O patriarca Clemente e D. João V – 300.º aniversário do Patriarcado de Lisboa

Raramente um barrete cardinalício hereditário foi tão caro como o que cobre D. Manuel José Macário do Nascimento Cardeal Clemente (nome canónico), modestamente tratado por ‘Sua Eminência D. Manuel Clemente’ ou, simplesmente, por D. Manuel Clemente, nos jornais.

Do ouro chegado do Brasil (várias toneladas anuais), acabaram generosas quantidades na Cúria romana, especialmente por intermédio do Papa Clemente XII. Foi ‘por’ graça desse papa, e não ‘de’ graça, que D. João V ganhou o título de “Fidelíssimo”, apesar de ter feito do convento de Odivelas o seu bordel privativo e das freiras mães de alguns dos seus filhos. A graciosa madre Paula, a sua predileta, estava sempre pronta a interromper as orações para receber, no tálamo, Sua Majestade e trocar o êxtase místico pelo real (no duplo sentido).

Há 300 anos, no dia 7 p.p., Lisboa passou a ter a honra de ser uma das raras cidades onde o bispo assume o direito ao título de Patriarca e ao barrete cardinalício no primeiro consistório que houver, salvo se o cardeal emérito ainda puder ser eleitor papal (sucedeu a D. Clemente com D. Policarpo dentro do prazo de validade, menos de 80 anos).

Na entrevista desse dia (DN, pág. 18 e 19), Sua Eminência “D. Manuel Clemente elogia D. João V como campeão da fé”, o que se percebe do defensor do óbolo estatal para os colégios particulares para com o rei que não admitia outra religião que não fosse a católica, e que mandou fazer para Mafra um sino que pesava mais de trezentas arrobas.

Como não elogiar D. João V em cujo reinado foi torturado pela Inquisição António José da Silva, o Judeu, um dos maiores dramaturgos portugueses de todos os tempos, que foi garrotado antes de ser queimado num Auto-de-Fé, em Lisboa, em outubro de 1739, com 34 anos de idade!

O barrete cardinalício fez perder a cabeça ao patriarca Clemente.

Ponte Europa / Sorumbático

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