A recessão e o oportunismo
Os partidos da Oposição atribuíram os números da recessão às más políticas do Executivo, após dados divulgados pelo INE a revelarem que a economia portuguesa decresceu 2% no quarto trimestre de 2008 e terminou o ano em recessão técnica.
Provavelmente têm razão, mas há motivos que levam a desconfiar da bondade do diagnóstico: a alegria de alguns porta-vozes e a ocultação das receitas, quiçá para que o Governo não as ponha em prática.
Somos um país de aldrabões? Em política só há quem minta? Se os governantes procuram – como devem – lançar o optimismo para que a derrocada não seja maior, a economia não se afunde ainda mais e os consumidores não entrem em depressão, vêm os que mentiam ontem a dizer que mentem os de hoje.
Com a dimensão da actual crise, os videntes são obrigados a mudar de ramo e de rumo e, em vez de alternativas, semeiam ilusões, apelam a sentimentos básicos e fazem demagogia. Parecem mais interessados na conquista do poder do que na aflição dos que perdem o emprego ou não o encontram, dos que já têm fome e dos que sentem medo.
É mais fácil assassinar o carácter de alguém do que apresentar uma receita para a crise quando as circunstâncias mudam constantemente. A direita, que se julgava ungida para governar, disfarça a falta de credibilidade própria pretendendo corroer a alheia.
Comentários
Os dados fornecidos pelo INE sobre a evolução da economia portuguesa no 4º. trimestre de 2008, pecaram por tardios.
Se tivessem sido disponibilizados uns dias antes (uns poucos dias...), poderiam ter influenciado, positivamente, a qualidade da discussão na AR, sobre Economia.
Aproximam-se as eleições e as sessões regulares da AR, com o Governo, tornam-se autênticos torneios eleitorais...(ia escrever medievais!)
Continuamos a divergir - na evolução da economia - da média europeia (UE).
Um mau sinal!
Significa que a nossa recuperação económica vai ser lenta, demorada.
O alongamento do período de recessão pode conduzir-nos para uma profunda depressão.
Nesta eventualidade, os portugueses e as portuguesas que já "contam" com uma catástrofe económica, mas, poderão encontrar pela frente, simultaneamente, inquietantes convulsões sociais.
As convulsões sociais vão, com certeza, perturbar a convivência entre os portugueses.
Não haverá mais lugar para "chicanas políticas", diletantismos, na AR, ou em qualquer outro lugar.
De súbito, tudo se tornará sério, pesado, duro, quando não, grave.
E a situação explosiva.
Os partidos políticos têm de ter a noção que, no caso de importantes convulsões sociais, correm um sério risco de perder o controlo da situação.
O desemprego galopante é um rastilho suficiente para incendiar a sociedade.
Movimentos populares expontâneos, anarquicamente constituídos, por vezes violentos, surgirão, por todo o lado e, no terreno, vão substituir a acção dos partidos políticos.
Assim, os partidos terão de encontrar plataformas de actuação, entendimentos, planos, propostas, tréguas nas guerras do alecrim e da manjerona, que sejam convicentes para os cidadãos.
É "isso" que os cidadãos exigem aos políticos que elegem ou aos que exercem funções por nomeação. A todos!
Não estou a defender um governo de salvação nacional...
Não estamos no pós-25 de Abril...já temos tempo de sobra para ser uma democracia madura.
Estou a falar de honestidade, de trabalho árduo, de empenhamento, de contenção, de rigor, de humildade e de prudência, no tratar dos assuntos públicos e nas estratégias de desenvolvimento (públicas ou privadas).
Como deve ser numa República!