Por uma Educação melhor!
O diagnóstico está feito há muito e pelos melhores: Portugal sofre de um défice de formação de recursos humanos.
É o preço que pagamos por 300 anos de Inquisição e meio século de salazarismo. Os últimos 30 anos foram de grande investimento. Investimos na quantidade de docentes, de escolas, de equipamentos e mais crianças e jovens tiveram acesso à escola, mas tal não se reverteu em mais qualidade.
A verdade é que somos o pior país da União Europeia em termos de taxas de escolarização e não apenas no que respeita às gerações do tempo do Estado Novo, mas ainda hoje o abandono escolar se afigura dramático e o insucesso de muitos jovens estudantes é evidente.
A resignação e a maledicência não nos resolverão o problema, nem assegurarão a nossa reforma. Sim, porque da UE não vem, nem virá dinheiro para a segurança social: têm que ser os nossos filhos a garantir o futuro do nosso pobre modelo social. E, para tanto, Portugal precisa de criar riqueza no tempo que veio para ficar da globalização.
O Governo deu um importante contributo para mudar a situação. Não sendo especialista na matéria, arrisco avaliar o novo Estatuto da Carreira Docente, aprovado hoje em Conselho de Ministros, pelos seus princípios gerais e pelo que, apesar do enorme ruído que a seu propósito se gerou, consegui decifrar pela comunicação social.
Ora, em primeiro lugar, destaco que este Estatuto foi fruto de uma longa negociação que durou muitos meses. O documento que hoje se aprovou consiste na sua oitava versão.
No plano da substância, é de aplaudir um Estatuto que promova o mérito, que estabeleça regras rigorosas para a avaliação, que compense profissionalmente e monetariamente os melhores professores.
Seria, talvez, a única profissão em que todos atingiam o topo da carreira, sem prestar provas (a sério) e sem atender ao mérito de cada um dos docentes.
Tantos se queixavam que “tanto faz dedicar-se, empenhar-se, ser zeloso no cumprimento dos seus deveres profissionais”. Todos subiam na carreira praticamente apenas em função dos anos de serviço; a remuneração e as regalias igualitaristas premiavam apenas preguiça e o desleixo.
O problema da Educação em Portugal não se resolve só por termos professores mais briosos e empenhados, com valorização da sua auto-estima profissional. Mas isso pode ajudar muito!
Parabéns à Ministra da Educação, Doutora Maria de Lurdes Rodrigues, e ao Governo!
P.S (declaração de interesses): o Estatuto em causa não afecta a minha vida profissional. Adivinham-se grandes mudanças no Ensino Superior; muitos aí vão sofrer também; ninguém está (deve estar) imune aos ventos de reforma.
Comentários
Portanto não faz ponta de sentido falar em chegar ao topo nem em afirmar que só na classe docente todos os professores chegam ao topo. Isso é uma falácia; uma manha inteligente para justificar a criação artificial de dois escalões mas em que se faz o mesmo em ambos: dar aulas.
Um professor quando entra para os quadros atinge imediatamente o topo da carreira, no sentido de que as funções que desempenhará serão sempre exactamente as mesmas.
Não confundir o facto do Estado pagar progressivamente mais pelas mesmas funções à medida que se é professor há mais tempo com progressão na carreira e com chegar ao topo. Isso é para as carreiras em que existe uma hierarquia de cargos. Aí sim, chega-se ao topo.
A actual situação é o reflexo de trinta anos de esquerdismo a dirigir o ministério da Educação. Com as consequências que se conhecem.
Mas também reconheço que, no Estado, a promoção pelo chamado mérito é uma questão perigosa, de implementação complicada. E abre caminho a muitos desmandos e abusos de poder.
Daí que tenha a ideia de ser mais um flop esta medida porque o sistema não tem capacidade de a implementar com justiça e imparcialidade.
Para isso é necessário ir mais fundo e acabar com o sistema de auto-gestão implementado nas escolas, que é a fonte de todos os problemas. Acabar com os conselhos de gestão eleitos e nomear directores/as com mandato. Assim sabia-se quem mandava e quem era o responsável pelo que quer que fosse.
Agora tentar implementar uma medida de racionalização da gestão em cima dum sistema auto-gestionário ou é burrice ou panaceia.
Faz todo o sentido criar duas classes de professores.
Só no ensino superior há 5: Assistente estagiário, Assistente, Professor Auxiliar, Professor Associado e Professor Catedrático, cada um com conteúdos funcionais diversos e, evidentemente, remuneração e estauto diferente.
Basta de ironias, precisamos das acções concretas. A Educação não se melhorará pelas medidas administrativas.
O País está em crise educativa generalizada, resultado das políticas governamentais dos últimos 20 anos, que empreenderam experiências pedagógicas malparadas na nossa Escola. Com efeito, 80% dos nossos alunos abandonam a Escola ou recebem notas negativas nos Exames Nacionais de Português e Matemática. Nisso, culpados são os educadores oficiosos que promoveram as politicas educativas desastrosas, e não os alunos e professores. Os problemas da Educação não se prendem com os conteúdos programáticos ou com o desempenho dos professores, mas sim com as bases metódicas cientificamente inválidas.
Ora, devemos olhar para o nosso Ensino na sua íntegra, e não apenas para os assuntos pontuais, para podermos perceber o que se passa. Os problemas começam logo no ensino primário, e é por ai que devemos começar a reconstruir a nossa Escola. Recomenda-se vivamente a nossa análise, que identifica as principais razões da crise educativa e indica o caminho de saída. Em poucas palavras, é necessário fazer duas coisas: repor o método fonético no ensino de leitura e repor os exercícios de desenvolvimento da memória nos currículos de todas as disciplinas escolares. Resolvidos os problemas metódicos, muitos dos outros, com o tempo, desaparecerão. No seu estado corrente, o Ensino apenas reproduz a Ignorância, na escala alargada.
Devemos todos exigir uma acção urgente e empenhada do Governo, para salvar o pouco que ainda pode ser salvo.
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