A oculta derrota de Schäuble…


O Parlamento alemão discutiu ontem o novo plano de intervenção na Grécia. A República Alemã exerceu deste modo as suas competências parlamentares já que se trata da gestão e aplicação dos dinheiros públicos e é natural que os representantes do povo dêem o seu aval. Para além deste acto formal de confirmação da decisão já tomada por Merkel no último Conselho Europeu o que pairou no ar foi um notório clima de tensão entre a chanceler e o seu ministro das Finanças. Nada de extremamente divergente em matéria de estratégia para a Europa mas o vulgar conflito entre o ‘mata-se’ e o ‘esfola-se’.

Schäuble, todavia, aproveitou a situação embaraçosa para dar um passo em frente. Anunciou que não haveria qualquer renegociação da dívida grega invocando ‘regras da Zona Euro’ link.

Como temos conhecimento a dívida grega já foi sujeita a um corte, em 2011 e, nessa altura, essa situação foi considerada como um ‘evento de crédito’, sem outras consequências. Aliás, o corte na dívida grega que foi efectuado não passou de uma operação de cosmética com diminutas repercussões em termos efectivos na economia servindo antes para o equilíbrio do sistema financeiro.
Por outro lado, o termo 'renegociação' (que teve origem no seio da Esquerda) foi banido do léxico burocrata. O que se ouve nos corredores de Bruxelas, e mais recentemente em Frankfurt, é o eufemismo de um ‘alívio da dívida’ (mais do agrado da Direita).

Na verdade, a Europa do Sr. Schäuble confina-se à área financeira. Visa a consolidação das instituições dessa área, prioritariamente, as alemãs. Esta política instrumental que está a ser paulatinamente ‘construída’ levará a que os acertos orçamentais e da dívida se façam à custa de uma austeridade galopante, i. e., de ‘transferências’ de capital dos bolsos dos contribuintes para o sistema financeiro europeu e internacional. Deste modo, o Sr. Scauble assume o papel de fautor e a Srº. Merkel uma mediadora com aparentes preocupações políticas e geoestratégicas. São um par inseparável.

O que se passou à volta do acordo sobre o 3º. resgate à Grécia veio expor aos europeus todo este macabro tacticismo.
O ‘suplício’ de Alexis Tsipras não terminou. Aliás, só é previsível que cesse quando se demitir (ou for demitido) sobre a pressão popular.
Os próximos pacotes terão como contrapartida o endurecimento das medidas de austeridade. E a cereja em cima do bolo será quando a Europa enfrentar a incontornável questão da reestruturação da dívida. Aí, Merkel, vai exigir nomear o próximo Ministro das Finanças grego. Um sósia de Schäuble.

O ‘alívio’ da dívida, ou da austeridade, só será possível com o do alijar pela borda fora desta camarilha que tem dirigido a Europa e o regresso aos princípios fundadores da União Europeia. Outra hipótese, já há algum tempo em marcha, é prosseguir o desmantelamento da UE. Estes são os caminhos possíveis para ultrapassar os sucessivos impasses.
As regulamentações (regras) da Zona Euro que o Sr. Schäuble ‘cria’ e evoca a seu belo prazer, não passam de um fogo-fátuo. Para aumentar a pressão, hoje, o ministro faz um braço de ferro com a chanceler ameaçando com a sua demissão link. A crise política que daí pode advir só tem um objectivo: afundar ainda mais a Grécia a partir da desestabilização europeia.

Resta bastante claro que Schäuble foi um dos derrotados na maratona negocial da semana passada. O desforço em que se empenhou revela que algo está a desfazer-se...

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