Zona Euro: dívidas soberanas, desenvolvimento económico e liderança política ...
No dia 10 de Maio foi anunciado pela UE, um Plano de Estabilização Financeira que tinha como objectivo “acalmar” os mercados, nomeadamente, fornecendo fortes garantias quanto ao cumprimento da dívida soberana dos países da Zona Euro, i. e., criando condições financeiras para a satisfação dos compromissos resultantes do endividamento interno e dos empréstimos e financiamentos contraídos no exterior.
Os mercados não reagiram satisfatoriamente e o esperado efeito tranquilizador do citado Plano, tirado “a ferros” no seio da UE, esvaiu-se rapidamente. Mais uma vez, questões relativas ao deficit e ao crescimento económico, referentes aos países da zona sul da Europa, bem como a situação particular da Grécia [re]introduziram, rapidamente, no mercado financeiro internacional elevados índices de desconfiança que, na prática, neutralizam o Plano de Estabilização Financeira.
Os mercados não reagiram satisfatoriamente e o esperado efeito tranquilizador do citado Plano, tirado “a ferros” no seio da UE, esvaiu-se rapidamente. Mais uma vez, questões relativas ao deficit e ao crescimento económico, referentes aos países da zona sul da Europa, bem como a situação particular da Grécia [re]introduziram, rapidamente, no mercado financeiro internacional elevados índices de desconfiança que, na prática, neutralizam o Plano de Estabilização Financeira.
Esta atitude dos mercados revela que continuam a existir riscos reais decorrentes da repercussão da actual crise no crescimento económico dos referidos países. A persistência desses riscos demonstra que os sucessivos PEC’s apresentados pelos países em dificuldades à Comissão Europeia, satisfazem os desejos políticos preponderantes no espaço europeu [onde o neoliberalismo pontifica], mas não convenceram [sossegaram] os mercados.
Os CDS’s [Credit Default Swaps], i.e., o nível de confiança dos credores quanto ao serviço da dívida pelos Estados, revelam temores [residuais?] do mercado e fazem “disparar” as taxas de juro. Este mecanismo do tipo “pescadinha de rabo na boca” vem, por outro lado, aumentar a possibilidade de eventuais incumprimentos e, assim, sucessivamente. Nem as sucessivas intervenções do Banco Central Europeu [BCE] no mercado secundário conseguem introduzir factores de estabilidade quanto ao perturbador problema da dívida soberana dos Estados da Zona Euro economicamente mais débeis.
A evolução dos spreads nos CDS’s mostra que o mercado continua a duvidar da capacidade de alguns países [Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália] em controlar a dívida [ou satisfazer os compromissos daí resultantes], receando a eventualidade de moratórias. Assim, numa atitude baseada em projecções para os próximos 5 anos, os mercados de CDS’s continuam a revelar profundas desconfianças cotando-os, na última semana, com o seguinte escalonamento [por pontos]: Grécia (721); Portugal (345); Irlanda (260); Espanha (247) e Itália (234). Este quadro permite-nos, formalmente, continuar a afirmar que estamos numa situação diferente da Grécia mas, face ao esforço que está a ser solicitado aos portugueses, essa constatação [esse "formalismo"] não é tranquilizadora, nem satisfatória.
Por outro lado, a cotação do Euro face ao Dólar continua a sua caminhada depreciativa, mostrando [ao atingir valores da taxa de conversão de 1:1.2] um real e incontrolável enfraquecimento “global” da moeda europeia, acentuando assimetrias de desenvolvimento, i.e., favorecendo os países economicamente mais desenvolvidos e dificultando [onerando] o serviço da divida para os restantes, travando o crescimento económico.
Sendo assim, torna-se notório e evidente, para os cidadãos europeus, que o Plano de Estabilização Financeira é insuficiente para resolver o problema do endividamento na Zona Euro.
Sem querer especular sobre o futuro da EU, julgo ser avisado e oportuno questionar se esse Plano não necessita de ser complementado [ou alavancado] por uma efectiva “governação económica europeia”, que seja capaz de ultrapassar a crise finaceira e, simultaneamente, atenuar as simerias de desenvolvimento?
Ou, caso contrário, mais tarde ou mais cedo, os cidadãos europeus sentirão que as medidas de austeridade que, impiedosamente, varrem toda a EU, poderão ser meros cuidados paliativos... se os países membros da UE, coordenada e solidariamente, não fizerem, atempadamente, os incontornáveis trabalhos de casa.
Neste momento, a sensação reinante será de que não basta, nem satisfaz, a regulação [e controlo] protagonizada pela "locomotiva económica da Europa" [Alemanha]. Falta uma efectiva liderança política. Urge encontrá-la. Não será preciso viver mais tempos de crise para sabermos que, nem Durão Barroso, nem Herman van Rompuy, estão à altura dos desafios presentes e futuros que afligem [e atingem] a UE.
Comentários
1 - A depreciação do € tem como vantagem a dinamização das exportações e a redução das importações;
2 - O € foi criado com valor inferior ao do US$;
3 - Quando o valor do € ultrapassou o do dólar muitos dos economistas que agora integram a brigada do reumático cavaquista anunciaram raios e coriscos perante o perigo de o euro passar a valer mais do que o dólar;
4 - Em face do exposto desconfio cada vez mais dos economistas.
Mantenho em relação aos economistas uma - talvez injustificada - posição de pé atrás, desde há largos anos. Exactamente quando ouvi pela 1ª. vez uma frase que me sobressaltou:
"Verificou-se este mês/este semestre/este ano (tanto faz) um 'crescimento negativo'...".
Crescimento negativo??? ...pensei eu. Aqui há gato!
Por isso - e por razões mais profundas - clamo no post por uma liderança política forte. Indispensável. Penso que estamos - todos - fartos de teorias económicas e juizos economicistas...
( óbviamente Económico e não Político)sob pena de serem assimilados ou falirem,Razão que se prende com a sobrevivência. Para dar um exemplo lembro-me do jogo de poker. Quem tem sempre mais cave inicial acaba por ganhar no médio prazo.Lei das probabilidades