O PR e Fátima
Marcelo Rebelo de Sousa não era, nem podia ser, o meu candidato a PR, mas a forma como tem exercido o cargo leva-me a dispensar-lhe mais do que o respeito que a função exige. A inteligência, cultura e simpatia, aliadas ao exemplar sentido de Estado, fizeram dele, ampliado pelo contraste com o antecessor, um PR respeitado e estimado.
Belém é hoje um local melhor frequentado, mais rigoroso nas contas e menos perigoso na intriga contra o Governo. Marcelo resgatou a dignidade do cargo e, por mais dúvidas que existam, é um republicano, o primeiro a dispensar a presença da acompanhante, que a Constituição não prevê.
Dito isto, sem a ofensa de o comparar ao antecessor, a religião leva-o a trair a laicidade a que é obrigado, como se a fé não fosse assunto particular e não um motivo de exibição pública que põe em causa a laicidade do Estado.
Depois do lastimável beija-mão ao Papa, ato humilhante para o País, reincidiu na 25.ª Cimeira Ibero-Americana convidando os chefes de Estado e de Governo a visitarem Fátima nas comemorações do centenário dos acontecimentos de 1917 na Cova da Iria, ofensa que a imprensa autóctone quis alargar ao PM. Destaco da sua intervenção: «Na cultura entram também crenças e formas de circulação, crenças religiosas. Recordo para o ano o centenário de Fátima em Portugal, para o que estais convidados».
Não discuto a encenação grotesca de Fátima contra a República nem o aproveitamento ulterior da superstição popular contra o comunismo e, agora, contra o ateísmo. Reprovo o convite do PR, não em nome de todos os portugueses, mas como comissário do reitor do santuário ou delegado da Conferência Episcopal.
A dignidade do cargo não se conforma, num Estado laico, com convites pios. O respeito que é devido aos crentes da concorrência, e aos não crentes, impedem que o PR utilize o cargo para proselitismo religioso e promoção do mais rentável espaço do sector terciário da Igreja católica em Portugal.
O patriarca de Lisboa também não convidou os bispos ibero-americanos para visitarem a Rotunda, no centenário da República.
Belém é hoje um local melhor frequentado, mais rigoroso nas contas e menos perigoso na intriga contra o Governo. Marcelo resgatou a dignidade do cargo e, por mais dúvidas que existam, é um republicano, o primeiro a dispensar a presença da acompanhante, que a Constituição não prevê.
Dito isto, sem a ofensa de o comparar ao antecessor, a religião leva-o a trair a laicidade a que é obrigado, como se a fé não fosse assunto particular e não um motivo de exibição pública que põe em causa a laicidade do Estado.
Depois do lastimável beija-mão ao Papa, ato humilhante para o País, reincidiu na 25.ª Cimeira Ibero-Americana convidando os chefes de Estado e de Governo a visitarem Fátima nas comemorações do centenário dos acontecimentos de 1917 na Cova da Iria, ofensa que a imprensa autóctone quis alargar ao PM. Destaco da sua intervenção: «Na cultura entram também crenças e formas de circulação, crenças religiosas. Recordo para o ano o centenário de Fátima em Portugal, para o que estais convidados».
Não discuto a encenação grotesca de Fátima contra a República nem o aproveitamento ulterior da superstição popular contra o comunismo e, agora, contra o ateísmo. Reprovo o convite do PR, não em nome de todos os portugueses, mas como comissário do reitor do santuário ou delegado da Conferência Episcopal.
A dignidade do cargo não se conforma, num Estado laico, com convites pios. O respeito que é devido aos crentes da concorrência, e aos não crentes, impedem que o PR utilize o cargo para proselitismo religioso e promoção do mais rentável espaço do sector terciário da Igreja católica em Portugal.
O patriarca de Lisboa também não convidou os bispos ibero-americanos para visitarem a Rotunda, no centenário da República.
Comentários
A laicidade do Estado tornou um enfeite que se exibe em cerimónias republicanas onde se fala de princípios como fez Marcelo, este ano, no 5 de Outubro.
Quando cheira a promover negócios, ou a propagandear destinos turísticos (entre eles os religiosos)vale tudo e os princípios são lançados às urtigas.
A beatitude latente do Presidente da República vem à tona quando as situações apertam. Não prestigia o País, nem é bonito. Os sacro-impérios afundaram-se na voracidade dos bárbaros. Agora a voracidade tem um sentido contrário e Marcelo deveria orgulhar-se de não ser a expressão de um mandato divino.
Segundo penso, já que não há uma frontal separação entre Igreja e Estado deveria ser seguido - pelo menos em parte - um princípio eminentemente 'cristão': a César o que é de César e ...