Pare, escute e olhe...
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Talvez os autarcas deixassem de acumular o vencimento com um terço da reforma e, na Madeira, deixassem de acumular por inteiro várias remunerações públicas. Talvez fosse tempo de impedir que algum gestor público ganhasse mais do que o Presidente da República, incluindo ele próprio e de deixar de indexar salários de autarcas ao do PR.
Se os funcionários públicos, com vencimento certo e liberdade de injuriarem o ministro respectivo, sem sanções, soubessem o que é trabalhar numa empresa privada onde estão sujeitos ao futuro da empresa e ao humor dos gestores, talvez se moderassem.
Se, à semelhança do que sucede em várias empresas, fizessem uma auto-avaliação anual para a discutirem com o chefe, testes trimestrais para avaliação dos conhecimentos e ficassem sujeitos à discricionariedade do gerente na actualização salarial, ao longo de quarenta anos, talvez fossem mais solidários com os que labutam nas empresas e que, às vezes, atendem com sobranceria.
O direito à greve é a grande conquista de Abril e as manifestações a lufada de ar fresco que a democracia tornou possível, sem tutela, com a polícia a protegê-las. Foram muitos os que lutaram por isso e não há forma de as impedir sem pôr em causa a democracia.
Mas…, há sempre um mas, quando as exigências parecem exorbitantes e os direitos se afiguram exagerados perante a opinião pública, quando o direito à objecção se confunde com o desafio às instituições, há o risco de dividir o país em classes, a dos que estão na função pública e a dos que não estão. E dessa luta de classes, artificiais, nada de bom se pode augurar.
Há quem pense que o vencimento é uma regalia da função e o trabalho um incómodo que deve ser pago à parte.
Nota - Remar contra a maré é difícil, mas prefiro ganhar inimigos a renunciar ao que julgo correcto.
Comentários
É preciso colocar os factos no mesmo tempo histórico e no mesmo contexto político.
Hoje, a função pública já não é isto:
"Há quem pense que o vencimento é uma regalia da função e o trabalho um incómodo que deve ser pago à parte."
Há inaptidão para a função, mobilidade especial, chefias discricionárias (oriundas de filiações partidárias), determinação de níveis de produtividade e de eficiência dos serviços. Os mais ambiciosos até falam em excelência!
E, a actividade privada, já não será isto:
"Se, à semelhança do que sucede em várias empresas, fizessem uma auto-avaliação anual para a discutirem com o chefe, testes trimestrais para avaliação dos conhecimentos e ficassem sujeitos à discricionariedade do gerente na actualização salarial, ao longo de quarenta anos... "
Até porque a principal praga da actividade privada é o espectro do encerramento das empresas, a sua deslocalização, etc, isto é, a ameaça permanente do desemprego.
Hoje, não há 40 anos numa empresa! A estratégia de gestão empresarial é: comida a "carninha" tenra despacham-se os "ossos"...
No Mundo do trabalho a precariedade é a regra.
Chama-se, agora, flexisegurança.
De modo que o Mundo em mudança introduziu novos factores de valorização e desvalorização do trabalho, só não conseguiu prescindir dele...
Outras coisa são as liberdades fundamentais dos cidadãos trabalhem no sector público ou privado.
Mas isso é uma história muito antiga que remonta à greve geral, que aconteceu em 1º de maio de 1886 em Chicago, EUA, da qual resultou uma chacina de grevistas.
Três anos mais tarde o Congresso Socialista de Paris (1889) proclamou o "Dia Mundial do Trabalho", no 1º de Maio, data ou efeméride (é difícil saber) que continuamos a comemorar.
Hoje, esta proclamação era substituída por um inquérito sobre os incidentes de Chicago...
Esses é que foram tempos difíceis, para todos...
E, a actividade privada, já não será isto:
"Se, à semelhança do que sucede em várias empresas, fizessem uma auto-avaliação anual para a discutirem com o chefe, testes trimestrais para avaliação dos conhecimentos e ficassem sujeitos à discricionariedade do gerente na actualização salarial, ao longo de quarenta anos...
Resposta: Continua a ser. E em empresas bem conhecidas.
Não vamos longe, a pensar assim. Não foi o Carlos, como não iria eu.
Quando à nossa volta todos fazem por optar pelo contrário.
A) Há dois anos na AR, o PCP solicitou ao Governo a legislação/regulamentação relativa aos salários no BdP.
Deve ter caído no esquecimento.
B) Há dias, recebi um mail sobre a nova frota de BMW dos 13 altos funcionários do Estado a que vamos chegando - assim se cultiva a «dignidade» no Portugal moderno:
O Tribunal Constitucional é um tribunal de nomeação politica e por esse facto, resolveram comprar automóveis de Luxo e Super Luxo para cada um dos 'Juízes' (de nomeação política)
Estes carros são utilizados pelos Juízes - num total de 13 Juízes -
para todo o serviço, precisamente como acontece nas grandes Empresas.
1- O Presidente tem um BMW 740 D (129.245 € / 25.849 contos)
2- O Vice-Presidente : BMW 530 D (72.664 € /14.533 contos)
3- Os restantes 11 Juízes têm BMW 320 D ( 42.145 € / 8.429 contos , cada )
Portanto, uma frota automóvel no valor de 665.504 €/ 133.101 contos
...
A que propósito ? Pura ostentação ?
...
Quem é que autorizou este disparate ?
É possível?
C) Bem vistas as coisas, já tínhamos tido na autarquia de Lisboa/CML, um presidente com um bólide italiano de 23 mil contos.
Que fazer?