As idiossincrasias da direita ibérica

A direita europeia preservou uma fatia de patriotas que combateu o nazi/fascismo, que se empenhou na clandestinidade, defendeu a liberdade contra o totalitarismo e discutiu com a esquerda o futuro político dos seus países, no pós-guerra. Em França e na Itália, democratas de diversos matizes combateram juntos. Morreram e foram fuzilados pela violência do totalitarismo que os atingiu, arautos da liberdade, combatentes contra o racismo, a xenofobia e o antissemitismo. Na própria Alemanha, a direita moderada quis derrubar Hitler. A direita europeia deu democratas como Churchill, De Gaulle e  De Gasperi.

A direita portuguesa e a espanhola estiveram conluiadas com as ditaduras, participaram no genocídio franquista, na guerra colonial portuguesa e na conivência com a repressão policial. Foi essa matriz genética que, passado o susto da revolução portuguesa de Abril, fez regressar as direitas ibéricas às origens. Foi a pulsão reacionária que, em Portugal, foi deixando pelo caminho os democratas que se reviam nos estatutos dos partidos da direita e se foram desencantando com os seus métodos, objetivos e ressentimentos.

De Sá Carneiro a Passos Coelho a deriva reacionária transformou os conservadores que Freitas do Amaral, Amaro da Costa, Magalhães Mota e Pinto Balsemão uniram, neste bando ignaro de ressabiados, vingativos e inaptos cujo objetivo é a desforra dos anos em que os democratas foram poder. Foi um percurso longo, quase quatro décadas de espera, até a vulgaridade se tornar currículo, a ignorância diploma e a raiva se confundir com um programa de governo.

Esta direita pode ser boçal, anacrónica e cobarde, mas tem um objetivo claro, destruir as conquistas de Abril, o Estado social e os mais essenciais direitos dos trabalhadores. Nos escombros de um presidente, um governo e uma maioria ficarão sepultados a ilusão dos que acreditaram neles e o desespero de todos.

Bastam quatro anos para tornar irreversível o desastre que nos espera.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Anónimo disse…
Não retiraria nem ponto nem vírgula neste post...
Bem haja
António Castro
e-pá! disse…
Na verdade, a situação poderá ser - na Europa - endémica.
A direita portuguesa (como a espanhola e outras) pode ser 'boçal, anacrónica e cobarde' porque, no actual contexto europeu, basta-lhe ser 'boa aluna'. Não precisa de 'inventar' nada, utiliza o sistema 'prêt-à-porter', na lógica do 'merchandising'.
De resto, a cobardia, o anacronismo e a boçalidade são atributos programáticos ditados pelo PPE, sob a batuta de uma teutónica 'locomotiva', em nome de uma sonante 'economia social de mercado', de políticas fiscais obscuras e de défices (de vária ordem) manipulados por obscenas especulações.
Basta-lhe, portanto, 'importar' todas estas 'mentiras' e vendê-las por cá por atacado ou a retalho.
A mediocridade política e a constante dissimulação partidária, capaz de transformar um partido nominalmente social-democrata numa quadrilha neoliberal, sob uma obscena perversão ideológica, tem levado o indigno amadorismo e a 'sacanice' de algumas avantesmas que por cá deambulam a esforçarem-se por 'ir para além de'(...).
Não é propriamente só uma idiossincrasia mas concomitantemente a desgraçada expressão de um radicalismo obsessivo e primário, próprio de lacaios desonestos, incompetentes e venais.

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