A democracia, a fé e a devoção
A democracia é um sistema estranho, combatido por adversários e adeptos, uns por ódio à doutrina, outros por animosidade aos concorrentes. Churchill dizia que era o pior dos sistemas, com exceção dos outros. E assim é.
Há poucos democratas dispostos a defender rivais, a reconhecer-lhes o direito ao poder ou, sequer, a legitimidade de terem opiniões. Quanto aos antidemocratas, que se batem pela fé que depositam num partido único, num sistema que julgam ideal, com a devoção dos peregrinos de Fátima e a paixão dos adolescentes com cio, nem vale a pena falar.
A democracia representativa não se esgota no voto universal, secreto e livre, mas, sem ela, não há liberdade nem maior justiça social. É premente aprofundá-la na sua vertente económica, política e social, na certeza de que não está na suspensão do funcionamento a salvação da liberdade ou a consolidação democrática.
A democracia custou demasiado sangue. Não foi fácil deslocar a origem divina do poder para a legitimidade do voto popular, e este princípio nunca foi aceite generalizadamente. Não falta quem se conforme, na esperança de manhãs de nevoeiro ou amanhãs ridentes, no desejo de novos paradigmas e velhas receitas, com o retorno de modelos totalitários.
A tortura e o esclavagismo foram erradicados dos hábitos dos países civilizados, há tão poucos anos! A pena de morte permanece em países civilizados e com sistemas penais modernos, sem que a confirmação de sucessivos inocentes mortos faça tremer a mão de legisladores carrascos.
Em vez de uma luta, à escala mundial, contra as ditaduras, a tortura, a pena de morte e a discriminação da mulher, apoiam-se ou esquecem-se obscuros países, apenas porque os ditadores de turno são inimigos dos inimigos de quem os esquece ou apoia.
A luta pela igualdade de direitos, pela educação, saúde e alimentação, sem distinção de sexo, raça, religião ou cor da pele, é um dever que devia sobrepor-se aos ódios herdados da guerra fria ou às vinganças cultivadas durante gerações de terroristas.
Brecht terá sido expulso da escola por, ainda criança, numa redação sobre «não há maior honra do que morrer pela pátria», ter escrito «sou jovem, quero viver».
É neste amor à vida, numa sociedade republicana, laica e democrática, que teremos de encontrar a plataforma mínima de entendimento para a sobrevivência coletiva.
Há poucos democratas dispostos a defender rivais, a reconhecer-lhes o direito ao poder ou, sequer, a legitimidade de terem opiniões. Quanto aos antidemocratas, que se batem pela fé que depositam num partido único, num sistema que julgam ideal, com a devoção dos peregrinos de Fátima e a paixão dos adolescentes com cio, nem vale a pena falar.
A democracia representativa não se esgota no voto universal, secreto e livre, mas, sem ela, não há liberdade nem maior justiça social. É premente aprofundá-la na sua vertente económica, política e social, na certeza de que não está na suspensão do funcionamento a salvação da liberdade ou a consolidação democrática.
A democracia custou demasiado sangue. Não foi fácil deslocar a origem divina do poder para a legitimidade do voto popular, e este princípio nunca foi aceite generalizadamente. Não falta quem se conforme, na esperança de manhãs de nevoeiro ou amanhãs ridentes, no desejo de novos paradigmas e velhas receitas, com o retorno de modelos totalitários.
A tortura e o esclavagismo foram erradicados dos hábitos dos países civilizados, há tão poucos anos! A pena de morte permanece em países civilizados e com sistemas penais modernos, sem que a confirmação de sucessivos inocentes mortos faça tremer a mão de legisladores carrascos.
Em vez de uma luta, à escala mundial, contra as ditaduras, a tortura, a pena de morte e a discriminação da mulher, apoiam-se ou esquecem-se obscuros países, apenas porque os ditadores de turno são inimigos dos inimigos de quem os esquece ou apoia.
A luta pela igualdade de direitos, pela educação, saúde e alimentação, sem distinção de sexo, raça, religião ou cor da pele, é um dever que devia sobrepor-se aos ódios herdados da guerra fria ou às vinganças cultivadas durante gerações de terroristas.
Brecht terá sido expulso da escola por, ainda criança, numa redação sobre «não há maior honra do que morrer pela pátria», ter escrito «sou jovem, quero viver».
É neste amor à vida, numa sociedade republicana, laica e democrática, que teremos de encontrar a plataforma mínima de entendimento para a sobrevivência coletiva.
Ponte Europa / Sorumbático
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