Visita de Bento XVI à Turquia
Os milhares de fanáticos que ululam nas ruas da Turquia não são meros manifestantes que detestam Bento XVI -, são bandos de intolerantes que se julgam detentores da verdade única e do único Deus verdadeiro.
Querer impedir a visita do Papa, que viaja legalmente, é um acto de proselitismo que a demência da fé alimenta. Não interessa se o Papa é parecido com os que o contestam, se pensa de Maomé o que este pensava do toucinho, se está igualmente convencido de que a sua Igreja é a única verdadeira e o seu Deus o único com certificado de garantia.
O que está em causa é a liberdade e o respeito pela Declaração Universal dos Direitos do Homem.
O Papa tem o direito de visitar a Turquia porque as autoridades legítimas o consentiram.
Combater ideias sem molestar as pessoas é um direito democrático que os beatos não aceitam. É por isso que a laicidade do Estado se torna tão necessária e urgente.
Comentários
Deveríamos criar um organismo certificador de religião, (estilo iso 9001), com indicadores de fascismo e intolerância religiosa, inquisição, crimes em nome de deus para verificar que os fanatismos se auto-alimentam e se valem.
Acho que as manifestações populares na Turquia (manipuladas, ou não) não devem ser liminarmente condenadas pelo dito "Ocidente".
Penso não haver qualquer proselitismo mas antes a exploração político-religiosa de uma considerada "ofensa" de Bento XVI, na sua infeliz "aula" de Ratisbona.
O incidente, aparentemente, resolvido a nível diplomático pode não estar ainda totalmente "cicatrizado" no âmbito popular.
Na realidade estamos perante um povo esmagadoramente muçulmano que, graças a Ataturk, vive num regime não-islâmico.
Este facto é estratégico para o Mundo.
Da doutrina de Ataturk, ainda uma referência política na Turquia de hoje, devemos recordar o seu legado, carregado de humanismo, expresso nos remotos tempos de 1933:
"Eu olho o mundo com o coração repleto de sentimentos puros e amizade".
Eis, portanto, uma situação onde ninguém beneficia em deitar achas para a fogueira. Melhor será deixar a tempestade amainar.
A minha grande preocupação, neste momento, não são as manifestações de rua, de índole folclórica, na habitual tradição muçulmana, mas outra, eventual, inconveniência de Ratzinger, por sua conta ou uma "bizantinice" em apoio da Igreja Ortodoxa.
Para não cometermos mais erros será melhor apoiar o legado de Ataturk, em termos políticos essencialmente laico e aguardar que tudo corra bem...
Não tenho qualquer dificuldade em subscrever o seu comentário.
Creio que as fotos de Ataturk, que estão omnipresentes na Turquia, são uma vacina contra o fundamentalismo islâmico.
Até me esqueço da violência com que impôs a laicidade.