O augúrio de Ferro Rodrigues

A visão profética de Ferro Rodrigues, como de resto as sucessivas intervenções de Mário Soares vèm sugerido acerca da precária longevidade deste Governo, é a mera constatação de uma evidência que assalta - e preocupa - a grande maioria dos portugueses. link

O problema é a penosa agonia do Governo que, face aos resultados eleitorais legislativos de 2009, foi entregue à maquiavélica e oportunista [para o País] congeminação da Direita, politicamente, apostada numa táctica de "cozedura em lume brando". Neste momento, por conveniências partidárias, a Direita abandonou um dos seus altares preferidos: a estabilidade política. Será útil mais tarde...

Na realidade, o País está suspenso, adiado, quando precisava de coesão funcional [de coerência política e ideológica] e de capacidade negocial reforçada para enfrentar as gravíssimas dificuldades que se nos deparam.
Portugal, independentemente dos feudos partidários onde, à revelia do desânimo popular, se cantam brilhantes amanhãs, não pode ter um Governo com tantas “sem-razões”, tão vilipendiado, vítima de tantas estultices, corroído por tantos vexames e com graves défices de comunicação…, sem que os cidadãos sejam chamados a opinar sobre o seu futuro.
E, como verificamos, o País, está suspenso de múltiplas circunstâncias que ultrapassam a dualidade Governo/Oposições, pairando sobre o espectro político nacional uma terceira personagem, um outro poder de contornos proteiformes: - Aníbal Cavaco Silva.

A ruptura deste instável equilíbrio anuncia-se no horizonte desde há meses, todos a vêem, todos a sentem, ninguém a assume. Anunciou-a Ferro Rodrigues.
Entretanto, A Direita, vai camuflando esta degradante situação com acordos pontuais absolutamente datados - até 2011. A Direita embosca-se por detrás das próximas presidenciais.

Esta "espera" que a Direita sustenta e promove só pode ter consequências trágicas. Havia a esperança de que Pedro Passos Coelho [PPC] se distanciasse de Cavaco [recordar as críticas endossadas à anterior líder do PSD]. Neste momento a distanciação de PPC é uma quimera. De facto, o futuro político de PPC está umbilicalmente ligado a Cavaco Silva.

Se, na verdade, há fundadas suspeitas da existência de um profundo fosso entre este Governo e os portugueses [sondagens dixit?] melhor seria que - à contrario sensu dos interesses a médio e curto prazo da Direita - o PS colocasse uma urgente [terá constitucionalmente 1 semana] moção de confiança no Parlamento. Perdeu uma soberana oportunidade na embrulhada das SCUT’s…que ao que parece já integrava um dos PEC’s, oportunamente avalizados pelo PSD.

Provavelmente, essa moção de confiança, não trazia nada de novo - os timings eleitorais das diversas Oposições estão desfasados - mas desmascararia [mesmo perante a eventualidade de salomónica abstenção] o insidioso [e anti-patriótico] minar do ambiente político em Portugal.

Da Esquerda, pouco pode esperar o Governo. Hoje, após a revelação pelo semánario Expresso de prévios e frustrados contactos [de incidência governamental] entre o PS e o CDS/PP, esgotou-se o já diminuto capital de confiança política [se alguma vez existiu]. Mas uma moção de confiança nunca seria inócua para os partidos à sua Esquerda. Provocaria grande agitação política nesta área, quiçá, inflexões estratégicas.
Forçaria, pelo menos, o arco político nacional representado no Parlamento a enveredar por alguma transparência e, fundamentalmente, colocaria Belém na difícil escolha entre prosseguir uma hipócrita encenação democrática versus o seu visível aparecimento na ribalta política. Quando estamos sob os holofotes são mais detectáveis as máscaras e mais expressivos os gestos.. Mesmo quando emboscados atrás de tabus…

É necessário desarmar a ratoeira. De facto, a Direita, neste complicado momento da vida nacional, pensa e reage em termos napoleónicos: “Nunca interrompas o teu inimigo enquanto estiver a cometer um erro…”

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