Passos Coelho – o académico precário_2
«Passos vai dar aulas de Administração Pública e Economia (…) no ISCSP, onde deverá ser professor convidado catedrático.»
Quando Passos Coelho, ainda com o pin da bandeira de Portugal ao peito, anunciou que ia dedicar-se à vida académica, julgou-se que ia fazer uma pós-graduação ou tentar um mestrado, numa escola prestigiada, para valorizar a tardia licenciatura.
A surpresa surgiu quando afirmou que ia dar aulas em três universidades, surpresa que se transformou em estupefação quando a comunicação social informou que ia dar aulas em mestrados e doutoramentos; e a estupefação virou pasmo quando uma Universidade pública o contratou como “professor convidado catedrático”, até agora sem desmentido a repor o bom nome da instituição pública.
O seu currículo podia igualmente dar-lhe acesso a general de 4 estrelas nas FA, por ter nomeado ministros da Defesa; a juiz, do Tribunal de Contas, pela forma como geriu as contas do Estado; do Constitucional, pela experiência de chumbos dos OE; do STJ, pela ignorância de que é preciso pagar à Segurança Social e usar bem os fundos europeus que a UE reclama de volta; a diretor do SIS, pelas relações com Relvas, Marco António e Marques Mendes, excelentes informadores; etc.; etc...
Não censuro Passos Coelho por aceitar o lugar para o qual não tem condições mínimas, tal como sucedeu com o de PM, mas exijo, como cidadão, que a direção do ISCSP diga qual o critério que presidiu ao aviltamento do Ensino Superior Público. A instituição está em causa e, com ela, todos os que tiveram longo e exigente percurso para chegarem a professores catedráticos. Não se sabe se o facto de o diretor ter sido deputado do PSD é alheio ao convite e à distinção académica.
Por mais ex-dirigentes do PS que se apressem a defender o novo catedrático, com igual entusiasmo ao que usaram no combate ao atual governo, não há um módico de decoro ou de suporte legal na leviandade da contratação e na apreciação do mérito de quem já sabia ter a cátedra à sua espera.
Só surpreende que estivesse vaga e sem titular.
Apostilas:
– A Escola Colonial (1906) teve várias designações e/ou mudança no plano de estudos, sucessiva e politicamente corrigidos, em relação ao colonialismo (1911, 1919, 1927, 1946, 1954). Encerrada em dezembro de 1976, para reestruturação, e já designada Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), reabriu com o mesmo nome e outro currículo em 1977/78, tendo sido integrada na nova Universidade de Lisboa, em resultado da fusão da Universidade de Lisboa (1911-2013) com a Universidade Técnica de Lisboa.
– A sua grande referência é o seu ex-diretor, Adriano Moreira, licenciado em Direito desde 1944 e homem de grande cultura e inteligência, que chegou aí a catedrático de Relações Internacionais, sem qualquer qualquer doutoramento ou simples pós graduação, e a democrata, por vox populi, depois de ter sido responsável pelo período de maior repressão na guerra colonial e de reabrir o campo de tortura do Tarrafal, como ministro do Ultramar (1961/63).
– Catedrático desde 1961, só após o 25 de Abril e em Espanha, Adriano Moreira obteve um doutoramento na Universidade Complutense de Madrid, segundo refere o ilustre académico António Valdemar.
– Ex-Presidente do CDS, partido onde se mantém, e manteve quando foi expulso do PPE por ser demasiado reacionário e antieuropeu, é a sua maior referência. É considerado pela direita senador da democracia, seja lá isso o que for.
Quando Passos Coelho, ainda com o pin da bandeira de Portugal ao peito, anunciou que ia dedicar-se à vida académica, julgou-se que ia fazer uma pós-graduação ou tentar um mestrado, numa escola prestigiada, para valorizar a tardia licenciatura.
A surpresa surgiu quando afirmou que ia dar aulas em três universidades, surpresa que se transformou em estupefação quando a comunicação social informou que ia dar aulas em mestrados e doutoramentos; e a estupefação virou pasmo quando uma Universidade pública o contratou como “professor convidado catedrático”, até agora sem desmentido a repor o bom nome da instituição pública.
O seu currículo podia igualmente dar-lhe acesso a general de 4 estrelas nas FA, por ter nomeado ministros da Defesa; a juiz, do Tribunal de Contas, pela forma como geriu as contas do Estado; do Constitucional, pela experiência de chumbos dos OE; do STJ, pela ignorância de que é preciso pagar à Segurança Social e usar bem os fundos europeus que a UE reclama de volta; a diretor do SIS, pelas relações com Relvas, Marco António e Marques Mendes, excelentes informadores; etc.; etc...
Não censuro Passos Coelho por aceitar o lugar para o qual não tem condições mínimas, tal como sucedeu com o de PM, mas exijo, como cidadão, que a direção do ISCSP diga qual o critério que presidiu ao aviltamento do Ensino Superior Público. A instituição está em causa e, com ela, todos os que tiveram longo e exigente percurso para chegarem a professores catedráticos. Não se sabe se o facto de o diretor ter sido deputado do PSD é alheio ao convite e à distinção académica.
Por mais ex-dirigentes do PS que se apressem a defender o novo catedrático, com igual entusiasmo ao que usaram no combate ao atual governo, não há um módico de decoro ou de suporte legal na leviandade da contratação e na apreciação do mérito de quem já sabia ter a cátedra à sua espera.
Só surpreende que estivesse vaga e sem titular.
Apostilas:
– A Escola Colonial (1906) teve várias designações e/ou mudança no plano de estudos, sucessiva e politicamente corrigidos, em relação ao colonialismo (1911, 1919, 1927, 1946, 1954). Encerrada em dezembro de 1976, para reestruturação, e já designada Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), reabriu com o mesmo nome e outro currículo em 1977/78, tendo sido integrada na nova Universidade de Lisboa, em resultado da fusão da Universidade de Lisboa (1911-2013) com a Universidade Técnica de Lisboa.
– A sua grande referência é o seu ex-diretor, Adriano Moreira, licenciado em Direito desde 1944 e homem de grande cultura e inteligência, que chegou aí a catedrático de Relações Internacionais, sem qualquer qualquer doutoramento ou simples pós graduação, e a democrata, por vox populi, depois de ter sido responsável pelo período de maior repressão na guerra colonial e de reabrir o campo de tortura do Tarrafal, como ministro do Ultramar (1961/63).
– Catedrático desde 1961, só após o 25 de Abril e em Espanha, Adriano Moreira obteve um doutoramento na Universidade Complutense de Madrid, segundo refere o ilustre académico António Valdemar.
– Ex-Presidente do CDS, partido onde se mantém, e manteve quando foi expulso do PPE por ser demasiado reacionário e antieuropeu, é a sua maior referência. É considerado pela direita senador da democracia, seja lá isso o que for.
Comentários
Não precisávamos de mais este sinal de degradação do Ensino Superior. Os casos da U. Moderna e mais recentemente da U. Lusófona (que atribuiu ad hoc uma licenciatura a Miguel Relvas) e outros que poderíamos citar (p. exemplo as licenciaturas em Proteção Civil de alguns dos comandantes operacionais) já deveriam ter feito soar as campainhas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
As equivalências para licenciaturas e de igual modo para a docência devem contemplar situações comparáveis e isentas de qualquer indício de comiseração e favorecimento.
Na verdade, os cidadãos (na sua generalidade) e mais particularmente os formandos que lutam por adquirir uma qualificação superior nada beneficiarão com um surto de 'docentes de aviário' a infestar as instituições de Ensino.
As Universidades - e com maior acutilância as que integram a rede pública de Ensino Superior - não poderão transformar-se num albergue de 'políticos caídos em desgraça'.
A inquietante dúvida é: quem - depois de To Zé Seguro e de Passos Coelho - será o próximo a exilar-se no ISCSP?
Aceitam-se alvitres enquanto ficamos à espera de uma reação do ministro Manuel Heitor (que ultrapasse a redundância do politicamente coreto).