O princípio do fim da ditadura

Salazar – 29 de julho de 1970

O País não era apenas o offshore da sanidade mental, como ora se diria em português, era a apoteose do ridículo ao nível do aparelho de Estado.

Portugal suportou a mais longa ditadura europeia, a mais inútil e injusta guerra colonial, a maior fuga em massa à miséria, para a Europa, enquanto o ditador e os seus cúmplices usavam a censura implacável, prisões sem culpa formada, tortura de presos, julgamentos nos Tribunais Plenários e todas as velhacarias em que as ditaduras são férteis.

Julgou-se que o caruncho, no seu incansável labor, tendo corroído uma cadeira, acabaria com décadas de ignorância, fome, atraso civilizacional, analfabetismo, decadência ética, guerra e marginalização internacional, provocando a queda do ditador e da ditadura. Puro engano! Marcelo foi apenas o seguidor que ensaiou a continuação da ditadura com rosto humano, até se desmascarar e precisar do MFA para acabar com os desmandos.

O fim da ditadura e o heroísmo dos Militares de Abril, por mais azia e ranger de dentes que ainda despertem em meios reacionários, aconteceram. E, disso, todos sabem.

Mas é o ridículo, que dificilmente algo sublinharia melhor do que a foto que encontrei hoje na NET, e aqui deixo, que me levou a escrever este texto para gáudio dos leitores. Não se pode ficar indiferente à foto. Documenta o velório de Salazar, abrilhantado por Gabriel Monjane, o Gigante de Manjacaze, um negro moçambicano cuja desregulação hormonal o fizera crescer até aos 2,45 metros, com os horríveis padecimentos do gigantismo, e o anão de Arcozelo, seu companheiro num circo que os explorava como «o homem mais alto do mundo e o mais baixo».

Quem terá requisitado ao circo os dois infelizes para as cerimónias fúnebres de Salazar?

O SNI, a União Nacional, a Legião, a Pide, o ministro do Interior? Ignoro a origem da adjudicação que transformou a cerimónia fúnebre num espetáculo de circo. O ditador que iniciava a defunção bem merecia uma gargalhada de alívio. Mas a Pide também lá estava, a guardar o morto que não fugia.

Comentários

Agostinho disse…
Hilariante tragédia.
(Convém corrigir a legenda. O ano leva a sessão para a idade média.)

Abraço
Agostinho:

Obrigado por ser um leitor atento. Vou emendar.
e-pá! disse…
Depois da foto persegue-me a dúvida se o 'botas' era de Santa Comba ou de Arcozelo?
Pela imagem e pela estatura parece-me de Arcozelo...

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