A França disse NÃO


A esquerda mais utópica e a direita mais arqueológica uniram-se numa conspiração contra a Europa. Não é apenas um projecto de paz, desenvolvimento e tolerância que se interrompe. É a própria França que se isola.

A Constituição recusada pelos franceses não é um texto suficientemente virtuoso para que possa agradar a gregos e troianos mas era o compromisso possível para a sobrevivência de um projecto cujas potencialidades estavam longe de esgotadas.

Esta arreliadora travagem pode ser ainda o início de um novo arranque mas, em princípio, é o fim de um sonho que começou a morrer em Paris, a que se segue a Holanda e que o Reino Unido verá com satisfação maioritária.

Para a Turquia pode ser o princípio do fim de uma experiência bem conseguida de democratização em curso e da supremacia do poder de Estado sobre a influência clerical.

A Europa pode continuar com uma só moeda, com a livre circulação de pessoas, mercadorias e serviços, mas não terá um projecto para ombrear com os EUA e outras potências emergentes, nomeadamente a China e, eventualmente, a Índia.

55% de votos contra a Constituição europeia é mais do que um grito de revolta contra o Governo francês e a anemia económica da Europa, é a recusa de um projecto solidário em que caiba o velho continente e o ressurgimento de fenómenos nacionalistas que trazem consigo o racismo, a xenofobia e toda a sorte de intolerância.

No rescaldo das primeiras projecções do referendo francês sinto-me desolado. Esta não é a França dos enciclopedistas, da Revoluçãoo de 1789, da lei da separação da Igreja e do Estado que este ano comemora cem anos.

Hoje, Paris deixou de ser o farol da esperança, transformou-se no cemitério do projecto europeu.
Carlos Esperança

Comentários

Anónimo disse…
Concordo contigo mas com reservas, A constituição é demasiado liberal e estava a ser imposta à força. a europa tem de ser social e solidaria.
Anónimo disse…
O bom é inimigo do óptimo.
Temo que esta tivesse sido a oportunidade perdida.

Também gostaria que tivesse aprofundado os aspectos sociais e que reforçasse a coesão. No entanto ia mais longe que muitas constituições nacionais.

E uma bicicleta quando pára, cai.
Anónimo disse…
"A esquerda mais utópica e a direita mais arqueológica ...", quer dizer que o que sobra é todo o cinzentismo ....
Anónimo disse…
Pelo contrário, caros concidadãos.

O espírito de antecipação e de LUZ de 14 de Julho de 1789 mantém-se.

Obrigada FRANÇA

Vivam os HOMENS.

Os políticos, todos eles, querem é salvar o velho coiro que já nada vale.
Anónimo disse…
Caro CE
Sem ser licenciado em 'Política', há dez anos que dizia não acreditar neste projecto. Não que não lamente este presente/futuro. Temos aqui um processo de decadência 'civilizacional' das sociedades europeias.Inverte-lo, tarefa demasiado pesada para a natureza humana da História.
E da mediocridade dos seus actores principais... será possivel edificar algo de substancial com gente que não presta? Como o desertor/Fujão/presidente da Comissão? Que não presta de todo, como tão bem sabemos em Portugal? Um trapaceiro na nobre arte da política?
Não tendo nós fé religiosa, podêmos ter fé neste tipo de gente?
O bom é inimigo do óptimo, certo, veremos se temos dirigentes à altura. Que bela oportunidade para se revelarem.
Anónimo disse…
... não vai haver o mais vago debate sobre a "Constituição europeia". Não está na mentalidade do mendigo. Enquanto de Bruxelas escorrer um vintém, e tirando meia dúzia de excêntricos, toda a gente, se votar, vota "sim". Não se morde a mão que nos dá o pão.

Vasco Pulido Valente

Pense Carlos ESPERANÇA, pense... e esqueça lá as esquerdas e as direitas, isso já passou!
RF
andrepereira disse…
Concordo inteiramente. Com este NÃO só ganhou a europa mercado, a europa das desigualdades, a europa-mercado único, a europa da livre circulação (de pessoas, serviços, produtos e capitais). Foi um golpe brutal contra uma Europa política e social. Mas, pode ser um "passo atrás para dar dois à frente". Esperom que sim, e que esses passos em frente venham depressa.
Anónimo disse…
Este Não Francês é sintomatico do que poderá acontecer um pouco por toda a Europa. O Não infelizmente poderá vencer também em Portugal caso venha a realizar-se o refendo, o que já duvido. Paris, pátria da Liberdade e dos valores mais nobres da cidadania, reflecte hoje a crise de valores que assola todo o mundo! Tudo a favor do "umbigo", tudo contra as pessoas!!
Ricardo Alves disse…
Carlos,
o mau é inimigo do bom. Esta «Constituição» é clerical, neoliberal e pró-OTAN. Há que dizer «não». Em nome justamente destes princípios. E foi isso que fez dois terços da esquerda francesa.
Anónimo disse…
estranho muito o sr. ricardo alves falar em europa neo-liberal, então o seu partido, no poder nos últimos 3 anos, não foi um dos piores exemplos desses neo-liberalismo. quer isso dizer que não votou na coligação que nos governou ( mal ) nos últimos 3 anos?
Ricardo Alves disse…
Caro «Anonymous»,
não tenho partido.
Anónimo disse…
ricardo alves, se queres usar o plural latino de anónimo....então terá de te dirigir aos anonima

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