CE/UE e a idade das reformas: problema ou ocultação do óbvio…

A Comissão Europeia [CE] aparece - sempre - pressurosa em socorro das medidas anti-sociais que grassam – impostas pelo mundo financeiro – por toda a Europa. Empenhou-se a fundo no candente assunto [problema] da idade da reforma. link

A última sugestão dos eurocratas de Bruxelas [Green Paper] versa a postergação da idade da reforma para as calendas gregas. Temos assistido, neste último ano, ao drama que Sarkosy vive, em França, i. e., uma fortíssima contestação social, com a sua intençao retardar a idade da reforma dos 60 para os 62 anos., na próxima década.

Agora surge Barroso e a sua Comissão no encalço destas medidas, tecendo toda a espécie de malabarismos para esclarecer os cidadãos europeus sobre a infinita bondade deste projectos.

À laia de introdução, surgem grandiosos e vagos conceitos macroeconómicos [desenvolvimentistas], como por exemplo: o deferimento da idade da reforma seria – para a Europa – uma ajuda ao desenvolvimento sustentável. Gloriosos objectivos que, naturalmente, não necessitam de qualquer demonstração.

Depois, a CE, insiste na utilização de conceitos e de projecções com níveis de arbitrariedade verdadeiramente impressionantes.
Assim, afirma que: “o alargamento dos tempos de trabalho têm em conta o aumento da esperança de vida …
Na verdade, a Europa aumentou [em média] a esperança de vida em 5 anos, ao longo das últimas 5 décadas. E, a partir daí, a CE pretende projectar [condicionar] o futuro. Trata-se de uma tremenda aleivosia científica e, no campo político, de um mero e estafado oportunismo.
São olhares para o futuro agarrados ao confortável [favorável] cadeirão do presente. Não é preciso esgrimir grandiloquentes argumentos sobre esta projecção. Todos sabemos que a esperança de vida é feita com base nos dados do presente. Não prevêem sobressaltos sociais [a queda alucinante do nível de vida para vastos estratos populacionais] ou rupturas abruptas, como por exemplo, conflitos devastadores [a tais armas de destruição massiva]. Na realidade, nada nos impede de inferir que daqui a uma década esta curva da esperança de vida pode entrar em “sustentada” queda… [é olhar para as alterações climáticas].
Bem, esperemos que não!

Finalmente, a CE não tem a honestidade política de ordenar razões por prioridades. Inverte-as.
Afirma: "prolongar o tempo de trabalho durante a vida [tendo em conta o aumento da esperança de vida] permitiria registar 2 benefícios:
1.) melhores condições de vida;
2.) sistemas de reforma mais viáveis.
"

É óbvio que a razão capital são os custos das prestações sociais. Melhor, as retribuições sociais para os cidadãos que, ao longo de uma vida de trabalho, descontaram para a reforma. O centro do problema é a gestão do sistema de retribuição social. A sua viabilidade como, envergonhadamente, se secundariza na especiosa argumentação.

De seguida a inefável contradição. Uma das mais importante razões porque a esperança a esperança de vida tem vindo a aumentar será a mesma pela qual a necessidade de trabalhar vem diminuindo [ver a evolução nos últimos anos das taxas de desemprego], em relação directa com o desenvolvimento tecnológico. Confundir estas duas premissas é tentar atirar areia para os olhos [dos cidadãos europeus]. É inverter [subverter] razões.

De facto, penso que estes eurocratas não devem ser pagos principescamente para representarem papéis tão medíocres.

Comentários

Unknown disse…
Esta não posso deixar de passar:
"... esperança a esperança de vida tem vindo a aumentar será a mesma pela qual a necessidade de trabalhar vem diminuindo [ver a evolução nos últimos anos das taxas de desemprego], em relação directa com o desenvolvimento tecnológico..."
É igual ao argumento do séc. XVIII com os quais os trabalhadores ingleses destruíram máquinas porque estas eliminavam o emprego. Aliás se o desenvolvimento tecnológico eliminasse emprego tendo em conta a evolução dos últimos dois séculos já ninguém trabalhava. Tenha dó...
e-pá! disse…
el:

Bem.
Uma coisa é estar contra o desenvolvimento tecnológico [e facto, como referiu não estamos no século XVII], outra será constatar que a automatização e a robotização extinguem postos de trabalho...

Quando, no último quartel do séc. XX, se deram enormes avanços no domínio da informática, existia a convicção de que o ritmo de trabalho (horário laboral) libertaria os trabalhadores para desfrutarem de mais tempos livres (para a família, lazer, etc.). As exigências gestacionárias sempre à procura de cada vez maior produtividade [leia-se maiores lucros] reverteram essa esperada situação.
Assim o enviesado raciocínio de que a tecnologia ao acabar com postos de trabalho, criaria outros, revelou-se falso.

Mas, para compreender a nova era tecnológica será melhor olhar para directiva europeia que permitia o alargamento do horário de trabalho para as 65 horas semanais, não é?
Isto é, de facto, um inacreditável regresso ao século XVII,i.e., trabalhar do nascer ao pôr do sol...

Não será verdade que os ganhos tecnológicos são imediatamente canibalizados pelas políticas economicistas, neoliberais?

Na verdade, no século XVIII, não existia o conceito do Estado social. Esta é a grande diferença neste Velho Continente. Hoje, perante um terrível retrocesso social a que todos temos assistindo, com uma inevitávl queda da qualidade de vida, uma das possíveis consequências será - não tenhamos dúvidas - a perda de índices da evolução social, de que a esperança de vida é um dos mais visíveis e impressivos indicadores...

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