A sociedade e o trabalho
No mesmo dia em que o Tribunal Constitucional chumbou o
aumento da carga horária que o Governo queria impor aos funcionários
autárquicos, a Suécia reduziu a jornada de trabalho de 8 para 6 horas, para
tornar os trabalhadores mais felizes e mais concentrados durante a atividade e
aumentar os índices de produtividade.
Foi uma notícia excelente que devia servir já de exemplo.
Importa mais a distribuição do trabalho e dos lucros do que a produtividade quando
novas tecnologias, ao contrário das de épocas anteriores, destroem pela
primeira vez mais postos de trabalho do que os criados. Os proventos devem ser também
repartidos, o que não pode continuar é a chaga do desemprego.
Parece haver na decisão sueca uma mudança de paradigma em
relação aos anseios de justiça que, no passado, o socialismo demandou, tantas
vezes de forma trágica e com sacrifício das liberdades.
O trabalho é um bem cada vez mais escasso e, por isso, urge
democratizar o acesso. Não se pode conviver com legiões de excluídos, privados
de cidadania, sem que se sinta um sobressalto cívico e na certeza ainda de que nenhuma
sociedade pode sobreviver com as contradições da atual. Não há pensamento
único, por mais poderosos que sejam os seus interesses, que sobreviva à tomada
de consciência coletiva dos espoliados.
A crença no crescimento perpétuo da economia e na infinita
capacidade do Planeta para suportar qualquer excesso demográfico esvaziou-se.
O mar perdeu 60% do peixe no último meio século; o solo
arável diminui todos os anos; o aquecimento global é a evidência que já não se
discute; a poluição aumenta; torna-se irrespirável o ar e a própria água é cada
vez mais escassa. Com os recursos exauridos, o futuro apresenta-se
progressivamente mais sombrio.
O modelo capitalista, que assegurou desenvolvimento e
bem-estar, sem procurar conter o
agravamento das desigualdades, está esgotado. Há quem procure prolongar a
agonia do sistema, na esperança de que o dilúvio apareça depois, enquanto
outros hesitam entre sistemas que fracassaram e a procura de novos equilíbrios.
Não é preciso ser profeta para prever uma catástrofe. As revoluções
acontecem com a tomada de consciência das injustiças e a revolta das vítimas. São
os que mais as temem os que mais as fomentam.
É preciso evitar o abismo à beira do qual nos colocámos.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
A diminuição do horário de trabalho é uma medida que atenuará certamente este desequilíbrio mas, enquanto não forem descobertas medidas que criem atividades de mão-de-obra intensiva o desemprego continuará a ser o maior flagelo das sociedades ditas desenvolvidas.
A tragédia dos bens comuns terá pouco a ver com a tragédia do desemprego estrutural.
Obrigado pelo importante contributo que deu para a minha reflexão e, possivelmente, dos leitores do Ponte Europa.