Presidenciais: mais um candidato…



A possibilidade [necessidade] da existência de uma candidatura unificadora da Esquerda às próximas eleições presidenciais é, cada vez mais, uma miragem.
Para além das considerações genéricas do tipo... "qualquer português com mais de 35 anos em pleno gozo dos seus direitos cívicos poderá candidatar-se", existe, em Portugal, acerca das próximas eleições presidenciais, um importante problema político. Iludir este problema acentuando a tónica em questões formais é tentar esconder o sol com uma peneira.

Esse problema político tem um nome: Aníbal Cavaco Silva.

O PR em exercício defraudou todas as expectativas. Não se mostrou, no campo político, como um homem capaz de gerar consensos. Fechou-se em maneirismos, aparentemente neutros, como se no desempenho deste alto cargo fosse possível caminhar à chuva sem se molhar.
Como economista – atributo que o próprio valorizou nas últimas legislativas – a sua acção não ultrapassou os receios e as dúvidas de qualquer contabilista. Ultimamente, virou-se para o campo social, intensificando peregrinos roteiros pelo País, sob a bandeira da exclusão, aparentemente sem compreender a génese dessa praga. Se procurasse no baú dos seus saberes encontraria aí, com certeza, a “causa das coisas”.

O percurso político do actual Presidente – que em campanha pretendeu branqueá-lo ou omiti-lo – sempre suscitou as maiores reticências à Esquerda.
A sua candidatura congregou a Direita e concitou uma profunda reserva mental da Esquerda [uma frontal rejeição], mau grado, os louvaminheiros propósitos tecidos acerca das vantagens de uma enigmática cooperação estratégica [que estará definida no site da PR, como não se cansa de apregoar]. Cooperação estratégica que mais aparenta ser um lusitano modo de ver uma coabitação política entre posições doutrinárias distintas, opostas, do que qualquer tipo de convergência.
A Esquerda nunca reconheceu ao actual PR estofo cultural e intelectual [suficiente] para o desempenho do cargo…. Aceitou-o, por obediência às regras democráticas, mas nunca o reverenciou [politicamente]. Pelo contrário.
Cavaco Silva, também, não colhe o pleno da Direita. Esta, embora reconhecida pela ajuda política enviesada aos partidos opositores do Governo, nomeadamente, à pouco feliz ex-líder Manuela Ferreira Leite, não lhe perdoa atitudes que interpreta como de insuportável tibieza [como, p. exº., a promulgação da lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo …].
Mas deixemos de lado os queixumes da Direita, porque “eles”, nas questões de poder, “entendem-se”, … são pragmáticos!. Tão pragmáticos que se dão ao luxo de [ainda] não anunciarem oficialmente o "seu" candidato.

Voltemos à Esquerda. O anúncio de uma outra candidatura, na área socialista, independentemente das qualidades pessoais e políticas do Dr. Defensor de Moura, não deixa de ser, no contexto político, mais um tiro no pé. A consagração de uma postura política fragmentária, segmentar ou a exaltação das capelas políticas, amuradas.
Todos sentimos a necessidade de promover uma discussão política alargada. As eleições presidenciais podem servir este propósito.
Mas se é essa a justificação para uma descontrolada proliferação de candidaturas à Esquerda do Prof. Cavaco porque razão não realizar uma “Convenção da Esquerda para as Presidenciais”?

E porque não alimentar a esperança de que, uma discussão política aberta e não sectária, economicamente realista [patrioticamente justa e equilibrada - socialista!], isenta de tabus sociais, à margem de peias culturais, pudesse fazer surgir um candidato congregador da Esquerda, capaz de derrotar o ainda "não-candidato" Cavaco Silva?

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