Da grandiosidade ao básico…
O designado “Metro do Mondego”, nome pelo qual é conhecida uma das soluções de ligação ferroviária de superfície entre zonas da cidade de Coimbra e concelhos limítrofes, tem sofrido ao longo dos tempos uma interminável série de vicissitudes, de atropelos, de postergações...
Desde a fase conceptual que remonta – para sermos comedidos – a 1992, seguida de prolongada hibernação até 2006, altura em que o projecto [continuamos a falar de projectos...] sofre uma “reorientação", até à transformação do já centenário ramal da Lousã [em funcionamento desde 1906…] que, no papel, é projectada para ter início em 2007, vai um longo calvário.
Desde a fase conceptual que remonta – para sermos comedidos – a 1992, seguida de prolongada hibernação até 2006, altura em que o projecto [continuamos a falar de projectos...] sofre uma “reorientação", até à transformação do já centenário ramal da Lousã [em funcionamento desde 1906…] que, no papel, é projectada para ter início em 2007, vai um longo calvário.
Uma segunda fase desta obra pública que compreende as ligações entre a estação de Coimbra B, os HUC/Hospital Pediátrico, a estação de Coimbra-Parque e as redes urbanas programadas, tem sido – sistematicamente [metodicamente?] – protelada...
Trata-se da construção de um sistema de transportes metropolitano [daí o nome da empresa pública que responsável pelo projecto e sua execução] numa cidade com, cada vez maiores, dificuldades de acesso e escoamento do trânsito [afunilamento de rodovias] e com incríveis constrangimentos da circulação urbana [como, p. exº., o atravessamento de uma zona nobre – beira-rio - por comboios “clássicos”...].
A conclusão deste projecto estava prevista para 2010 e sua efectiva entrada em funcionamento para 2011.
Bem, segundo informa o Diário de Coimbra de hoje [22.06.2010] , os condicionamentos resultantes da aplicação do PEC [2010-2013], vieram colocar em causa as já retardadas obras do “Metro do Mondego”. link
Na verdade, mais do que um simples adiamento dos já diferidos investimentos, a suspensão do lançamento de futuros concursos, tem – para o Distrito de Coimbra – importantes condicionantes económicas e sociais.
Provavelmente, a mais importante e a mais visível dessas condicionantes será, remeter para o século passado, os anseios das populações de Coimbra e concelhos limítrofes, em termos de mobilidade e de acessibilidades.
De facto, este investimento público da ordem dos 52 milhões de euros [não resisto em sublinhar] visa [visava] promover uma rede urbana e suburbana articulada e, nesse campo, notórias e inadiaveis ajustamentos ao nível da eficiência e da ecologia nos transportes e, em termos sociais, veicular um tímido [limitado] acesso à modernidade [séc. XXI].
Como sabemos, a actual crise económica e financeira condicionou, na prática, os investimentos públicos. A ideia transmitida para as populações foi de que só os “grandes” investimentos [os grandiosos] poderiam ser afectados e adiados. As pequenas obras públicas prosseguiriam...
Estamos a falar [pensar] de, por exemplo, 4.000 milhões de euros [custo estimado para o novo aeroporto de Lisboa] ou de 1.494 milhões de euros [TGV:troço Poceirão-Caia]…
De recordar que o Estado [outro exemplo] já avalizou - em empréstimos ao Banco Português de Negócios (BPN) - um valor superior a 3000 milhões de euros…
Perante estes valores o custo estimado para o Metro Mondego [52 milhões de €] é – em termos de esforço financeiro – um investimento “leve”, atrevo-me a classificá-lo de “peanuts”.
Mas pesadas [e quiçá ocultas] serão outras [novas?] prioridades que não passam pela província, nem pelo combate às, cada vez mais cavadas, assimetrias entre a grande metrópole urbana [ex-capital do Império] e a pacata e saloia Província.
A rede metropolitana de Coimbra é um investimento estruturante para o desenvolvimento do Distrito de Coimbra. Mais, é uma infra-estrutura básica. Indispensável, logo, inadiável.
A alternativa será, portanto, conformarmo-nos a viver num simulacro do ambiente queirosiano como o descrito na “Cidade e as Serras" [Coimbra e a serra da Lousã]...
É óbvio que muita gente [ainda] julga que a Província pode, pacientemente, esperar. Ao fim e ao cabo, trata-se de “paisagem” [a Província] que, sem a intervenção humana e tecnológica, permanece imutável. Uma imutabilidade que não será mais do que a [politicamente] indispensável diferenciação entre o grandioso e o básico.
Comentários
Artigo de Janeiro deste ano:
http://www.diariocoimbra.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=5721&Itemid=135
Está cheio de razão no seu comentário.
A "derrapagem" é uma [...há mais!] das consequências dos eternos adiamentos...
O orçamento inicial [previsto] foi de 52 milhões de euros. Hoje, andaremos – depois de múltiplas “reorientações” – por valores que rondam 6 x mais. São os "custos de interioridade…"
Mas, estou convicto, os deslizamentos orçamentais não ficarão por aqui...