Fidel de Castro (1926 – 2016).


Morreu o ‘comandante’ da revolução cubana. Castro foi um gigantesco e incontornável protagonista histórico que se tornou um dos mais emblemáticos e consequentes desafiadores do poderio yankee no século XX, nomeadamente depois da II Guerra Mundial.
Mas mais do que isso foi um intrépido e valente lutador pela emancipação política, económica e social do povo cubano, lutando - contra todos os 'bloqueios' - pela implantação de um modelo socialista que impressionou o Mundo.

A revolução cubana teve um nome: Fidel de Castro. Mas mais do que um nome teve na imagem do comandante um exemplo ‘revolucionário’ que galvanizou muitos cubanos e, em todo o Mundo, influenciou a juventude ‘progressista’ da metade do século XX.

Fidel cometeu erros e, hoje mesmo, a Direita sem escrúpulos, sem ter a noção de luto e desprovida de qualquer sensibilidade para uma análise histórica positiva vai vir a terreiro denegri-lo. O gesto fica com quem o promove.

É pessoal, afetivo e convicto mas, neste momento, muito triste para esmagadora maioria do povo cubano, não tenho qualquer rebuço, nem pudor, em confessar que esse Homem (e outros dos seus companheiros como, p. exº., Che Guevara) foi um dos meus heróis de juventude.

Hasta siempre!

Apostila: Hoje, esta triste efeméride faz–me recordar um escrito de Bob Dylan (agora tão celebrizado pela atribuição do Nobel da Literatura):
“ Eu acho que um herói é alguém que entende o grau de responsabilidade que vem com a sua liberdade”.

Comentários

Jaime Santos disse…
Se a definição de um herói fosse essa, Castro seria puramente um vilão. Detesto aqueles que celebram a morte de quem quer que seja, mas não tenho pejo em reafirmar que Fidel era um ditador que suprimiu as liberdades políticas em Cuba e destruiu muitas vidas durante o seu 'reinado'. Sim, Fidel foi um herói enquanto se opôs ao despotismo de Bautista, mas depois assumiu um nacionalismo esquerdista de cariz autoritário, com tiques pessoais peronistas, próprios da América Latina (e dos EUA, embora ninguém admita isso, mas foi lá que o Presidencialismo surgiu) e a partir daí, independentemente do apoio que deu a muitos movimentos de libertação por esse mundo fora, a sua reputação enquanto tirano ficou irremediavelmente selada. A liberdade dos povos não pode fazer-se nunca à custa da liberdade dos indivíduos, porque de outro modo não são os povos que se libertam e meramente novas elites locais que ocupam o lugar das antigas elites imperiais. Ora isso, francamente, não é lá grande evolução...
e-pá! disse…
Não consigo fazer parar a história da luta de Fidel com o derrube de Baptista. Este facto histórico não permaneceu isolado do processo revolucionário que se desenvolveu foi muito complexo e armadilhado. Até aqui (ao derrube de Baptista) foi a doutrina Marti que imperou muito influenciada pelos nacionalismos sulamericanos de raiz anticolonial.

Depois, quando da inclusão do Partido Comunista Cubano no processo revolucionário as circunstâncias mudaram substancialmente. Não estão em causa processos repressivos humanamente inaceitáveis (que tiveram lugar) mas a 'revolução cubana' não ficou indemne à guerra fria. Mas quando falamos disso temos também de invocar JK Kennedy e a célebre invasão da 'Baía do Porcos' que não foi uma passeata pelas Caraíbas. O desenvolvimento do processo revolucionário em Cuba foi difícil, sinuoso e duro e se existisse necessidade de alguma prova bastaria recordar o princípio do fim do bloqueio que começou a ser 'descongelado' há muito pouco tempo...

De qualquer maneira, o meu entusiasmo juvenil (que senti necessidade de recordar) insere-se na epopeia do derrube do regime do ditador Baptista, que transformou Cuba num lupanar dos marines e prossegue quando reconheço as dificuldades que terá sido levantar uma insurreição armada nas barbas dos EUA.

De resto, no meu comentário, sinteticamente, reconheço: "Fidel cometeu erros..."
Jaime Santos disse…
Perdoe-me, mas existe uma diferença de vulto entre meros erros e crimes. O que foi cometido em Cuba foram crimes contra a Vida e a Liberdade. E o lugar de um criminoso é por detrás das grades, passem embora as 'atenuantes' (e Fidel morreu numa cama, presume-se que rodeado dos seus). Como ontem bem disse o Porfírio Silva, o Socialismo não se pode conceber se não for em Liberdade e foi isso que as diferentes experiências marxistas-leninistas foram sucessivamente negando aos povos dos Países onde foram tentadas (para além de se terem revelado desastres económicos, mesmo em Países ricos como a Venezuela ou Angola, nesta última convertida em Capitalismo de Estado). Eu compreendo a simpatia que Fidel gerou nas pessoas que amadureceram politicamente nos anos 50 ou 60, mas infelizmente hoje sabemos muito mais, e tal como os comunistas confrontados com as purgas estalinistas, ou deitamos o marxismo-leninismo para o caixote do lixo da História, ou então não temos desculpa. Como não tem Fidel desculpa, aliás, é uma ironia do destino que o libertador do seu povo se tenha simplesmente tornado um novo torcionário...
e-pá! disse…
Referi que Fidel foi um dos meus heróis de juventude.
Vou precisar, em 1953, tendo menos de 10 anos, o assalto ao quartel de Moncada, e o julgamento que se seguiu, impressionaram-me tremendamente. Foi assim e foi 'só' isso que quis relatar.
Jaime Santos disse…
Eu compreendi o significado do seu texto, e saúdo a coragem de ter dito o que disse mesmo contra a corrente.Também eu acho que Fidel foi um herói, mas penso que a História olhará para ele sobretudo como um vilão e não o absolverá. Por isso, não sendo eu de Direita e não tendo qualquer simpatia pelos torcionários que muitos nesse campo admiram secretamente, enquanto escarnecem de Fidel, não posso deixar de afirmar que sendo o principal dos valores da Esquerda o da Liberdade Plena dos Homens e das Mulheres (e que só pode verdadeiramente alcançar-se numa Sociedade Igualitária e Fraterna), é especialmente grave que alguém que se dizia de Esquerda como Fidel tenha traído aquele que deveria ser o valor supremo deste Espaço Político...

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