A perseguição a Sócrates e o caso Freeport

Sócrates não é acusado, arguido ou simples testemunha, nem alguma vez houve razão para o ser. Agora, definitivamente ilibado do que nunca podia ser acusado, é altura de julgar a direita que não se resigna a estar na oposição, mesmo que as urnas a afastem, porque se julga com direito divino para ser poder.

Na pressa de denegrirem o homem, de lhe assassinarem o carácter, de o perturbarem nas funções, nem admitiram que pudesse haver alguém, à espera de extorquir dinheiro, apto a invocar qualquer nome.

Os boatos passaram a verdades e as calúnias a factos. Enlameou-se o primeiro-ministro de Portugal e ninguém se indignou com a devassa da vida privada e as escutas ilegais.

À apreciação do desempenho político, dos méritos e defeitos da governação, preferiram a insinuação, a cabala e a difamação. Até os exóticos sindicatos de magistrados, cuja existência é um perigo para a democracia, revelaram sintonia com a luta política, ao arrepio da independência e neutralidade a que o sistema judicial é obrigado. Os seus representantes sindicais pareciam magistrados dos Tribunais Plenários, agora dispostos a mudarem de campo e a fazerem julgamentos na comunicação social.

A matilha esteve activa e impune nestes cinco anos, sem contraditório, com Crespos, Moura Guedes e quejandos, dedicados à intriga e difamação. Agora, perante a inocência da vítima, permanece o carácter dos carrascos. Do alarido com que acusavam passaram ao silêncio com que aguardam outra carta anónima, outra conspiração, outra denúncia ou a exumação de uma velha patifaria que não resultou.

São assim os biltres do meu país, cobardes quando se trata de defender a liberdade, impiedosos quando se escondem atrás do sigilo profissional ou no anonimato da violação do segredo de justiça para atingirem a honra e a dignidade de quem ocupa o poder pelo sufrágio.

Ninguém pede desculpa a Sócrates, ninguém se retracta, ninguém cumpre a penitência pelas piedosas mentiras engendradas nas catedrais da calúnia.

Comentários

Ricardo Campos disse…
você é professor carlos:
acha que o curso superior do socrates é legitimo?
acha que as explicações que deram são validas?

você andou a queimar as pestanas nos bancos da faculdade enquanto o socrates fazia cadeiras por fax!
bem haja!
Aurélio Estorninho:

Falamos do caso Freeport.

Não falamos, agora, de um percurso.

Mas sempre lhe digo: quem me dera ter a categoria e os conhecimentos de Sócrates.

E mais: É como político que o devemos julgar e não contaminar a apreciação com julgamentos de carácter que dizem pior de quem os faz do que de quem é sujeito.
Anónimo disse…
Gostava muito, mas muito, de ouvir o candidato Manuel Alegre pronunciar-se sobre o modo como altas entidades do Estado,

incluindo o actual venerando,

se posicionaram neste caso,

em sequencia no PT_TVI,

escutas,

enfim nesta imensa trama que agora felizmente ruiu...

Abraço
Politica canalha

Assente e aceite, baseada em lugares comuns, engodo fácil para néscios e gente amoral,
está a utilização sistemática da insídia, da calúnia, do vilipêndio para atingir adversários
políticos, vender jornais, gastar horas de televisão e, enquanto dura, promover figuras
públicas, com estatuto de «justiceiros». Algumas pessoas, que, passada a «onda»,
voltam necessariamente à vulgaridade.
São conhecidos os jornalistas, comentadores e pivôs de televisão que alimentam estes
processos.
Cientes das «verdades» insofismáveis de ditados populares como «não há fumo sem
fogo», «quem anda à chuva é que se alaga» etc., e cientes do peso que estes têm
na formação do pensamento dos mais incautos, lá estão eles sempre disponíveis,
pressurosamente disponíveis, para nos dar conta da «riqueza» do seu pensamento
enquanto arrastam a barriga pela lama, numa volúpia irreprimível.
Bom, assim é, assim será. Agora, o que não se pode esquecer e perdoar é uma
campanha política para as eleições europeias e legislativas conduzida na base
destas «técnicas» e que teve como protagonistas a anterior direcção do PSD, presidida
por Manuela Ferreira Leite e assessorada por Pacheco Pereira.

Politica canalha.

Para memória futura.
Bettencourt de Lima:

Isso não é um comentário, é um excelente post que fica, como disse, para memória futura.
ana disse…
E como não resultou (até resultou, ai de quem se atreva hoje a não falar mal de Sócrates) já estão aí na praça outra vez porque a Justiça não funciona. A Justiça só funciona quando o resultado lhes agrada. Entretanto, enlamearam o carácter de quem teve a coragem de tentar resolver os problemas deste povo embrutecido. E nada lhes acontece...
Graza disse…
Uma outra questão relacionada com este processo que raramente é abordada, é quanto nos custou a todos esta tentativa de implicar Sócrates neste caso? Para além dos custos indirectos impossíveis de quantificar relacionados com a imagem de Portugal, que soma astronómica não nos custou este processo?

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