polícia e Guarda Florestais uma permanente vigilância sobre as pessoas que procurem frondosas vegetações para a prática de actos que atentem contra a moral e os bons costumes. Assim, e em aditamento àquela Postura nº 69035, estabelece-se e determina-se que o artº 48º tenha o cumprimento seguinte: 1º Mão na mão............2$50 2º Mão naquilo..........15$00 3ºAquilo na mão.........30$00 4º Aquilo naquilo.......50$00 5º Aquilo atrás daquilo.100$00 Parágrafo único Com a língua naquilo, 150$00 de multa, preso e fotografado."
Uma polícia repressiva, vigilante dos comportamentos pessoais e condicionadora das atitudes íntimas, defensora de uma higiene sexual mesmo nos mais reconditos espaços, uma organização tipicamente fascista. Elaborava ad hoc juízos de valor sobre comportamento dos cidadãos, tornando-os nuns irresponsáveis, retirando-lhe personalidade política e, também, jurídica, em estricto respeito pelas posturas municipais, editadas pelos guardiães da decência...
Mas, também, uma polícia “moralista”, todavia, empenhada em esconder das vistas mundanas os secretos vícios que sempre acompanham estas hipócritas atitudes. Não nos podemos esquecer do famoso episódio do “Ballet Rose”, onde a Polícia de Costumes, estava distraída…ou adestrada. Tanto faz!
Não sejamos hipócritas ao olhar este grave atropelo. A atitude protagonizada pelos agentes da PSP de Braga, afecta o prestígio da corporação e, é, no regime democrático em que vivemos, uma miserável reminiscência dos tempos ditatoriais, quase da época inquisitória.
Provavelmente, os agentes que se dirigiram à feira de livros, foram enviados ao local por algum falso e austero puritano ferido nas suas castas retinas pela célebre imagem de Gustave Courbet e, com certeza, (falta a necessária investigação) tiveram a cobertura de algum responsável da organização policial (as famosas "ordens superiores"...) que, neste momento, ninguém conhece ou encontra.
Entretanto, esqueceram-se que a PSP tem por missão assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos, nos termos da Constituição e da Lei.
O que se passou em Braga envergonha o País e não abona em favor de uma polícia que deve pautar-se por uma actuação cívica.
Se não, os portugueses para além de feridos no exercício das nossas liberdades reconquistadas há mais de 30, acabam – outra vez – nas capas das revistas e da imprensa internacionais, como sucedeu no caso das “mães de Bragança”, objecto - pelo burlesco dos incidentes - da chacota do Mundo…
Aguardamos as declarações do Ministro da Administração Interna. Ele é o responsável político! Ou toma medidas para evitar que isto se repita e pede desculpas - em nome dos seus homens por este grave incidente - ou está a ser cumplice neste atentado à Constituição!
Afinal, segundo o comunicado da PSP de Braga, tratou-se de uma actuação preventiva ou de uma medida cautelar, como foi sublinhado, no comunicado de hoje. As entidades que podem implementar estes 2 actos não são diferentes? As medidas cautelares não têm de ser requeridas aos tribunais? Como não conheço a legislação jurídica deixo esta questão em suspenso.
Mas, seja como for, uma obra de arte exposta num dos principais museus do Mundo (Museu D'Orsay) que alberga para além de um vasto espólio da pintura impressionista, obras pintadas pintadas por artistas nascidos depois de 1820 e que foram transferidas do Louvre, não pode ser suspeitas, nem lançar sobre Coubert o labéu de artista pornográfico. A PSP não pode actuar sob a pressão de púdicos, mesmo que influentes e ruidosos, ou indignados, nem invocar, como fez, as crianças. Caso contrário, daqui a pouco, estaremos a colocar, em muitos quadros, aquele símbolo anelar vermelho no canto superior direito das telas.... E se levar o ofício às últimas consequencias chegará ao museu do Vaticano...
De facto, o ministro da Administração Interna, que tutela a PSP, já devia ter tomado posição pública sobre este assunto que, em minha opinião, assenta numa grande dose de precipitação. Mas, enquanto não o fizer, i.e., enquanto o MAI não explicar claramente, sem subterfúgios ou falsos pretextos, persiste o atentado às liberdades.
O comunicado da PSP de Braga, em termos essenciais, isto é, no que diz respeito à salvaguarda das liberdades constituicionais, nada adianta. Só diz que a PSP foi pressionada por frequentadores da feira de livros e, face a isso, atreveu-se a interpretar uma capa de um livro como pornografia, quando se tratava da reprodução de uma obra de arte. Esta última parte, é um exemplo acabado de como se pode - acredito que de boa fé - exorbitar competências.
Quanto mais tempo a tutela demorar a intervir, menor consideração mostra pelos concidadãos e mais tempo expõe o País ao ridículo...
Como a ignorância é triste...Também nos tempos da PIDE esta apreendia tudo o que lhe cheirasse a diferente ou avaliava os conteúdos pelo título, acontecendo algumas vezes deixar ficar o que era realmente importante e levar o que não tinha importância nenhuma. Neste caso, deve andar perdida alguma mãe de Bragança. Só não sei por que razão não apreendem também o Correio da Manhã...
Um dos homens que em Portugal sabe desta ‘poda’ (financeira), isto é, das suas ' maningâncias ' assente num saber camoniano (de 'experiência feito') é João Rendeiro (de sua graça) que resolveu produzir sobre o ‘caso GES/BES’, em desenvolvimento, algumas afirmações deveras preocupantes. Trata-se de um expert que sendo, neste momento, um dos principais arguidos no processo BPP ostenta publicamente o ‘ savoire faire ’ relativo a estas coisas e é tido pelos ‘ mercados ’ como um analista qualificado (que terá apreendido com o ‘desastre BPP’). Este ex-banqueiro (actualmente está inibido de exercer essa ‘profissão’) que virou comentador económico-financeiro na blogosfera ( link ; link ) admite que o impacto na economia gerado pela ‘crise GES/BES e associados’ poderá ser quantificado numa queda do PIB que atingirá 7,6% link . Até aqui as preocupações políticas (do Governo e dos partidos) têm-se centrado sobre quem vai pagar a falência do Grupo (BES incluído) e as c...
1789 – A Assembleia Constituinte francesa aprova a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. (Fizeram mais os deputados franceses num só dia do que todos os clérigos desde que o deus de cada um deles criou o Mundo). 1931 – Tentativa de golpe de Estado em Portugal contra a ditadura. (Há azares que se pagam durante duas gerações. Este levou quase 43 anos a reparar). 2004 – O Supremo Tribunal do Chile retirou a imunidade ao antigo ditador Augusto Pinochet. (Vale mais tarde do que nunca).
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Jornal de Notícias
PSP apreendeu livro de pintura por considerar capa pornográfica
19h36m
A PSP de Braga apreendeu, esta segunda-feira numa feira de livros de saldo, alguns exemplares de um livro sobre pintura considerando que o quadro reproduzido na capa, do pintor Gustave Courbet, é pornográfico, disse fonte da empresa livreira.
António Lopes adiantou que os três agentes policiais elaboraram um auto no qual afirmam terem apreendido os livros por terem imagens pornográficas expostas publicamente.
O quadro do pintor oitocentista - tido como fundador do realismo em pintura - expõe as coxas e o sexo de uma mulher, sendo, por isso, a sua obra mais conhecida.
Pintado em 1866, está exposto no Museu D'Orsay em Paris.
Em declarações à Lusa, António Lopes manifestou-se "indignado" com a atitude da PSP: "isto é uma vergonha, um atentado à liberdade", afirmou.
O empresário é um dos sócios da distribuidora 'Inovação à Leitura', de Braga, organizadora da Feira do Livro em Saldo e Últimas Edições, que está a decorrer, até ao dia 8 de Março, na Praça da República - vulgo Arcada - no centro de Braga.
Segundo os especialistas, Gustave Courbet era já um pintor "conhecido em França pela sua destreza técnica mas sobretudo pela sua atitude crítica e corrosiva em relação à sociedade burguesa, que não perdia ocasião de afrontar".
Courbet, um socialista convicto, ao representar frontalmente as coxas e o sexo de uma mulher, com o quadro "A Origem do Mundo" abalou profundamente o meio artístico, tendo a sua exposição pública sido proibida na época.
Na verdade, depois do 25 de Abril - pensava eu - teria desaparecido da face desta lusitana terra, esse famigerado conceito de polícia de costumes.
Acostumei-me a esta ideia…
Um organismo policial que vive na senda de uma sociedade rigorosamente vigiada, totalmente regulamentada, incluindo os espaços públicos, as ruas, as praças, os escaparates, as feiras etc. e vela – noite e dia - pelos costumes dos espúrios e devassados de alguns viciosos portugueses contra a púdica inocência dos “puros” e castos…certamente que passará - nestes tempos de democracia - por problemas identitários, internos.
Quanto mais não seja quanto à formação dos seus agentes.
Deste grave incidente, não podemos ocultá-lo ou desvalorizá-lo, supõe-se que persistam na sociedade portuguesa “julgadores” dos maus e bons costumes e possuidores (?) de "braços armados", para expurgar esses vícios, em substituição do culto da liberdade, da educação e da responsabilidade.
Esses bons costumes seriam, definidos por qualquer alimária auto-investida em imaginárias funções de zeladoras da sacrossanta moralidade pública.
O exemplo que colhi de um outro blog mostra à saciedade o que foi essa polícia dos costumes, as suas preocupações e as suas sanções… link
" POLÍCIA DE COSTUMES
Corria o longínquo ano de 1953 quando a Camara Municipal de Lisboa publicou a Portaria nº 69.035, destinada a aumentar o policiamento em zonas então consideradas "quentes".
Pela curiosidade do texto, aqui o reproduzimos sem comentários.
"Verificando-se o aumento de actos atentatórios à moral e aos bons costumes, que dia a dia se vêm verificando nos logradouros públicos e jardins e, em especial, nas zonas florestais Montes Claros, Parque Silva Porto, Mata da Trafaria, Jardim Botânico, Tapada da Ajuda e outros, determina-se à Polícia e Guarda Florestais uma permanente vigilância sobre as pessoas que procurem frondosas vegetações para a prática de actos que atentem contra a moral e os bons costumes. Assim, e em aditamento àquela Postura nº 69035, estabelece-se e determina-se que o artº 48º tenha o cumprimento seguinte:
1º Mão na mão............2$50
2º Mão naquilo..........15$00
3ºAquilo na mão.........30$00
4º Aquilo naquilo.......50$00
5º Aquilo atrás daquilo.100$00
Parágrafo único
Com a língua naquilo, 150$00 de multa, preso e fotografado."
Uma polícia repressiva, vigilante dos comportamentos pessoais e condicionadora das atitudes íntimas, defensora de uma higiene sexual mesmo nos mais reconditos espaços, uma organização tipicamente fascista.
Elaborava ad hoc juízos de valor sobre comportamento dos cidadãos, tornando-os nuns irresponsáveis, retirando-lhe personalidade política e, também, jurídica, em estricto respeito pelas posturas municipais, editadas pelos guardiães da decência...
Mas, também, uma polícia “moralista”, todavia, empenhada em esconder das vistas mundanas os secretos vícios que sempre acompanham estas hipócritas atitudes.
Não nos podemos esquecer do famoso episódio do “Ballet Rose”, onde a Polícia de Costumes, estava distraída…ou adestrada. Tanto faz!
Não sejamos hipócritas ao olhar este grave atropelo.
A atitude protagonizada pelos agentes da PSP de Braga, afecta o prestígio da corporação e, é, no regime democrático em que vivemos, uma miserável reminiscência dos tempos ditatoriais, quase da época inquisitória.
Provavelmente, os agentes que se dirigiram à feira de livros, foram enviados ao local por algum falso e austero puritano ferido nas suas castas retinas pela célebre imagem de Gustave Courbet e, com certeza, (falta a necessária investigação) tiveram a cobertura de algum responsável da organização policial (as famosas "ordens superiores"...) que, neste momento, ninguém conhece ou encontra.
Entretanto, esqueceram-se que a PSP tem por missão assegurar a legalidade democrática, garantir a segurança interna e os direitos dos cidadãos, nos termos da Constituição e da Lei.
O que se passou em Braga envergonha o País e não abona em favor de uma polícia que deve pautar-se por uma actuação cívica.
Se não, os portugueses para além de feridos no exercício das nossas liberdades reconquistadas há mais de 30, acabam – outra vez – nas capas das revistas e da imprensa internacionais, como sucedeu no caso das “mães de Bragança”, objecto - pelo burlesco dos incidentes - da chacota do Mundo…
Afinal, segundo o comunicado da PSP de Braga, tratou-se de uma actuação preventiva ou de uma medida cautelar, como foi sublinhado, no comunicado de hoje.
As entidades que podem implementar estes 2 actos não são diferentes? As medidas cautelares não têm de ser requeridas aos tribunais? Como não conheço a legislação jurídica deixo esta questão em suspenso.
Mas, seja como for, uma obra de arte exposta num dos principais museus do Mundo (Museu D'Orsay) que alberga para além de um vasto espólio da pintura impressionista, obras pintadas pintadas por artistas nascidos depois de 1820 e que foram transferidas do Louvre, não pode ser suspeitas, nem lançar sobre Coubert o labéu de artista pornográfico.
A PSP não pode actuar sob a pressão de púdicos, mesmo que influentes e ruidosos, ou indignados, nem invocar, como fez, as crianças.
Caso contrário, daqui a pouco, estaremos a colocar, em muitos quadros, aquele símbolo anelar vermelho no canto superior direito das telas.... E se levar o ofício às últimas consequencias chegará ao museu do Vaticano...
De facto, o ministro da Administração Interna, que tutela a PSP, já devia ter tomado posição pública sobre este assunto que, em minha opinião, assenta numa grande dose de precipitação.
Mas, enquanto não o fizer, i.e., enquanto o MAI não explicar claramente, sem subterfúgios ou falsos pretextos, persiste o atentado às liberdades.
O comunicado da PSP de Braga, em termos essenciais, isto é, no que diz respeito à salvaguarda das liberdades constituicionais, nada adianta.
Só diz que a PSP foi pressionada por frequentadores da feira de livros e, face a isso, atreveu-se a interpretar uma capa de um livro como pornografia, quando se tratava da reprodução de uma obra de arte.
Esta última parte, é um exemplo acabado de como se pode - acredito que de boa fé - exorbitar competências.
Quanto mais tempo a tutela demorar a intervir, menor consideração mostra pelos concidadãos e mais tempo expõe o País ao ridículo...
Neste caso, deve andar perdida alguma mãe de Bragança. Só não sei por que razão não apreendem também o Correio da Manhã...