Até amanhã, se eu quiser
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A beata missionação que corrói a vontade e mina o sentido crítico reduz a língua que falamos à vacuidade litúrgica das frases feitas.
O cumprimento entre pessoas deixou de ser a expressão de um sentimento para se tornar na declamação ritualista que exonera a consciência e exclui os afectos. Não se exprime o pensamento, recorre-se ao bordão que evita ao cérebro o uso de neurónios e à pessoa o incómodo de revelar a sua natureza.
Até os locutores das televisões, incapazes de adicionar ao texto do noticiário que lêem o cumprimento que devem aos ouvintes, se refugiam no «até amanhã, se deus quiser».
As frases inúteis não chegam a ser partículas de realce, são remendos de um pano de pior qualidade no tecido da prosa que debitam.
Quando os vejo com aquele ar ausente, a recitar o «até …, se deus quiser», lembro-me dos relógios parados, com a corda quebrada, que todos os dias estão certos duas vezes. Deus só acerta uma vez na vida.
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