O Vaticano, a sida e a morte
Vaticano prepara declaração sobre «assunto delicado»
O meio mais seguro para evitar o contágio das doenças sexualmente transmissíveis, em especial da sida, é o preservativo, um artefacto que há muitos anos era designado pelo simpático nome de camisa de Vénus ou, carinhosamente, por camisinha.
Está por contabilizar o número de vítimas que poupou e as que o preconceito e a intolerância acabam por provocar em todo o mundo, especialmente nos países mais pobres.
Houve notável consenso sobre a condenação das infelizes declarações papais nos Camarões. Da conceituada revista Lancet, dos organismos da ONU, dos Governos europeus, da comunicação social e, modestamente, da Associação Ateísta Portuguesa, saíram posições indignadas que exigiram a retractação papal para limitar os danos nas campanhas de combate à sida, uma terrível epidemia cujo controlo epidemiológico se encontra, em África, à beira da ruptura.
No entanto o Papa persiste, irredutível, na teologia do látex e no anátema à camisinha e a quem a apoiar. Em Portugal, o bispo Januário Torgal, ex-comandante espiritual dos católicos fardados, habituado às confissões dos mancebos, defendeu, após as afirmações terroristas do Papa, que «proibir o preservativo é consentir na morte de muitas pessoas».
Os bispos portugueses parecem divididos entre a inquestionável infalibilidade papal e a comprovada eficácia do preservativo. O bispo Ilídio Leandro, da diocese de Viseu, defendeu o seu uso e o Vaticano, sempre atento às questões sexuais, já afirmou que as palavras do bispo são delicadas.
Se o Papa se preocupa tanto com o preservativo é, certamente, porque o seu deus abomina o artefacto, mas será difícil compreender como o omnipotente não se lembra de erradicar a sida em vez de ficar mal humorado com a camisinha.
Comentários
Bento 16 ao re-integrar os discípulos de Marcel Lefebvre, membros da Fraternidade Sacerdotal de S. Pio X, pretendeu passar uma "esponja" sobre o Concílio Vaticano II e regressar ao início do século XX.
Estas piruetas históricas não acabam incólumes.
Diz o povo:
Quem semeia ventos, colhe tempestades!