Os medrosos

Deu-se o facto de estar em Lisboa - onde proferi uma Conferência, no Auditório da Assembleia da República, sobre "A Discriminação das Pessoas que vivem com o VIH,aspectos jurídicos e sociais" - e ter decidido participar num interessante debate no Largo do Rato, com representantes das três moções globais a apresentar ao Congresso Nacional do PS.

Tratou-se de um serão animado, com troca de pontos de vista: sobre a esquerda, sobre o partido, sobre o mundo, sobre Lisboa, sobre a regionalização, sobre as clivagens fortes que há entre o PS e a sua direita e entr o PS e o PC e o BE. Enfim, uma verdadeira noite de "porta aberta", onde todos puderam falar, dizer o que lhes vai na alma e transmitir as suas opiniões.

Nada disto foi notícia na comunicação social.
Ainda bem!
Um partido democrático deve funcionar assim e isso não deve ser, portanto, notícia.

A fechar a noite, o Camarada Edmundo Pedro disse umas palavras simpáticas sobre o Governo e concluiu que, infelizmente, alguns camaradas - no aparelho de Estado - tinham "medo" de assinar a moção que ele apoia ("Mudar para Mudar").

Quem conhece os partidos sabe várias coisas:
1- quando não queremos assinar uma moção, refugiamo-nos em palavras como "tenho agora muito trabalho" ou "já estou comprometido", ou "estou cansado da vida partidária" ou "agora estou neste lugar ("tachito") e pode ser inconveniente", etc. etc.
2- Se o convite vier de uma personalidade como Edmundo Pedro, evidentemente que o convidado hesitará ainda mais. Custa dizer que não a um pai da nossa democracia.
3 - Finalmente, há a raça dos medrosos, que abundam no país e no PS como a chuva no Inverno do Norte de Portugal.

E os medrosos têm tendência para aumentar, na medida em que os partidos se vão enchendo de pessoas sem vida fora deles e para quem ganhar ou perder eleições significa ter ou não ter emprego, porque a sua qualidade profissional ainda não terá sido reconhecida fora dessas portas partidárias.

Donde, as palavras de Edmundo Pedro são muito dúbias.

Será que ele estava a acusar Sócrates e a direcção nacional de perseguir os "dissidentes"?

Ou será que estava a acusar muitos militantes de não terem verticalidade?

Uma coisa é certa: a esmagadora maioria dos camaradas que apoiam a moção "A Força da Mudança", cujo primeiro subscritor é o Camarada José Sócrates, o fazem em liberdade e em plena consciência!

Comentários

FH disse…
quem conhece os partidos sabe várias coisas, sabe tanto que compreende perfeitamente o que Edmundo Pedro quis dizer e disse com todas as letras. O problema põe-se é naqueles que não sabem no que se tornaram os partidos, grandes agências de emprego tachal, desculpe, estatal.

há os medrosos que tão bem explicou, os poderosos que se mantêm sempre à tona, os corajosos que lutam dentro das estruturas partidárias pelos seus ideiais e os resignados que saiem pela porta dos fundos, seguem a sua vida fugindo de tudo o que meta Estado e partidos politicos para bem da sua sanidade mental.
e-pá! disse…
Caro André:

Por uma questão de dignidade pessoal (cultivo um profundo reconhecimento pelos combatentes da liberdade), pelo respeito que me merece Edmundo Pedro e, para além disso, sentindo-me ofendido pelo "papaguear" (recidivante) do Dr. Augusto Santos Silva, armado em zelador da ortodoxia socialista quando alguém da ala esquerda do PS fala ou se manifesta, francamente, não tenho disponibilidade mental para gastar mais tempo com serventuários do Poder.
Tenho vergonha de viver num País assim.
andrepereira disse…
Sabe que a "ala esquerda" é um conceito dinãmico. O Santos Silva era um dos nomes fortes da candidatura de 2004, na qual também me envolvi, de Alegre.
Ele não tratou mal o Camarada Edmundo Pedro. O que se passou naquela noite é que houve 5 ou 6 intervenções de luta local, de questiunculas entre os promotores do denate (Clube A linha) - gente de Cascais e Estoril e seus adversários internos.
Foi nesse contexto que o Santos Silva falou em "coisas menores" ou "miúdezas". E nunca o disse referindo-se a Edmunod Pedro!
Por outro lado, a moção "Mudar para Mudar" dá um enorme ênfase às questões internas e SS afirma que neste ano é fundamental utilizar o congresso para falar para os 10 milhões e propor um programa para os próximos anos...
Há um contexto. Mas os jornalistas fazem as ilações que lhes interessam. Claro que o erro não é dos jornalistas, é do SS que foi "amador" ao não manter sempre o "politicamente correcto"
e-pá! disse…
Caro André:

Não precisa de esforçar-se em justificações inglórias.

Reconheço (de longe e sem proximidades!) Augusto Santos Silva dos "círculos anarcas" (passe a leviandade da expressão) do Porto e, deliciava-me com seus (excelentes) artigos na página de cultura do Jornal de Notícias (Porto). Outros tempos...

Deixei de o reconhecer quando "entrou" para o fechado "Clube de Bildeberg" onde foi iniciado nos meandros da "conspiração". Democrática, por suposto.
Compreendo, portanto, o que se está a passar.

Ou não acha a história do "pigmeu" como mais uma episódio de um humor corrosivo que o vai acabar por destruir?
andrepereira disse…
nem ele nem Alegre se destruirão com estes episódios fugazes...

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