GUERRA À "PESTE GRISALHA" NA ADVOCACIA
(Texto hoje publicado na secção "Fala o Leitor" do "Diário de Coimbra")
GUERRA
À “PESTE GRISALHA” NA ADVOCACIA
(Comentário
a um artigo do Senhor Dr. Luís Filipe Pereira publicado no Diário
de Coimbra de 4/10/2016)
É
por demais sabido que o governo de Passos Coelho, unicamente
preocupado em aumentar receitas – de preferência à custa dos
pobres e da classe média – e em reduzir despesas – de
preferência à custa dos trabalhadores do Estado e dos pensionistas
–, numa atitude inédita, pelo menos em Portugal, declarou guerra
aos idosos. A ponto de um deputado da coligação PPD/CDS –
com cujo nome não quero conspurcar a memória – ter afirmado
publicamente que os velhos são
uma “peste grisalha”. Nesse combate, ele próprio, o seu governo,
a sua maioria e os escribas ao seu serviço incitaram
sistematicamente os novos contra os velhos.
Esse
governo caiu; mas o veneno ficou. Exemplo disso é o artigo que acima
refiro. O Sr. Dr. Luís Filipe Pereira, do alto dos seus trinta e tal
anos, revela uma “preocupação acrescida” com “a evolução
dos pensionistas” (da CPAS – Caixa de Previdência dos Advogados
e Solicitadores): há pensionistas a mais! E como se isso não
bastasse, muitas das pensões – imagine-se! – são superiores a
€2.500,00 por mês! E há até quem receba pensões entre €4.000,00
e €5.000,00!
O
Sr. Dr. LFP “esquece” que o regulamento da CPAS prevê diversos
escalões de pensões e contribuições, pelos quais cada advogado
pode optar. Como é evidente, quanto mais elevado for o montante da
pensão escolhida, mais elevado é o montante da contribuição
mensal a pagar. Assim, os tais “super-reformados” que recebem
pensões de 5.000,00 euros por mês pagaram em média, ao longo da
sua carreira contributiva, mais
de 1.000,00 euros mensais.
Insurge-se
de seguida o Sr. Dr. LFP contra o facto de os advogados reformados
poderem continuar a exercer. Ora sempre assim foi. E os colegas da
minha geração e eu próprio nunca protestámos contra isso; desde
logo por uma simples razão: lembrávamo-nos de que um dia também
viríamos a ser velhos e a beneficiar de tal possibilidade. Agora
porém, desde que o governo que se orgulhou de “ir além da troika”
procurou lançar os novos contra os velhos, parece que alguns jovens
pensam que serão sempre jovens e que os velhos foram sempre velhos!
Como se a juventude e a velhice fossem duas classes estanques!
Assim,
o Sr. Dr. LFP pretende remeter os advogados velhos para atividade e o
lugar que entende competir-lhes: juntarem-se a jogar a sueca nuns
bancos de jardim.
Finalmente,
há ainda outro grave problema a inquietar o espírito do Sr. Dr.
LFP: é que os advogados pensionistas vivem tempo demais! A sua
esperança de vida é superior em 11% à média nacional!
Como
velho advogado pensionista, o meu receio é que o Sr. Dr. LFP,
assoberbado por todas estas “preocupações”, acabe por propor,
na esteira de exemplos históricos não muito distantes, “a solução
final” do problema da “peste grisalha” dos advogados: a câmara
de gás!
Comentários
Vê como faz falta a sua colaboração frequente neste espaço?
Obrigado por ter valorizado o Ponte Europa onde a sua colaboração é indispensável.
Obrigado pelo seu comentário.
Vou fazer o possível por retomar uma colaboração mais regular.