O obscurantismo religioso, a insensibilidade e o aborto
Criança de 10 anos, violada, grávida de 5 meses
No Paraguai, uma menina, com 34 quilos e 139 centímetros de
altura, aguenta o peso de uma insuportável violência e a baixeza do sectarismo
ideológico do juiz que prolonga o sofrimento de mais uma criança que o padrasto
violou.
A religião não é um código sagrado que condene ao sofrimento
e à morte, que suporte a lei ignóbil que vigora no Paraguai onde a IVG só é
legítima em caso de risco de vida da mãe e os preconceitos parecem menosprezar
o risco, onde a alegada vontade divina se sobrepõe aos direitos da mulher e à
tragédia de uma criança.
O risco de vida da mãe é de tal modo desprezado que apenas
se aplicou uma única vez, depois de grande pressão internacional, … numa
gravidez ectópica. Saberão os padres o que é uma gravidez ectópica, o risco que
implica e as sequelas que deixa em qualquer mulher que tenha a fatalidade de
uma gravidez extrauterina? Mas não nos afastemos deste caso apesar de as
estatísticas hospitalares registarem quase 700 casos de meninas entre os 10 e
os 14 anos que deram à luz em 2014.
O ministro da Saúde, que antes de entrar na política foi
médico pessoal do presidente conservador Horacio Cartes, opôs-se
terminantemente ao aborto. O juiz que custodia a menor diz que «a nossa
Constituição protege a vida desde a conceção».
Há casos em que me dilacera a dúvida. Neste, tenho a certeza
de que o médico ministro e o juiz carrasco estão ao nível do padrasto que
violou a criança, na falta de sentimentos e no desprezo pelas mulheres, no
sectarismo pio e na insensibilidade perante as crianças do sexo feminino.
No Paraguai, um país constitucionalmente laico, ainda vigora
a sharia romana.
Raios os partam.
Fonte: El
País
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários